P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

Não chegou a entrar nas opções do selecionador Francisco Neto para o duplo duelo entre Portugal e Chipre, de qualificação para o Europeu, mas não tardará muito para que Maria Negrão se torne internacional A. Esta primeira convocatória, com apenas 16 anos, reforça as expectativas de um percurso marcante na equipa das quinas, ao longo dos próximos anos.

Nascida no Porto, a 23 de dezembro de 2003, Maria Pinto Negrão começou a jogar no Boavista, com apenas oito anos. Seguiram-se três épocas no Salgueiros e outras tantas no Sport Club do Porto. Só no verão de 2019 decidiu deixar o futebol misto, convencida pelo projeto do Famalicão. Trocou a segunda divisão distrital de juvenis pelo segundo escalão do futebol feminino, e os números atestam uma adaptação tranquila: marcou 18 golos em 17 jogos e festejou a subida ao principal escalão.

Foi, depois, a autora do primeiro golo do Famalicão na Liga BPI, logo na ronda inaugural, frente ao Valadares Gaia. Soma cinco golos em doze jogos, esta época (entre Liga e Taça), e nem a expulsão deste domingo, frente ao Fiães, mancha o rendimento que tem apresentado, apesar da idade.

Poucas dias antes o Famalicão tinha assumido a liderança isolada da Zona Norte, ao vencer em Braga, num jogo em que Maria Negrão teve a oportunidade de defrontar a sua referência nacional, Dolores Silva, e aproveitou para mostrar os argumentos que fazem dela um dos maiores talentos do futebol feminino.

Para além da qualidade técnica, Maria revela uma maturidade invulgar para a idade, ainda para mais se tivermos que as lacunas da formação no futebol feminino, apesar da evolução dos últimos anos. Apaixonada por matemática, a jovem jogadora gosta de transportar para o campo esta ciência que o pai leciona, nomeadamente pela forma como interpreta o jogo, como calcula todas as intervenções.

Embora também possa jogar a partir de uma ala, Maria Negrão destaca-se sobretudo na posição 10. É uma jogadora que define muito bem, tanto no passe como na finalização, mas que mostra também um rigor tático louvável, patente na forma como se comporta sem bola. A tal ponto que, apesar da diferença que faz no último terço, não é assim tão difícil imaginá-la a jogar um pouco mais recuada no terreno.

Com 18 golos em 35 internacionalizações, entre sub-15 e sub-17, Maria Negrão já tem um registo assinalável na Federação Portuguesa de Futebol, mas agora espreita a estreia na Seleção A. É um dos nomes que pode catapultar a equipa das quinas para outros patamares, nos próximos anos, e com perfil para envergar até a braçadeira.

[foto e vídeo: FPF]