Jackson Martínez, Vítor Bruno e Nicolas Gaitán. A votação para melhor jogador da Liga no mês de dezembro encerrou uma grande surpresa com a inclusão do jogador do Penafiel entre o melhor marcador da Liga e aquele que, para muitos, é o melhor jogador do líder Benfica.
 
Vítor Bruno, de 25 anos, está em época de estreia na Liga, depois de ter sido uma das figuras da campanha que levou o Penafiel até ao escalão maior do futebol nacional, oito anos depois da última presença.
 
Aliás, na temporada passada, já tinha recebido por três vezes o prémio de Jogador do Mês da II Liga. Este, mesmo sendo apenas uma «medalha de prata», tem um sabor mais especial. É o próprio Vítor Bruno quem o admite, em conversa com o Maisfutebol.
 
«Recebi a notícia através da minha namorada e foi, naturalmente, uma alegria muito grande. Era algo que eu queria atingir sabendo as dificuldades que tinha de enfrentar. Já tinha recebido três vezes o prémio de melhor jogador da II Liga, mas este, apesar de ser um segundo lugar, tem um sabor diferente. Encaro como se fosse primeiro», frisa.
 
Referindo ser «um grande motivo de orgulho» figurar entre jogadores do calibre de Jackson e Gaitán, o jogador, formado no FC Porto, admite também ter ficado algo surpreendido. Não por duvidar do seu valor mas porque não é comum que jogadores de emblemas de ambições modestas, como o Penafiel, atual penúltimo classificado da Liga, figurarem nestes prémios.
 
Os números de Vítor Bruno em 2014/15

«Mediante as exibições que fiz em dezembro, sabia que poderia acontecer, mas não posso esconder o que é a realidade: normalmente são os jogadores dos três grandes que ganham», sublinha.
 
E depois explica porquê: «Para nós é muito mais difícil conseguirmos mostrar-nos. Quem assume o jogo tem mais probabilidade de se fazer notar e é por isso que os jogadores dos grandes estão quase sempre em destaque. Para nós, que temos de jogar de outra forma, é mais complicado.»
 
«Fiquei mais surpreendido por ser uma distinção para um jogador do Penafiel do que por ser para mim», assume.



«Há cinco anos, ninguém dava nada por mim»
 
No mês de dezembro, Vítor Bruno foi totalista em três jogos da Liga. O Penafiel não perdeu nenhum, naquela que foi a melhor série da temporada. Bateu Arouca, fora, e Nacional, em casa, e empatou no reduto da Académica.
 
Não marcou, mas frente ao Nacional, por exemplo, assistiu Quiñones para o golo que abriu o marcador na vitória por 2-1. Em Arouca, a trave negou-lhe um golaço.
 
Pormenores de alguém que começou como extremo mas que tem sido, para Rui Quinta, um lateral esquerdo. «Para mim é indiferente. Quero é jogar», atira.
 
Faz sentido. Afinal, falamos de alguém que quando terminou a formação nos juniores do FC Porto, em 2009, numa equipa que tinha Josué, Abdoulaye, Ivo Pinto, Diogo Viana ou Pedro Moreira, acabou por ir parar ao Candal, equipa Gaiense da extinta III Divisão Nacional.
 
Subiu um escalão na época seguinte, chegando ao Ribeirão, e de lá, após mais um ano, saltou para Penafiel, onde pegou de estaca. Um percurso que muito o orgulha.
 
«Tirei este dia para refletir sobre isto e quando olho para trás e vejo tudo o que passei, a sensação que fica é que tudo valeu a pena. Há cinco anos estava na III Divisão. Ninguém dava nada por mim», comenta.
 
Esta distinção acaba por ser um objetivo atingido para Vítor Bruno, que avisa, contudo: «Isto não é nada comparado ao que eu quero para mim. Ainda assim é positivo claro. Sinto que valeu a pena muita coisa.»
 
«Poucos sabem mas fui operado na pré-época»
 
Vítor Bruno soma 16 jogos esta temporada, entre todas as competições. Na Liga soma minutos de forma consecutiva desde a 8ª jornada, agarrando o lugar no onze, curiosamente, na pior derrota da temporada: a goleada caseira (1-6) frente ao Sp. Braga.
 
O início foi mais difícil. Apenas 45 minutos, em duas aparições, nas sete primeiras jornadas. Há, contudo, motivos que explicam o arranque tímido. 

«Poucos sabem, porque de certa forma foi ocultado, mas fui operado durante a pré-temporada e isso reduziu-me um pouco as minhas capacidades físicas. Sinto que posso fazer muito mais», garante.
 
Isto num ano que ainda é de adaptação a uma nova realidade, pois nunca tinha jogado na Liga. «O jogo é distinto», comenta.
 
«Há mais velocidade e sabemos que uma desconcentração dá golo ou, no mínimo, uma oportunidade flagrante para a outra equipa. A grande diferença é mesmo a qualidade individual dos jogadores, que não nos deixa ter o mínimo deslize», opina.
 
Por fim, Vítor Bruno esquece o individual e dá destaque ao coletivo, quando questionado sobre as ambições para o resto da temporada.
 
«A nível de objetivos tenho de referir o coletivo, que é assegurar a manutenção. Não posso, de forma alguma, ficar ligado a uma descida de Divisão. O meu grande objetivo é ajudar a estabilizar o Penafiel na Liga», remata.