No mínimo insólito: o Penalva Castelo apurou-se para a segunda fase da III Divisão com um golo de penalty... ao 14º minuto do período de descontos. Ora de tão invulgar que foi, cresceu para a polémica. José Carlos Silva, o árbitro do jogo, sente-se indignado. «As suspeitas provocam-me uma enorme revolta.»
Penalty no 14º minuto de desconto dá apuramento na III Divisão
É verdade que expulsou dois jogadores do São João de Ver, que deu catorze minutos de descontos e que marcou um penalty no último deles, um penalty que deu o empate e o apuramento do Penalva do Castelo para a segunda fase da competição. Mas foi tudo feito na mais pura das consciências, jura o árbitro.
«O que eu fiz foi defender a verdade desportiva e a honra da arbitragem. Quem defende esta actividade como eu faço até ao limite, tem de ficar muito indignado com isto», acrescenta, revelando ter passado «por coisas muito graves no final do jogo», coisas essas «que foram presenciadas por muita gente.»
«O que eu mais queria neste momento era poder defender-me», adianta em conversa com o Maisfutebol. «Mas não posso.» Não pode, lamenta, porque o Conselho de Arbitragem da Federação não deixa: os árbitros são proibidos de falar das jogadas dos jogos e das decisões que tomam. «Mas gostava de poder explicar.»
Um suposto dirigente indignado...
Fica por ouvir a justificação para catorze minutos de descontos, ou para o penalty no último deles. Curiosamente quem também gostava de ouvir o árbitro era Virgílio Oliveira, presidente do São João de Ver. «A consciência dele é que pode dizer o que lhe passou pela cabeça, mas aconteceram coisas muito estranhas.»
A lista de reclamações é longa, muito longa. Tão longa, aliás, que o dirigente da equipa da casa nem percebe por que razão o árbitro saiu a correr para os balneários assim que o jogador do Penalva transformou a grande penalidade do empate. «Até abandonou os assistentes, sem que ninguém tivesse invadido o relvado», refere.
«As pessoas estavam revoltadas, mas ninguém o ameaçou. O que acho curioso é que um próprio dirigente do Penalva, que era delegado ao jogo, me tenha vindo dizer que estava envergonhado. Disse que nunca tinha visto nada assim, que o clube não tinha nada a ver com aquilo e que se ia embora indignado.»
... que afinal é mentira. MENTIRA!
Ora indignada foi a resposta do Penalva do Castelo. «É mentira. Men-ti-ra. Uma enorme falsidade», diz o vice-presidente Guilherme Barros. «O delegado ao jogo fui eu. Nem eu, nem ninguém falou com esse senhor. Não há nenhum fundo de verdade nisso. Até digo mais: o árbitro fez uma excelente arbitragem.»
O dirigente frisa que «não havia razão nenhuma para o São João de Ver proceder como fez com o árbitro.» «As paragens para assistir o guarda-redes somaram doze minutos. Se algum erro o árbitro cometeu, foi num livre indirecto contra nós, em que há um corte e ele considera que é atraso para o guarda-redes.»
De acusação em acusação, a história parece não ter fim. Por isso talvez seja bom voltar ao início, para a encerrar. Voltar ao árbitro, claro. «Se a polémica me afectou? Não, não afecta. Já tenho muitos anos disto e sei lidar com estas coisas. Quando voltar a um campo para apitar, isto tudo já passou.»