A viagem do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, à China, no final deste mês, destinava-se essencialmente à discussão de políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável, mas os recentes acontecimentos no Tibete colocaram o tema na agenda do português. Barroso prometeu esta segunda-feira em Lisboa ser firme com o gigante asiático, adiantando, porém que este país não pode ser isolado.

Numa conferência na Universidade de Lisboa sobre a Europa e os desafios da globalização, perante uma assembleia composta maioritariamente por alunos e professores do curso de Estudos Europeus, Durão Barroso foi questionado sobre a forma como a União Europeia (UE) se relaciona com algumas das potências emergentes. Sobre a China, o antigo primeiro-ministro português explicou que no diálogo com Pequim, onde vai estar no dia 24 e 25 de Abril, os direitos humanos não serão relegados para segundo plano.

«Mantemos sempre no diálogo os valores e os princípios europeus», disse o presidente da Comissão Europeia. Mas apesar de prometer firmeza argumentou que esta não pode ser usada sem cautelas. «No que diz respeito à China, penso que devemos ser firmes neste diálogo, mas não se pode ter a ilusão de que se pode isolar a China, porque é o maior país do mundo e nós precisamos da China para os grandes dossiers globais».



No diálogo com o gigante asiático, o português explicou o que vai transmitir ao regime de Pequim que «o mundo olha para a China e quer saber se é uma ameaça ou uma oportunidade». «Nós queremos que seja uma oportunidade», apontou.

Sem colocar em causa a organização das olimpíadas na capital chinesa, Durão referiu-se, porém, à necessidade de estas não serem realizadas sob o espectro da violação dos direitos humanos. «Se os Jogos Olímpicos são uma grande comemoração era importante que se desenrolassem num ambiente de festa e não de tensão ou de repressão. Esta é a mensagem que vamos transmitir aos chineses».

Turquia, uma adesão que se joga na opinião pública

Antes de ir à China, Durão Barroso vai viajar até à Turquia, país que gostaria de ver integrar a UE. Contudo, esta é uma adesão que, segundo o seu ponto de vista, não depende apenas de um percurso político e diplomático, mas também da conquista da opinião pública europeia.

«É um grande desafio, que não se ganha apenas do ponto de vista diplomático, mas tem que ser ganho com as opiniões públicas», disse com uma explicação: «Temos que convencer a Turquia que é do interesse deles responder a todos os padrões europeus, mas os turcos também têm de convencer a Europa que é do interesse da Europa integrar a Turquia e isso ainda não foi conseguido. Há vários países, entre eles alguns de maior dimensão, cuja opinião pública é definitivamente contra a adesão».

O português defendeu que o importante, para já, é manter «o processo de negociações». Mas explicou que o seu ponto de vista «a Turquia pode vir a ser membro da União Europeia se respeitar todos os critérios da UE», realçando que este país faz parte do Conselho da Europa, da NATO, e que «é muito melhor que esteja dentro do que fora».

Sobre outras futuras adesões à União, Durão apontou para os Balcãs, referindo que «a Croácia será o 28 membro da UE», mantendo a expectativa de novas adesões à resolução do problema do Kosovo. A Turquia fecha esta lista de candidatos, com o presidente da Comissão Europeia a afastar a possibilidade de que o desejo da Ucrânia em unir-se ao bloco europeu seja levado em diante, tal como afastou a possibilidade de que a UE possa chegar a Israel.