«São os dois melhores treinadores com quem trabalhei». Leandro Tatu fala de Vítor Pereira e Leonardo Jardim com mais certezas que hesitações. Conhece-os como poucos, pois trabalhou com os dois. E guarda saudades: «Não me importava de trabalhar com qualquer um deles outra vez.»

Conheceu Vítor Pereira primeiro, no Santa Clara, em 2009. Na temporada passada bebeu da sabedoria de Leonardo Jardim no Beira-Mar. O Maisfutebol falou com o actual avançado do Steua Burareste, na Roménia, para perceber como foi o tempo de convívio com os rivais do próximo domingo.

F.C. Porto pode chegar aos 50 jogos sem perder

«A grande semelhança está na motivação que transmitem para os jogadores. Aí, não consigo dizer qual é melhor. Naquela última conversa antes dos jogos são muito fortes. Têm discurso ambicioso, dão tudo para vencer », descreve.

As diferenças surgem no treino, primeiramente. «Acho que os treinos do Vítor Pereira tinham mais qualidade, mais dinâmica. É mais perfeccionista, mais atento aos detalhes. O Mourinho falava muito disso, por exemplo, dos exercícios em cadeia, tudo planeado. E o Vítor era assim. Dizíamos, em brincadeira, que eram os melhores treinos da II Liga. Até para beber água tínhamos o tempo cronometrado», revela.

Leonardo Jardim distinguia-se no cara a cara com o jogador: «Era mais directo. O Vítor era mais comedido».

«O Leonardo dizia tudo o que tinha a dizer no final de cada jogo. Ele vai ao fundo nos erros, encara o jogador e diz-lhe o que foi mal na cara. Senti esse impacto porque nunca tinha trabalhado com um treinador tão directo.»

Vítor Pereira é mais falador, mas sem exageros

A forma de Leonardo Jardim abordar os jogadores chegava a ser «seca» admite Tatu. Mas funcionava. «Os jogadores sabiam que tinham de dar tudo. No Beira-Mar havia vários jogadores que já tinham trabalhado com ele no Chaves e eram cobrados ainda mais. Ele dizia: «Já se esqueceram? Vocês não têm desculpa. Vamos voltar a colocar o chip!»», explica, garantindo que ficava logo ali decidido o que ia mudar para o próximo jogo.

Leonardo Jardim: nascido para treinar

Fora do relvado, são parecidos. A relação de ambos com os jogadores não era efusiva, nem distante. «O Leonardo Jardim é mais calado. Fala mais de jogo e de treino. Mas o Vítor Pereira também não é tão próximo assim», esclarece.

Ainda assim, a forma de ser dos treinadores permite-lhe traçar um chavão que funciona como resumo: «Apesar das diferenças no treino, acho que o Leonardo Jardim é mais razão, o Vítor é mais coração.»

Jardim e uma comparação com...Villas-Boas

Vítor Pereira e Leonardo Jardim começaram o campeonato com alguns pontos de interrogação sobre a cabeça. O primeiro chegava ao F.C. Porto sem experiência na Liga. Jardim herdava o Sp. Braga a viver a melhor fase da história. Apesar do campeonato regular, nenhum brilha intensamente. Domingo pode ser um dia chave para ambos.

Para trás ficavam duelos em palcos menores. Três, no total. Vítor Pereira ganhou um Espinho-Camacha, em 2006. Quando Beira-Mar e Santa Clara se defrontaram, na temporada 2009/10, deu sempre empate. Leandro Tatu via futuro para ambos.

«Basta recuar a cassete. Quando estava no Santa Clara estavam sempre a dizer que o Vítor Pereira podia sair para um clube da I Liga. E no Beira-Mar o Leonardo Jardim foi logo associado ao F.C. Porto. Até o Pinto da Costa o elogiou», lembrou.

Para o final fica uma mágoa: a forma como Jardim deixou o Beira-Mar. Ou melhor, o momento. «Fizemos uma grande primeira volta, pensava que até podíamos lutar para ir à Europa. Ele saiu de um momento para o outro. Olhe, percebo bem o que os jogadores do F.C. Porto sentiram quando saiu o Villas-Boas», atirou, entre risos.