Uma seleção com superestrelas em sub-rendimento, alterações a mudar a base e o que se tinha edificado até aqui a cair quase por terra por um abalo num dos pilares mais fiáveis desta seleção. Portugal garantiu o play-off de acesso ao Mundial 2014. Feitas as contas, é o lugar que merece. Não só pela matemática que nos assegura a fase seguinte, mas também pelo rendimento. Ainda dá para passar a Rússia e apanhar voo direto para o Brasil. Mas é preciso mover uma montanha inteira e ter mais fé que os mais fiéis dos crentes. Portugal sai de Alvalade com um empate 1-1. Foi melhor que Israel? Sim, foi. Mas não o suficiente para se colocar a salvo de um azar qualquer, de um pontapé desastrado como aquele de Rui Patrício.

É verdade que esta era meia seleção. Ou melhor, era meio onze. Paulo Bento estava obrigado a mudar muitas peças. Mexeu na defesa, no meio-campo e no ataque. Castigos e lesões assim ditavam. André Almeida estreou-se, Ricardo Costa apareceu surpreendentemente no lugar que é de Bruno Alves e que foi de Luís Neto. Antunes sabia-se que jogava na esquerda. Incrivelmente, o 1-0 foi obra de três defesas: Antunes, Pepe e Ricardo Costa. Incrivelmente também, foi Patrício, o santo da casa, a errar fatalmente.

O primeiro remate de Ruben Micael logo aos quatro minutos de jogo lançou a partida. Um pouco em falso, porque esta, viu-se cedo, não era uma noite intensa para a seleção. Faltou-lhe agressividade e rapidez para dar continuidade àquele remate do madeirense. Faltou-lhe Nani, faltou-lhe Ronaldo. Num dia em que várias caras mudaram no onze português, aqueles que podiam mostrar aos outros como era estiveram demasiado longe do jogo. Ronaldo perdeu-se em zona interiores, Nani foi quase inconsequente no lado direito. Finta após finta, mas depois inconsequente no passe.

Ainda assim, antes do 1-0, Portugal já tinha ameaçado a baliza de Aouate. Mas sempre com ações muito espaçadas, com um remate de Ronaldo aos 19 minutos, um outro disparatado de Micael para a bancada e, por fim, com este último dos madeirenses a obrigar o guardião de Israel a defender para canto.

Ali nasceu o 1-0. Antunes ao segundo poste, Pepe para o meio e Ricardo Costa na zona de ponta de lança a desviar para golo. O mundo ao contrário, portanto.

E o mundo ao contrário porque até João Moutinho, tantas vezes regular, tantas vezes o maior destaque, teve um jogo mau.
Sim, Moutinho teve um jogo mau. É preciso dizê-lo, marcar a data. Infelizmente para a seleção, isso aconteceu na mesma noite em que não havia Coentrão para desequilibrar na ala esquerda, na noite em que Ronaldo fez poucos remates à baliza, na mesma noite que não houve João Pereira a apoiar o ataque de Nani.

O 1-0 estava bem, porém. Israel tinha feito um remate cruzado, sem grande perigo. E se estava obrigada a ganhar, imagine-se o que terá sido o intervalo no balneário visitante.

Não é fácil escrever sobre Israel. Pelo futebol que tem e sobretudo quando se quer usar metáforas bélicas. É um assunto delicado para qualquer cronista. Mais complicado fica quando Portugal recebe dois avisos de entrada no segundo tempo e não se apercebe do perigo que corre.

Uma bola parada foi o que a seleção fez de melhor entre o golo, aos 27 minutos, e os 60, quando o autor do 1-0 atirou por cima.

Portugal estava em piloto automático. Paulo Bento percebeu e achou que ia a tempo de mudar. De facto, a seleção melhorou ao mesmo tempo das substituições. Josué quase descansava o país, enquanto Nélson Oliveira irritava Ronaldo ao tentar um chapéu. Em oito minutos, Portugal rematou quatro veses. Josué, Nélson Oliveira, Moutinho e Antunes. O médio do Mónaco soltou-se por instantes e, assim que isso sucedeu, o 2-0 ficou próximo.

É verdade que nada fazia prever o que aconteceu a seguir. Erro tão incrível de Patrício que minutos depois do jogo ter terminado ainda parece inacreditável: golo de Ben Basat, a calar um estádio até ao apito final.

O segundo lugar ninguém nos tira. É nosso. Mas mesmo com uma equipa «remendada», a seleção devia ter saído de Alvalade com outra exibição e resultado. É segunda no grupo. Não conseguiu vencer uma seleção como Israel duas vezes na qualificação. Para alimentar sonhos, é preciso lutar por eles. E nesta noite, houve uma equipa em sub-rendimento. Demasiadas baixas? O Muro das Lamentações não é aqui.