Melhor defesa da Major League Soccer (MLS) em 2013 e, assim, presente também na equipa do ano do campeonato de futebol dos Estados Unidos, José Gonçalves é, provavelmente, o português que neste momento melhor conhece as qualidades e defeitos de um dos países adversários de Portugal no Campeonato do Mundo do próximo ano. E conta porque estão os EUA satisfeitos com o sorteio.

O defesa dos New England Revolution revela ao Maisfutebol como jogam os norte-americanos e conta que os EUA são uma seleção cheia de «confiança» afirmando que o ponto de partida dos portugueses deve ser «não subestimar» o atual 14º classificado do ranking da FIFA. A «esperança» de ser um desses portugueses existe «sempre» no espírito de um jogador que esteve nos pré-convocados para a o Mundial da África do Sul.

José Gonçalves foi emprestado ao clube de Boston em janeiro pelo Sion (o internacional sub-21 português, agora com 28 anos, também tem nacionalidade suíça) e confessa que «não esperava» ter tido um desempenho como o que conseguiu numa época começada em março e terminada em novembro: «Quando fui para os Estados Unidos sabia que ia ser um campeonato diferente e precisava de tempo para adaptar-me. As coisas correram bem, fiz bons jogos e o clube também ajudou.»

«Gosto de ter mais responsabilidade»

Defesa central alto e rápido (que também pode jogar na esquerda), José Gonçalves pegou de estaca na defesa dos New England Revolution. E nunca mais saiu. De todo. O número 23 da equipa dos Revs jogou todos os 3270 minutos dos 36 jogos da equipa de Boston na época (34 da fase regular e dois nos play offs – o último com prolongamento). Gonçalves cometeu 36 faltas – média de uma por jogo – e viu apenas três cartões amarelos – tendo marcado dois golos.

A sua importância para a equipa valeu-lhe inclusivamente a braçadeira de capitão dos Revs. «Foi uma coisa muito boa ser capitão. O clube dá muita confiança. E temos também de dar confiança aos colegas de equipa, temos de dar mais responsabilidade. Eu gosto de ter mais responsabilidade como jogador», garante José Gonçalves explicando que o segredo do desempenho conseguido «é mental».

«Eu queria fazer um campeonato muito bom, jogar os jogos todos, para ser o melhor em campo. Queria estar a 100 por cento e mentalmente precisava de ser mais forte. Não queria lesionar-me, precisava de não cometer muitas faltas, ter cuidado nos jogos e não ser suspenso por cartões», explica o defesa que já passou por campeonatos da Suíça, Alemanha, Itália, Lituânia e Escócia.

A experiência que trouxe ao plantel dos Revs e qualidade defensiva obtida – a equipa sofreu menos seis golos do que no ano anterior (e neste ano chegou aos play offs) – foram reconhecidas pelo clube que exerceu a opção de compra ao Sion no final de novembro. Isso não quer dizer, porém, que o futuro de José Gonçalves em 2014 já esteja definido em absoluto. «Não podemos dizer a 100 por cento que vou ficar. Agora, eu e o clube temos de chegar a acordo», revela o jogador explicando que o que já ficou consumado foi entre emblemas. «Estou contente com este ano em Boston, mas
estou a ver o que é importante para mim, para a minha família. Estou a tentar chegar a acordo», explicita.

José Gonçalves recebeu o prémio de Homem do Ano dado pelos adeptos



Quando representou o Hearts, José Gonçalves foi chamado por Carlos Queiroz para o grupo de pré-convocados para o Mundial 2010. O defesa que esteve no Euro 2007 sub-21 assume que a esperança de voltar a vestir a camisola de seleção portuguesa mantém-se viva. «Esperança tenho sempre. Sempre foi meu objetivo», confessa.

«Mas, para jogar na Seleção, há que trabalhar muito duro, trabalhar a um nível alto porque a equipa tem muitos bons jogadores», admite José Gonçalves consciente de que não é a mesma coisa jogar na Europa ou nos Estados Unidos. Estar num campeonato de um país cuja seleção vai defrontar Portugal no Mundial 2014 pode, no entanto ser útil para todos. «Conheço vários jogadores que jogam neste campeonato. Isso pode ser uma vantagem», reconhece.

Um dos internacionais dos EUA que o defesa português conhece bem é o seu companheiro de equipa Juan Agudelo. «Ele é grande, forte, mas é muito técnico. Joga na esquerda, na direita, a número nove, tem boa visão de jogo, tem muita fantasia. A qualquer momento pode fazer como Nani ou Ronaldo. É um jogador bastante rápido, aguenta a bola muito tempo, é um dos atacantes que alia melhor o físico à técnica e à velocidade», diz o defesa central sobre o avançado de 21 anos dos Revs.

José Gonçalves afirma que «Portugal vai encontrar uma equipa fisicamente forte, do tipo inglês», ou como «uma equipa alemã». O defesa dos Revs lembra que o selecionador dos EUA é alemão e que Jürgen Klinsmann «deixa os americanos bem preparados fisicamente». «Portugal é ofensivamente mais forte, vai ter mais posse de bola», analisa Gonçalves, mas explica também que os EUA «não vão ter problemas em ver Portugal jogar, em não terem a mesma posse de bola».

Os norte-americanos «vão procurar os contra-ataques» para servir «Clint Dempsey e Eddie Johnson», os dois avançados dos Seatle Sounders, com destaque para o último, um «atacante rápido». «A defesa dos EUA não tem muita experiência no plano internacional», diz Gonçalves tendo como exemplo os centrais Omar Gonzalez (LA Galaxy) ou Matt Besler (Sporting Kansas City). Os norte-americano procurarão, assim, «andar com a bola lá na frente». E «a bola irá sempre parar nos pés de Dempsey, o número 10, ou no médio da Roma, o [Michael] Bradley, ou no [médio ofensivo] Graham Zusi», explica em pormenor: «Setenta por cento do jogo passa por ali.»

«Americanos estão contentes com este grupo»

José Gonçalves afirma que os EUA estão conscientes de que calharam num «grupo difícil, com Portugal e Alemanha» e considera que são «a equipa com menos experiência». «Mas não podemos facilitar. Eles vão ter muita gana, são jogadores que estão com muita garra», revela o defesa português: «Os Estados Unidos foram os primeiros na qualificação e fizeram-no com tranquilidade. É uma equipa que tem confiança e que vai entrar com essa confiança. Não podemos subestimar os Estados Unidos.»

O central português dos Revs conhece-os como poucos porque joga lá. E também por isso terá sido dos primeiros portugueses a sofrer a pressão dos norte-americanos. «Os meus colegas mandaram-me mensagens nas redes sociais, a meterem-se comigo, a dizer que esperavam que eu não fosse traí-los», diz a rir-se. «Agora, os fãs, dizem que vai ser difícil», refere o jogador dos Revs contando que «os americanos falam de um dos grupos mais difíceis do Mundial».

Não obstante, «eles estão contentes porque vão jogar contra grandes equipas». «Este é o momento de jogar contra grandes equipas para dar valor ao trabalho feito», aponta José Gonçalves frisando que «os jogadores americanos ficaram muito contentes por defrontar o melhor jogador do mundo, o Ronaldo, e a Alemanha, que tem os jogadores do Bayern». Motivação não falta aos EUA. «Eles acreditam que podem passar», conclui José Gonçalves.