«Nunca se deve dar uma bola como perdida», por Charly Berlocq

Assim se pode ler no site de Carlos Berlocq, o tenista argentino que ganhou a 25ª edição do Portugal Open. E foi com estes contornos que assim aconteceu neste domingo. Berlocq, que entre vários cognomes, é conhecido como o gladiador de Chascómus fez jus a este título dando a volta a uma derrota por 6-0 no primeiro set para ir buscar a vitória no torneio português triunfando nas duas partidas seguintes por 7-5 e 6-1.

A vítima desta capacidade de luta de quem nunca desiste foi (nem mais nem menos) do que Tomas Berdych, o grande favorito para esta final. O que ainda valoriza mais o feito de Berlocq, pois, o argentino, atual 62º do ranking, acabou por dar um set a zero de avanço ao sexto mais cotado do mundo.

E, o próprio Berlocq, admitiu, no final que tudo esteve perto não conseguir ser fiel ao seu mote: «Há muitos anos que não me sentia tão mal no court. Senti que estava muito complicado ganhar cada ponto. O 6-0 foi muito difícil para mim. Estava com medo de perder 6-0 e 6-0, mas demonstrei, mais uma vez, que posso sair desses pensamentos e tenho de estar orgulhoso por isso».

Berdych foi o último a sentir na pele esta vontade de vencer. E foi o primeiro a reconhecer logo após a derrota o «grande lutador» que tinha enfrentado. No seguimento daquela frase que preside á atitude de Charly Berlocq, o argentino ilusta com um vídoeo do Youtube que «não importa que o número 1 jogue um drive em cima da rede» por que «é preciso correr a todas as bolas».



Esta acaba por ser a face mais visível de Charly Berlocq, porque a mais difundida pelos meios de comunicação. Mas não é a única. O tenista argentino joga desde os 9 anos. E não teve uma vida, nem uma carreira fácil; especialmente no plano financeiro. Teve ajuda. Agora, também ajuda sempre que pode.

Filho de um eletricista e de uma cabeleireira, Charly enfrentou com dificuldades os custos que uma carreira de tenista impõe ao próprio bolso. «É muito difícil para uma família de classe média, e ainda mais para uma família numerosa de cinco filhos, poder proporcionar as condições necessárias para se ser um desportista, sobretudo na altura da formação (como infantil e juvenil)», escreve no seu site.

Charly Berlocq não se esquece de frisar os «muitos sacrifícios» dos seus pais Carlos e Esther para que ele «tivesse todas as oportunidades» para «chegar onde está hoje» quando ainda havia mais quatro irmãos de quem cuidar. O argentino não se esquece dos apoios que se estenderam aos vizinhos: «Algumas vezes, os amigos, os vizinhos e parte da família chegaram a organizar rifas para ajudar a continuar o sonho, que era ser tenista profissional.»

Charly chegou a profissional em 2001, já há 13 anos. Há dois anos chegou a 37º do mundo. Neste domingo ganhou o segundo torneio ATP (depois de se ter estreado em Bastad, na Suécia, no ano passado). Mas «até há muito pouco tempo, e mesmo sendo profissional durante muitos anos, não foi fácil viver do ténis«. «Hoje, graças a Deus, esse sonho encontra-se cumprido, garante.

Na consagração no court central do Jamor, despois de ganhar o mais importante troféu da carreira aos 31 anos, e um cheque de 78 mil euros, Charly Berlocq não se esqueceu desde logo de dedicar a vitória no Portugal á sua mulher e aos seus dois filhos. Assim, como o seu Facebook o mostrou.




E Charly não esquece também todas as outras ajudas que teve, nem da restante família, dos amigos ou dos vizinhos e revela ter participado em «várias ações de beneficência (sobretudo na sua terra natal de Chascómus, província de Buenos Aires)» dando como exemlo a doação de alimentos à sociedade protetora de animais ou as aulas de ténis «aos mais pequenos». E dá uma garantia: está «comprometido na luta contra a pobreza porque sabe o que é «a pobreza, o desemprego e a falta de oportunidades».