Se Portugal não conhecesse esta selecção até devia ficar preocupado. Havia justificações para isso, pelo menos. As Esperanças nacionais jogaram francamente mal e perderam fracamente bem. Como já se sabe que não se pode levar muito a sério esta equipa, há que manter a esperança. Os exemplos recolhem-se num futuro recente e servem para deixar bem presente que esta formação vale muito mais do o que mostrou esta noite em Melgaço. Os rapazes de José Romão já por mais do que uma vez mostraram que só sabem jogar sob pressão. Parece um predicado indispensável. Se o clima é de euforia, comprometem, se o clima é de descrença generalizada, transcendem-se, calam as críticas e provocam sucessivas manifestações de esperança no futebol nacional.

Basta recordar. Perderam em casa com a Turquia, vendo-se obrigados a ganhar na Inglaterra para garantir um lugar nos play-off de apuramento para o Europeu. Foram à Inglaterra vencer quando já ninguém, à excepção deles próprios, acreditava no milagre. Perderam em Guimarães com a França, no play-off, vendo-se obrigados a ir vencer em território gaulês. Frente àquela que é considerada a melhor escola de formação da Europa, os jovens portugueses arrancaram uma exibição de gala, calaram o chauvinista público francês, ultrapassaram a descrença nacional e garantiram um lugar no apuramento. Alguém, depois de tudo isso, é capaz de arriscar que esta derrota pode significar alguma coisa para o Europeu?
É só para enganar?
A exibição nacional, esta noite, e frente a uma das mais fortes (se não mesmo a mais forte equipa jovem da Europa), foi realmente má de mais. Começou logo da pior forma, permitindo (a palavra é mesmo essa) um golo aos trinta segundos. João Paulo falha o corte, abre-se uma auto-estrada na defesa nacional que Pinzi aproveita para fazer o primeiro golo. A partir daqui nunca mais Portugal se levantou. A Itália fechou-se sobre o seu meio-campo, abdicou dos três centrais que fazem escola nas selecções transalpinas, reforçou a intermediária com cinco homens (dois dos quais mais recuados) e manteve sempre a equipa nacional desperta para a velocidade que colocavam no contra-ataque. Uma estratégia, resumindo, à italiana.
Ora frente a uma equipa que é a antítese do futebol latino, uma equipa que é a excepção que se diz existir em todas as regras, alérgica a rodriguinhos e calculista até dizer chega, Portugal foi incapaz de abrir espaços para atacar a baliza de Amélia (o único dos onze iniciais que não é titular na equipa onde joga). A selecção nacional até tinha maior domínio de jogo, mais posse de bola, mais iniciativa atacante, mas tudo isso se desvanecia na incapacidade de criar perigo. Dois ou três remates de longa distância, pouco menos que estéreis, foi mesmo o melhor que conseguiu. Com o tempo, e aproveitando mais duas falhas portuguesas (Cadú e Moreira), a Itália, sempre tão disposta a viver do mal dos outros, fez mais dois golos e terminou com o jogo.
Sucederam-se então as substituições, como sempre acontece o encontro desfigurou-se, Portugal manteve mesmo assim a bola mais perto da área adversária e numa das muitas iniciativas atacantes acabou por marcar. Por uma vez ultrapassou a defesa italiana. Sobra sempre a dúvida se não seria diferente com mais rompedores a acompanhar Quaresma na frente, com Cristiano Ronaldo, Postiga ou Danny, se não seria diferente com Tiago ou Carlos Martins no meio-campo, se não seria diferente com Ricardo Costa e Bruno Alves no centro da defesa. Mas sobra sobretudo a certeza que este jogo não deve servir de amostra. Nenhum deve.