A Suécia esteve a dois golos de ser cabeça de série no sorteio do play-off para o Mundial. Não foi, e saiu-lhe o «pesadelo», como escrevia o jornal «Aftonbladet». Ou «o pior cenário», na análise do «Svenska Dagbladet». Falam de Portugal.

Foi assim a reação na Suécia. Anders Svensson, o jogador mais internacional de sempre pela seleção sueca, veterano de uma seleção de jogadores com muita experiência, até contou que soltou vários impropérios «que não podem ser repetidos na televisão» quando viu o que o sorteio lhes reservou.

Fredrik Soderstrom, antigo internacional sueco e ex-jogador de V. Guimarães, FC Porto e Sp. Braga, hoje retirado e empresário de jogadores, contou ao Maisfutebol que foi esse o sentimento que ouviu um pouco por todo o lado. «Aqui quase todas as pessoas ficaram dececionadas por ter calhado Portugal. Ficaram um pouco tristes», diz Fredrik, que faz questão de manter toda a conversa em português. Não esquece.

Portugal era a equipa melhor cotada entre as oito que entraram para o sorteio. Mas foi por pouco que a Suécia não ficou no mesmo pote. Culpa da Alemanha. Tudo se decidiu na última jornada de qualificação. Bastava um empate à Suécia, que não tinha Ibrahimovic, a cumprir o castigo que garantirá que podem contar com ele no play-off, para ser cabeça de série. Jogava frente à «Mannschaft» já apurada e com o primeiro lugar garantido. E durante quarenta e dois minutos tudo corria bem.

Hysen marcou para a Suécia aos seis minutos, Kakaniclic fez o segundo aos 42m. Mas depois a Alemanha foi Alemanha. Em cima do intervalo Ozil reduziu para 2-1. E na segunda parte foi um festival. Gotze, aos 52m, depois Schurrle, por duas vezes, viraram o resultado. 4-2 aos 57 minutos! A Suécia tentou fugir ao atropelo. Ainda reduziu, voltou a marcar Hysen. 4-3. Bastava um empate, lembra-se? Mas a Alemanha foi desmancha-prazeres até ao fim. Aos 76m Schurrle completou o hat-trick, fez o 5-3 e arrumou o assunto.

A Suécia descia para o segundo pote. Mas não foi por falta de golos à Alemanha. Foi aliás em Berlim, há um ano, que Ibrahimovic e companhia conseguiram o resultado mais notável da sua campanha de apuramento. Dessa vez foi ao contrário. A Alemanha esteve a vencer por 4-0 e a Suécia deu a volta. Acabou 4-4. No fim das contas, a Suécia fechou a qualificação com sete golos marcados à poderosa «Mannschaft», desde sempre a grande favorita do grupo.

No outro lado da balança, os nove golos sofridos com a Alemanha pesam muito no registo final da Suécia. Sofreu 14 golos na qualificação contra 19 marcados, para 20 pontos ganhos. Portugal esteve um pouco melhor: 20 marcados, nove sofridos, 21 pontos.

Mas, genericamente, as campanhas das duas seleções equivalem-se. Soderstrom, voltemos a ele, até viu Portugal mais abaixo das expectativas. Pelo menos das suas. «Sinceramente, não estava à espera que Portugal tivesse as dificuldades que teve. Portugal tem que ter uma equipa para evitar ter de jogar o play-off. A Rússia terminar à frente de Portugal não é bom. Esperava um pouco mais.»

E a Suécia? Presente em todas as fases finais de Europeus desde 2000, presente nos Mundiais de 2002 e 2006 mas ausente em 2010, como viram os adeptos esta campanha da equipa?

Com paciência, explica Soderstrom, fazendo uma comparação curiosa com Portugal: «Na Suécia os adeptos continuam sempre a torcer pela equipa. Os adeptos portugueses são mais complicados que os suecos. Durante um jogo, mesmo que esteja a correr um pouco mal, os adeptos continuam a cantar e a apoiar a equipa. Em Portugal têm menos paciência.»

O apuramento falhado da Suécia para o Mundial 2010, quando ficou precisamente atrás de Portugal na qualificação, representou um fim de ciclo na seleção. Saiu Lars Lagerback, o treinador que tinha orientado a equipa durante nove anos, e entrou Erik Hamren, que trocou o Rosenborg, onde foi bicampeão norueguês, pela seleção.

Com Hamren a Suécia chegou à fase final do Euro 2012, mas caiu na primeira fase, no último lugar do grupo. Sob o seu comando esta é uma seleção, diz Soderstrom, menos sólida do que as anteriores.

«Antes a Suécia era uma equipa tacticamente perfeita. Era muito difícil ganhar-lhes. Mas talvez não fosse tão forte ofensivamente. Agora mudou um pouco. Está mais forte ofensivamente, mas com a defesa um pouco mais débil. Está a sofrer mais golos do que é comum, é o seu ponto mais fraco», analisa. 

Olhando para ambas as equipas, Soderstrom vê Portugal como favorito. «Para mim, se a equipa de Portugal chegar ao play-off ao seu nível normal, tem que ganhar à Suécia», atira, não sem um aviso: «Mas se não chegar ao nível normal vai ter problemas.»

«Vão ser de certeza dois jogos muito competitivos, com dois craques mundiais como o Cristiano Ronaldo e o Zlatan Ibrahimovic. Acho que vão ser dois jogos muito intensos», antecipa o antigo médio.

Por falar neles, e porque se vai falar tanto neles, fiquemos também com CR e Ibra vistos por Soderstrom. «O Cristiano Ronaldo é mais móvel e mais rápido. O Zlatan fica um pouco mais parado e encontra mais facilmente o espaço entre as linhas defensivas. Para mim o Cristiano está um pouco acima do Zlatan, mas o Zlatan não está muito longe.»

A conversa vai ficar por aqui, à espera do play-off. E sem que Soderstrom consiga escolher por quem vai torcer: «É difícil para mim. Grande parte do meu coração pertence a Portugal. Mas joguei onze jogos pela seleção da Suécia. Não sei, não sei. Espero que seja um bom jogo de futebol, e que ganhe o melhor.»

Recorde aqui o Alemanha-Suécia de Berlim (4-4)



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