Os economistas contactados pela Agência Financeira mostram-se pouco surpreendidos com a quebra de 2,1% do produto interno bruto (PIB) no 4º trimestre e referem que o número vai ao encontro do que se vive nos restantes países europeus.

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Para João César das Neves, «são números que estão dentro do que se esperava, embora talvez sejam mais fortes do que a maioria das pessoas previa».

O economista explica ainda que, no final do ano passado, se deu um colapso, que foi causado pelo pânico, tendo-se registado uma contracção muito grande, e que no entender do mesmo, foi excessiva. «Por isso mesmo, é natural que haja uma correcção. Nesse sentido, é normal que o primeiro trimestre de 2009 apresente alguma recuperação depois daquele quarto trimestre tão negativo», refere.

Também para Nogueira Leite o valor «vai ao encontro das expectativas». A quebra da balança comercial e a «performance» da economia espanhola-para onde vão grande parte das exportações portuguesas-já faziam prever uma quebra acentuada do PIB. «As estimativas eram demasiados optimistas».

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Pior desempenho em 2009

Para 2009, as perspectivas não são as melhores. Nogueira Leite acredita que o PIB poderá cair entre 2 a 3%, mas admite que este número poderá ter de ser revisto, consoante o desenvolvimento do mercado.

«Tudo depende de como é que os mercados internacionais vão evoluir. Se se mantiver a volatilidade então não se pode prever um melhor desempenho da economia portuguesa», acrescenta.

Nogueira leite salienta, no entanto, que estamos a enfrentar uma crise sem precedentes. «Nunca vivi uma crise assim enquanto analista e economista», confessa.

Mais optimista

Já para a economista do BPI, Paula Carvalho, a redução do PIB foi «bastante pior do que se estava à espera», todavia, reconhece que «não surpreende, tendo em conta os últimos dados económicos e a quebra de actividade dos nossos parceiros internacionais», acrescenta a economista.

Em relação a 2009, Paula Carvalho mostra-se mais optimista e aponta para uma redução do produto interno bruto de 1,2%.

Impacto do agravamento da situação internacional

Para o economista do Barclays Wealth, Matteo Fedi, este número reflecte o impacto que o agravamento da situação internacional teve na economia portuguesa. «Em primeiro lugar na componente do investimento: maiores dificuldades no acesso ao crédito e diminuição das expectativas de consumo e também nas exportações, devido à elevada exposição a algumas grandes economias que estão a ser muito prejudicadas neste período», refere em declarações à AF.

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O responsável recorda que, no início do ano, na sua publicação anual, tinha alertado para o facto da economia portuguesa não estar imune à rápida deterioração macroeconómica global.

«Os primeiros dados divulgados em 2009 confirmaram um cenário compatível com um período de recessão grave, com os níveis de confiança dos consumidores e da economia a manterem-se em níveis mínimos e com a produção industrial a evidenciar um ritmo acelerado de contracção».

O economista, perante estes novos dados, admite também que irá rever as expectativas para 2009 e que apontavam para uma contracção de 1%, já que, no entender do mesmo, «os riscos continuam elevados» e Portugal mantém uma exposição significativa a países que estão a ser fortemente penalizados pela actual crise económica.