O Banco Central Europeu (BCE) só deverá baixar as suas taxas directoras no último trimestre de 2008, de acordo com a Personal Value (PV). Numa nota sobre o mercado em Maio, a sociedade gestora de patrimónios defende que a política de Trichet está a esmagar o mercado accionista português, que já regista perdas de 20% desde Janeiro deste ano face ao mesmo período do ano anterior.

«Na PV temos vindo a advogar que a Europa está numa situação bem pior que os EUA, pois só agora vamos sofrer os efeitos da crise de crédito, sendo que alguns mercados europeus estão em clara situação de crise, o sistema bancário, muito importante para a economia europeia, está a sentir a crise e os níveis de endividamento das economias estão em níveis extremos», afirma o presidente executivo da gestora, Ricardo Valente.

Por esse motivo, a PV diz que, em termos de acções, a sua estratégia tem sido apostar mais no mercado americano em detrimento do europeu, bem como no mercado japonês e mercados emergentes, que apresentam bons potenciais de valorização.

Alvo de Trichet é poder político europeu

«De facto, num ano de fortíssima crise, os EUA são capazes de crescer a uma taxa quase idêntica ao crescimento esperado para a Zona Euro durante 2008, sendo que se espera que em 2009 o crescimento do lado de lá do Atlântico volte a superar o crescimento europeu. Enigmático não? Moeda única a valorizar, taxas de juro em máximo desde 2000 e crescimento económico no mínimo desinspirador», comenta Ricardo Valente.

Na opinião do presidente da PV, o alvo de Trichet é o poder político europeu. O presidente do BCE tem receio dos efeitos da inflação sobre as negociações salariais, numa Europa onde salários ainda são negociados com base numa indexação à taxa de inflação e não com base em ganhos de produtividade.

«Claro, depois de ouvir Sarkozy propor a medida mais terceiro-mundista possível para tentar resolver o impacto do preço dos combustíveis, através da redução do IVA, ou seja, através de uma clara subsidiação ao consumo, o que claramente fomentaria ainda mais o espiral de subida dos preços e portanto o seu impacto inflacionista. É entendível o duro discurso de Trichet. Não nos parece coincidência que este ocorra depois da divulgação das ideias populistas de Sarkozy», conclui.