Desarmante. O relato de Nimês Pina assemelha-se à crónica de um emigrante português a fugir da uma realidade terceiro-mundista, na década de 60. Formou-se no Estoril, passou para a III divisão e fez as malas. Passou por Moldávia, Roménia e Chipre. Agora, joga no ataque do campeão de Malta, o Hibernians.
«Se fosse o Cristiano Ronaldo, tinha de ter cuidado com o que dizia nas entrevistas. Mas não sou, posso dizer o que quiser. E contei-lhe tudo, mesmo que isso me prejudique», desaba o ponta-de-lança luso, de 27 anos, no final da entrevista ao Maisfutebol. Antes, revelara toda a sua humildade: «Ia até ao Sri Lanka, se me pagassem bem. Agora, jogar em Portugal para não receber, não vale a pena.»
Sabe onde é Malta, já agora? Antes de mais, é aquele país que nos dava uns pontos no Festival da Canção e sucumbia a goleadas nas fases de qualificação. Geograficamente, é uma ilha entre a Sicília e o Norte de África. Melhor que a Moldávia, onde Nimês Pina jogou duas épocas. «Bem, pelo menos aqui são mais civilizados, mais tranquilos. É um país turístico. Disso não me queixo», desabafa.
«Sou um ponta de lança rápido e agressivo, que sobe bem. Mais não digo, que não quero enganar ninguém», dizia-nos o português, em 2008. Por aqui se percebe a simplicidade do entrevistado. Quer apenas juntar um pé-de-meia, nas mais estranhas latitudes. No seu país, nunca teve a oportunidade.
«Isto aqui é Malta»
Nimês Pina chegou a Malta em Janeiro, após conversa com o amigo Mawete Júnior. «Fiz dois treinos à experiência. Ao terceiro dia, estava a jogar, com um contrato provisório. Sou um dos três estrangeiros, dos poucos profissionais. Mas isso traz problemas. Se algo corre mal, a culpa é dos estrangeiros», lamenta.
O avançado português não está completamente feliz. Nota-se na voz. Na Moldávia, conviveu com racismo. Agora, a situação melhorou, mas não totalmente. Fez um golo, foi expulso, marcou outro golo.
A expulsão? «Foi por agressão. Tive um defesa que me marcou de forma muito dura, durante todo o jogo. Dava-me e dizia: não estás no teu país, isto aqui é Malta. Ainda hoje tenho uma cicatriz. Nos últimos minutos de jogo, fartei-me, saltei de braços abertos e acertei-lhe. É pena, tinha marcado na única vitória do Hibernian no play-off», relata.
«Falham treinos e jogos»
O cenário é desolador. Entre os profissionais, misturam-se jogadores malteses que repetem comportamentos típicos dos distritais lusos. «Faltam aos treinos e ainda no último jogo, houve um que ficou chateado com o treinador e não apareceu. É incrível. Mas também tenho colegas que jogam na selecção e falam-me de Portugal. Dizem: olha, certa vez só perdemos por 1-0!»
Nimês Pina assinou até final da época, com outra de opção. Marcou dois golos em nove jogos, mas o Hibernians ocupa o último lugar no play-off final. «O campeonato tem duas fases. Quero jogar bem até final da época e depois logo se vê. Gostava de jogar em Portugal, mesmo numa II Liga, desde que pagassem. Preciso de juntar algum dinheiro para o futuro. Por isso, vou andando cá por fora», remata. Qual será o próximo destino?
Vídeo de Nimês Pina: