A sua revista digitalAlém de Postiga, só mais quatro jogadores nacionais conseguiram este «poker»: Paulo Futre, Abel Xavier, Tiago e Maniche. O primeiro a completá-lo foi Paulo Futre, em agosto de 1996, ao jogar pelo West Ham na Premier League. Antes, além de atuar nos três grandes em Portugal, tivera passagens pelo At.Madrid (1987/92), Marselha (1993/94), Reggiana e Milan (1994/96). Ainda voltaria à Liga espanhola, antes de, novamente pioneiro, terminar a carreira no Japão, em 1998, no Yokohama Flügels.
Abel Xavier: «Um salto qualitativo grande»
Se Futre foi o primeiro, o estatuto de «globetrotter» de elite pertence indiscutivelmente a Abel Xavier: entre 1995 e 2003, acumulou experiências na Série A (Bari e Roma), Liga espanhola (Oviedo), Premier League (Everton, Liverpool e Middlesbrough) e Bundesliga (Hannover). Além destes clubes, e das passagens por E. Amadora e Benfica, o percurso incluiu também etapas no PSV, Galatasaray e LA Galaxy, num total de 12 clubes e oito Ligas que o tornam o maior trotamundos do futebol português.
É do alto desse estatuto que avalia, para o Maisfutebol, a chegada de Hélder Postiga ao grupo dos top-4: «Nesta altura, a ida de Postiga para a Lazio é um salto qualitativo grande. A Lazio tem um estatuto bastante elevado em Itália, e está a reestruturar-se para voltar a ser a equipa de há 10/15 anos. Face ao momento do Valência, Postiga dá um salto importante, também tendo em conta a sua idade e a assiduidade na seleção», refere, lembrando a proximidade do Mundial.
Comparando a sua chegada à Série A, há 19 anos, com a situação que Postiga vai encontrar nos próximos seis meses, Abel não tem dúvidas de que o avançado tem muitas coisas a seu favor: «Estive quase a ir para o Parma, na altura daquele triângulo Benfica-Parmalat-Parma, mas acabei por ir para o Bari, para ganhar experiência. Foi difícil, nessa altura ainda eram mais percetíveis as diferenças entre o norte e o sul de Itália, com grandes problemas sociais a sul, que se refletiam nos clubes. A esse nível, em Roma, o Hélder vai encontrar um estádio magnífico, muito caloroso, e uma estrutura muito mais forte. Nos oito meses que depois passei na Roma, já com outra maturidade, fiz a integração com muito mais à vontade», resume.
«Todos os jogadores deviam experimentar a Premier League»
A primeira aventura de Hélder Postiga no exterior deu-se na Premier League, mas, com apenas 21 anos, a passagem pelo Tottenham não correu bem: apenas dois golos em 27 jogos oficiais. Por contraste, é dos relvados ingleses que Abel Xavier guarda as melhores recordações – talvez porque a sua experiência tenha ocorrido na fase de maturidade plena, entre os 26 e os 31 anos. «Acho que todos os jogadores de top deviam experimentar a Premier League, pelo menos uma ou duas épocas. Claro que todos têm como meta ganhar títulos e troféus, seja onde for, mas só pelo respeito dos adeptos e pela mentalidade competitiva que se vive do primeiro ao último dia, é algo que vale a pena viver» diz.
Postiga no Tottenham
Questionado sobre o impacto que estes périplos pelas maiores Ligas têm na carreira dos jogadores, Abel lembra uma evidência: ser «globetrotter» é algo que ninguém planeia no início de carreira. «Se me dissessem agora que ia começar uma carreira assim, com tantas mudanças, diria que não. Mas foram as circunstâncias que o determinaram, nunca fui um jogador conformado, agarrado ao contrato. Quando sentia que era altura de mudar fazia-o», diz, sem arrependimento. «Quando acabamos a carreira damos valor a todas as experiências acumuladas e percebemos muito melhor o que nos rodeia. Acredito que o Hélder vá beneficiar do mesmo», conclui.
Abel Xavier nos tempos do Liverpool
Dos cinco jogadores portugueses que já passaram por quatro das cinco principais Ligas europeias, apenas dois – Hélder Postiga e Tiago – estão ainda em atividade. Nos dois casos, um convite da Bundesliga, na próxima época, seria suficiente para levá-los a cumprir o pleno (cinco em cinco). A proeza é mais difícil do que parece: até à data, foi conseguida por apenas dois futebolistas: o romeno Florin Raducioiu (entre 1990 e 2002) e o dinamarquês Christian Poulsen (entre 2002 e 2012).
Raducioiu, o primeiro a jogar nas cinco maiores Ligas
Com as suas oito ligas no currículo, Abel Xavier não disfarça um sorriso ao lembrar que poderia ter sido ele a entrar nos livros de história. Faltou-lhe a França, mas por muito pouco: «Estive quase a ir para o Marselha, cheguei a ir lá negociar com o Robert-Louis Dreyfuss, que na altura era o diretor desportivo. Mas houve um problema com o limite de estrangeiros, e nese ano acabei por ir para o Oviedo. Até pelos incidentes do Euro-2000 e por tudo o que aconteceu nesse jogo com a França, gostava de também ter passado por lá», admite.
Os portugueses que coleccionaram Ligas de topo
Paulo Futre (6 Ligas ao todo, com Portugal e Japão)
Espanha (At. Madrid, 176/38)
Itália (Reggiana e Milan, 15/5)
França (Marselha, 8/2)
Inglaterra (West Ham, 9/0)
Total: 208/45
Abel Xavier (8 Ligas ao todo, com Portugal, Holanda, Turquia e EUA)
Itália (Bari e Roma, 11/0)
Espanha (Oviedo, 58/0)
Alemanha (Hannover, 5/0)
Inglaterra (Everton, Liverpool e Middlesbrough, 75/2)
Total: 149/2
Maniche (6 Ligas ao todo, com Portugal e Rússia)
Espanha (At. Madrid, 64/7)
Itália (Inter, 8/1)
Alemanha (Colónia, 26/2)
Inglaterra (Chelsea, 8/0)
Total: 106/10
Tiago (5 Ligas ao todo, com Portugal)
Inglaterra (Chelsea, 34/4)
França (Lyon, 56/10)
Itália (Juventus, 42/0)
Espanha (At. Madrid, 109/10)
Total: 241/24
Hélder Postiga (6 Ligas ao todo, com Portugal e Grécia)
Inglaterra (Tottenham, 19/1)
França (St. Etienne, 16/2)
Espanha (Saragoça e Valência, 85/26)
Itália (Lazio ?/?)
Total: 120/29
