Ricardo Quaresma já tem a sua inscrição regularizada e pode ser uma arma do FC Porto no clássico frente ao Benfica. As memórias de instantes de magia nos confrontos com a formação encarnada devem influenciar os responsáveis portistas.

Após largos meses sem competir, Paulo Fonseca saberá que Quaresma não reúne as condições físicas necessárias para entrar de imediato no onze. De qualquer forma, o regresso do Harry Potter entusiasmou os adeptos e afigura-se como provável a sua presença no banco de suplentes do Estádio da Luz.

Licá, o segundo extremo mais utilizado pelo treinador do FC Porto, não marca desde 22 de setembro de 2013. Silvestre Varela é, nesta altura, o único flanqueador a recolher unanimidade face ao seu rendimento.

Num clássico que pode ser decidido em detalhes, os dragões terão sempre em conta a arte de Ricardo Quaresma. Ele que já decidiu um Benfica-Porto na Luz, por exemplo.

Entre 2004 e 2008, o Cigano defrontou os encarnados por nove vezes e marcou três golos, todos eles com influência considerável no resultado final.

A estreia frente ao Benfica com um golo

Contratado ao Barcelona, Ricardo Quaresma fez a sua estreia pelo FC Porto na Supertaça de Portugal. A 20 de agosto de 2004, o Estádio Cidade de Coimbra, os adeptos começaram a perceber o que poderiam esperar do internacional português.

Por conta própria, como habitual, o extremo garantiu o troféu frente ao Benfica. Ao minuto 55, num jogo sem grande nota artística – como diria Jorge Jesus -, Quaresma recebeu a bola na área e assumiu o risco. Apresentou a sua finta em forma de toque de calcanhar, resistiu à derradeira tentativa de Argel e decidiu o encontro (1-0). Veja o golo.

Victor Fernández conquistou o primeiro de dois títulos (seguiu-se a Taça Intercontinental). Pelo meio, o FC Porto até garantiu um triunfo no Estádio da Luz, com um golo de Benni McCarthy, mas o Benfica de Giovanni Trapattoni sorriu no final. Empatou no Dragão e acabou por vencer o campeonato nacional.



A finta a Nélson para o golaço no Dragão

28 de outubro de 2006, Estádio do Dragão. O clássico arranca da melhor forma para o FC Porto, com dois golos nos primeiros 21 minutos. Lisandro López faz o primeiro, Quaresma dilata a vantagem com um lance repleto de inspiração.

Um domínio no lado esquerdo do ataque e o duelo com Nélson. O extremo do FC Porto simula e vai puxando a bola para a linha de fundo. De repente, finta para dentro e remata em arco. Quim segue a trajetória sem esboçar a defesa. A bola bate no poste e entra. Veja o golo.

Seguiu-se o polémico lance entre Katsouranis e Anderson. Na segunda parte, a recuperação encarnada. De 2-0 para 2-2. Valeu Bruno Moraes ao clube portista, garantindo um triunfo com importância para as contas finais do campeonato.

Trivela em exposição no Estádio da Luz

O terceiro golo de Quaresma ao Benfica, com a camisola do FC Porto, será certamente o mais recordado nos próximos dias. A 1 de dezembro de 2007, em pleno Estádio da Luz, o extremo apresenta a sua trivela.

Mais um lance onde o talento individual fez estragos. Perda de bola a meio-campo, passe rápido de Lucho González e Ricardo Quaresma a fazer o resto. A progressão de terreno pelo flanco direito, a finta decidida sobre David Luiz e a finalização de trivela, uma imagem de marca.

O FC Porto vence pela margem mínima e caminha para a vantagem folgada no final do campeonato. No verão, o Inter recruta o Harry Potter, deixando alguns adeptos, aqueles que o tinham assobiado em diversos momentos, relativamente satisfeitos.

É curioso recuperar a avaliação de Jaime Magalhães no livro da Liga publicado pelo Maisfutebol. «Os momentos de magia compensaram os jogos menos conseguidos. Acho que até os adeptos lhe perdoaram as fases más. Ainda bem que fizeram as pazes, porque é mais um jogador que está no FC Porto de passagem e, se calhar, ainda vão sentir saudades dele.»


benfica porto Quaresma por philippefigo007

Paulo Assunção: «Basta um lance para Quaresma decidir»

Ricardo Quaresma, contas feitas, participou em nove clássicos entre FC Porto e Benfica. Teve papel decisivo, com golos, em três. Cinco triunfos, dois empates e duas derrotas nessa contabilidade particular.

O regresso do extremo, com o clássico à vista, preenche o imaginário dos adeptos azuis e brancos. Os instantes decisivos, com nota artística elevada, deixam água na boca.

Paulo Assunção, que partilhou o balneário com Quaresma ao longo de três épocas, compreende o entusiasmo. O médio luso-brasileiro já tinha aprovado a provável transferência numa conversa com o Maisfutebol antes do At. Madrid-FC Porto.

«Já tinha dito que ele seria um jogador muito importante e ainda bem que a transferência se confirmou. Como disse, este regresso pode funcionar como funcionou o do Lucho González. Lembro-me bem dos jogos que ele decidiu frente ao Benfica», começa por salientar.


A criatividade de Ricardo Quaresma pode ser extremamente útil no atual FC Porto. «Vi o jogo em Madrid e o Porto nem esteve mal, até podia ter conseguido outro resultado, mas claro que um jogador como ele faz toda a diferença», acrescenta, em novo diálogo com o nosso jornal.

«Por vezes, por estar um grande período sem fazer muito num jogo mas depois basta um lance para o Quaresma decidir. Eu sabia que, se cortasse uma bola e depois passasse para ele, ia sair dali algo especial. Mas claro que eu é que tinha de cortar a bola», reconhece, entre gargalhadas.

Paulo Assunção admite que não era fácil jogar com Quaresma, dono de um feitio particular, mas elogia o antigo companheiro de equipa.

«Claro que ali no jogo a gente esquenta um pouco, eu já conhecia o feitio dele, no fundo sabia que ele queria era vencer. De resto, devo dizer que sempre foi uma pessoa cinco estrelas, que não desejava mal a ninguém. Fico feliz pelo seu regresso. Volta ainda mais maduro e vai ser muito importante para o FC Porto», remata o médio de 33 anos, que espreita um regresso à competição a breve prazo.