Ato 1. Fevereiro de 2008: quatro milhões de dívidas, amontoado de queixas e credores, caos instalado da tesouraria à equipa de futebol. A federação inglesa pune o AFC Bournemouth com a subtração de dez pontos e a descida à League Two, em junho do mesmo ano, assemelha-se a uma pena de morte. É o ponto mais baixo de uma história iniciada em 1890.

Ato 2. Verão de 2008: as administrações e proprietários entram e saem a uma velocidade alucinante. A participação na League Two está em risco quase até ao início da prova. O Bournemouth acaba mesmo por não cumprir as regras exigidas a clubes insolventes e arranca o campeonato com 17 pontos negativos. Os dois primeiros treinadores caem rapidamente do posto, os resultados desportivos são penalizantes e a nova direção decide apostar no desconhecido Eddie Howe. Aos 31 anos torna-se no mais jovem técnico na história do emblema e salva o Bournemouth de mais uma descida. «The Great Escape» acaba com vitórias sobre o Grimsby e o Morecambe.

Ato 3. Junho de 2009: um consórcio liderado por Jeff Mostyn [atual presidente]   
devolve a estabilidade financeira ao Bournemouth. A temporada 2009/10 acaba por decorrer acima das expetativas e o Bournemouth termina no segundo lugar. Sobe à League One – terceiro escalão – e só não repete o feito na temporada 2010/11 porque perde frente ao Huddersfield no play-off de acesso ao Championship. É nesta altura que o russo Maxim Demin assume a co-propriedade do clube com Mostyn e passa a ser o investidor-mor do projeto. 
 

O treinador Eddie Howe, um dos heróis na subida à Premier League

Ato 4. O 11º lugar em 2011/12 já é obtido sem o técnico Eddie Howe, entretanto cedido ao Burnley. Paulo Groves, o sucessor, completa essa época e continua para 2012/13, mas só até outubro. Os maus resultados apressam o regresso do treinador Eddie Howe e a ascensão ao Championship surge no final da campanha, devolvendo o Bournemouth ao segundo escalão do futebol britânico, após 23 anos a competir em divisões inferiores.

Ato 5. Abril de 2015, subida à Premier League! Na temporada 2013/14, décimo lugar no Championship e presença na quarta ronda da FA Cup, onde perde contra o poderoso Liverpool por 2-0. Promissor, sim, mas nada que se compare ao idílio da presente época. A uma jornada do fim, o Bournemouth tem assegurada a improvável estreia na Premier League. O presidente Jeff Mostyn já celebra como um louco, pois ninguém acredita numa derrota de 19-0 na próxima jornada.

O jogo da subida: Bournemouth-Bolton, 3-0


Dani Rodrigues: «Trago o Bournemouth no meu coração»


Bournemouth, cidade de 183 mil habitantes na costa sul de Inglaterra. Urbe virada para o turismo, com praias de areal extenso e mar encrespado. Fica a 151 quilómetros de Londres e é falada por toda a Europa por culpa da sua equipa de futebol. 

O pequeno estádio - dentro do contexto britânico - da equipa chama-se Dean Court
, mas é mais conhecido por Goldsands
. Tem capacidade apenas para 12 mil pessoas e promete encher semana após semana durante a próxima época.

Como seria de esperar, há um português importante na história recente do clube. Ainda antes da queda abrupta até ao fundo do poço, Dani Rodrigues
vestiu a camisola dos The Cherries. Primeiro na temporada 1998/99, mais tarde de 2004 a 2006.

O antigo internacional sub20 português - esteve no Mundial de 1999 - recorda ao Maisfutebol
os dias felizes em Bournemouth.

«Até eu fiquei surpreendido com tudo isto. Nunca imaginei poder ver um dia o Chelsea ou o ManUtd no pequeno Goldsands. O clube é fantástico, com muita gente boa, mas de pequena dimensão. Guardo grandes recordações, apesar das grandes dificuldades financeiras que o Bournemouth passava»
, lembra Dani Rodrigues, de 35 anos e afastado desde 2012 do futebol. «Tive quatro lesões gravíssimas...»


«Bem, no Bournemouth os dirigentes respeitavam-nos. Não havia dinheiro, mas iam ao balneário, davam a cara, diziam que pagavam no dia tal e pagavam mesmo. E os adeptos também eram soberbos, fanáticos no bom sentido»
.

Dani fazia toda a sua vida na cidade e tornou-se rapidamente numa estrela. «Mesmo no supermercado vinham ter comigo e pediam autógrafos. Isto num clube do terceiro escalão inglês!»


Eddie Howe, o técnico que conduziu o Bournemouth à Premier League, foi colega de equipa de Dani Rodrigues. «Sim, era um defesa central interessante. Já revelava interesse pelo cargo de técnico, como quase todos os atletas ingleses. É uma questão quase cultural»
.

Dani Rodrigues fez a formação no Feirense e saltou para Inglaterra com 18 anos. Brilhou logo com a camisola do Bournemouth e transferiu-se para o Southampton. «Joguei três anos na Premier League»
, sublinha ao nosso jornal.

Até aos graves problemas físicos surgirem, Dani Rodrigues vivia a carreira que sempre sonhou.

«Fui dispensado pelo Gordon Strachan, mas com muito respeito. Chamou-me, disse-me que nunca me tinha visto jogar, porque eu estava parado há um ano, e que não contava comigo. O técnico anterior, o Glenn Hoddle, saíra e o Strachan assumiu a equipa. Aconselho os campeonatos ingleses a qualquer jogador português»


Bristol, Walsall, Ionikos (Grécia), Yeovil Town, New Zealand Knigths (Nova Zelândia), Eastleigh, Dorchester, Onisilos (Chipre), Omonia Aradippou (Chipre) e DOXA (Chipre) foram os restantes clubes da carreira de Dani Rodrigues.