“Chamo-me Miguel, tenho 50 anos e sou um sobrevivente.”

Miguel faz questão de usar o nome verdadeiro para relatar a viagem que iniciou há um ano, “em direção à paz”. Há um ano, resolveu pedir ajuda para ultrapassar um fantasma que o assombrava há anos.

Tem 50 anos. “O primeiro abuso deu-se quando eu era muito novo, tão novo que não me lembro da idade, mas estava naquela idade em que as crianças têm que se deitar cedo. Estava numa pequena aldeia, onde havia por essa altura uma festa. Quando lançaram os foguetes eu comecei a chorar com medo e assustado. Por isso um primo meu, na altura adolescente, foi deitar-se comigo, segundo ele para eu não ter medo. Passado poucos minutos fui completamente maniatado por ele, a partir daí só sentia dor que contrastava com a voz calma dele a dizer que não fazia mal, que estava tudo bem”, conta, num testemunho divulgado na página da Associação Quebrar o Silêncio.

“Se era normal porque é que doía ao ponto de me fazer chorar? Não me lembro quantos dias permaneci com os meus pais na aldeia. Mas a partir daí, ele e outro primo meu todos os dias me faziam a mesma coisa. Por fim lá foram dizendo que se contasse a alguém, eles diziam que tinha sido eu a pedir, e que os meus pais iam ficar muito zangados comigo. (…) Pouco tempo depois um desses primos foi viver a convite dos meus pais, para nossa casa. Escusado será dizer o que veio a acontecer todas as noites. Com a agravante que quando o outro primo nos ia visitar eles revezavam-se. Aí a chantagem mudou, diziam que contariam a todos os meus amigos se eu não deixasse.”

Miguel diz que tinha tanto medo que, quando anoitecia chegava a desmaiar. Tentou contar aos pais, mas era repreendido por eles cada vez que tentava: “Era impossível tão boa pessoa fazer-me mal.”

Miguel corresponde ao perfil que é possível traçar das vítimas que pedem ajuda à Quebrar o Silêncio: foi vítima de abusos várias vezes, durante um largo período de tempo e por várias pessoas. Além dos dois primos rapazes, também outra prima e, quando já tinha 12 anos, duas mulheres com quem trabalhava abusaram dele. Acreditou no que lhe diziam: a culpa era dele.

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