Um golo de Mantorras no segundo de cinco minutos de descontos garantiu ao Benfica uma vitória que alimenta até ao limite do razoável o sonho cada vez mais utópico do título. Passou mais uma jornada e mantém-se um fosso de sete pontos para o líder. Mas como parece haver quem ainda acredite, S. Pedro fez o favor de segurar a fé encarnada.
O triunfo colhe pouca contestação, de resto. O Benfica ultrapassou frustrações recentes e voltou a produzir uma exibição agradável. No final de uma semana traumática, com um empate (Naval) e uma derrota (V. Guimarães) que afastaram a equipa da Liga e da Taça, os encarnados reagiram com a recuperação de uma série de bons princípios.
Boa dinâmica, por exemplo, envolvimento sobre as alas, velocidade na busca da baliza adversária, enfim, os méritos foram vários. Com quatro homens na frente sempre em movimento e dois laterais que subiam a criar desequilíbrios, a equipa conseguia encontrar caminhos para a baliza adversária com uma cadência agradável de se ver.
Tudo isto, aliás, perante um adversário complicadinho, que mesmo sem importunar muito a baliza de Moretto foi pressionante e agressivo. Faltou ao Benfica apenas um bocadinho mais de acerto sobre o momento da finalização. Simão foi nesse aspecto o paradigma encarnado. O capitão encarnado falhou seis oportunidades, seis, de golo.
São Pedro em dia de temporal
A primeira, aliás, logo no minuto inaugural do encontro. Num momento que parece ter sido um presságio que ninguém quis compreender. Até porque não foi só Simão a falhar. O capitão até atirou uma bola à trave, é verdae, mas Manduca, Nuno Gomes e Robert, por exemplo, tiveram também o golo nos pés e não souberam como lhe chegar. Ora por aqui já dará para compreender como a exibição encarnada foi agradável. Perante o frio, a chuva e sobretudo o vento muito forte que se fez sentir, os encarnados souberam logo desde o início contornar as dificuldades.
A equipa foi crescendo com o jogo - depois de dois sustos iniciais provocados por Evandro e Gaúcho, ambos a cruzamentos de Milhazes - e tornou-se ainda maior na segunda parte. Sem mexer na cara da equipa, Koeman mexeu no esqueleto. Fez Geovanni regressar à direita do ataque, fez Nuno Gomes avançar para a posição mais adiantada e desviou Manduca da direita para o centro, nas costas do ponta-de-lança. Ora a alteração teve o mérito de devolver Geovanni ao jogo, ele que tinha sido uma nódoa na primeira parte, ao mesmo tempo que capitalizou o bom jogo de Manduca.
O Benfica ganhou, por isso, munições para combater a trincheira do Rio Ave. As ocasiões continuaram a aparecer e continuaram a ser desperdiçadas. Enquanto o tempo corria. Num momento de desespero, Koeman lançou então a arma que ele próprio desdenhara: Pedro Mantorras. O avançado entrou a dez minutos do fim e já em descontos marcou o golo da vitória. Uma vitória polémica, aliás. Paulo Paraty anulou por indicação do auxiliar um golo do Rio Ave, considerando que a bola saíra de campo antes de Evandro a meter na baliza. As imagens televisivas não são esclarecedoras, dê-se por isso o benefício ao árbitro.