Figueiredo está a ter uma segunda-feira louca. «O telefone ainda não parou de tocar», conta o adjunto de Daúto Faquirá no Olhanense ao Maisfutebol. «Ligam-me de todo o lado. Até já me ligaram de São Paulo e do Rio de Janeiro. A TV Globo queria fazer uma entrevista por videoconferência.»

Não é caso para menos: Figueiredo tem a honra de ter sido o primeiro guarda-redes a sofrer um golo de Ronaldo. Aconteceu no dia 5 de Agosto de 1993. Dois dias depois do Fenómeno ter feito o primeiro jogo como sénior, curiosamente no Estádio da Luz, com o Benfica. Nessa ocasião entrou na segunda parte.

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No Restelo foi titular e fez o primeiro golo de uma carreira fulminante. «Lembro-me perfeitamente», conta Figueiredo. «Foi na baliza sul do Restelo. Há um cruzamento da direita, a meia altura, entre a linha da pequena área e a marca de penalty, ele cabeceia cruzado, a bola bate no chão e dá um belo golo.»

Dezoito anos depois, o antigo guarda-redes do Belenenses diz que «foi o golo mais saboroso» que sofreu. «Sofrer o primeiro golo da carreira do Fenómeno foi quase uma honra.» Mas não foi a única. «Logo a seguir ele teve uma jogada em que passou por dois adversários e rematou, mas essa defendi.»

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O Belenenses fazia o jogo de apresentação e mostrava aos adeptos um reforço: o avançado Cleisson, contratado... ao Cruzeiro. «No balneário olhávamos para ele e comentávamos entre nós: deviam era ter contratado aquele miúdo. Ele pegava na bola, ia para cima, fintava, chutava, era fantástico.»

Ronaldo era um quase-desconhecido. Recrutado aos juniores, jogou pela primeira vez com os seniores e nunca mais deixou o plantel. No final da época foi vendido ao PSV por seis milhões de dólares. Antes disso, partilhou o balneário com Douglas: o antigo jogador do Sporting era capitão do Cruzeiro.

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«Quando saí do Sporting e voltei ao Cruzeiro, fazíamos jogos-treino com os juvenis, porque os juniores eram muito duros. Nesse plantel dos juvenis estava o Ronaldo. Tinha 15 anos e já era um talento incrível. Então ele passou a treinar connosco durante a semana e a jogar pelos juvenis ao domingo.»

Douglas lembra-se que nos treinos fartava-se de discutir com ele. «Tinha de ser, era o capitão da equipa e o Ronaldo era muito individualista. Então eu xingava-o, gritava com ele, mas não valia a pena. Entrava por um ouvido e saía por outro. Não me ligava nenhuma», sorri em conversa com o Maisfutebol.

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«Ele era um miúdo tímido, quase não abria a boca, mas dentro de campo era muito confiante. Partia para cima dos defesas, fintava e fazia golos. Nessa digressão a Portugal ele partiu como suplente do Totó, fez grandes jogos e voltou como titular. Começou a jogar e nunca mais parou», termina Douglas.

Dezoito anos depois, no dia da despedida, é bom lembrar que tudo começou no Restelo. Na baliza sul...