Casemiro vai falhar o duelo na Ucrânia, na terça, para a Champions, frente ao Shakhtar, por força da entorse no tornozelo esquerdo, sofrida na segunda parte do clássico em Alvalade.

Ainda não há um diagnóstico preciso sobre o tempo de recuperação do jovem «volante» que o Real Madrid cedeu ao FC Porto, mas tendo em conta as características da lesão, é bem provável que Casemiro falhe também, pelo menos, a receção ao Sp. Braga, na próxima jornada da Liga.

Baixa especialmente significativa para as contas de Lopetegui, sobretudo no encontro para a Champions, uma vez que Campaña, o substituto natural, não está inscrito na milionária. 

(Quase) tudo para dar certo

Com 22 anos, Carlos Henrique Casemiro é um dos mais cotados jogadores brasileiros da sua geração.

Na posição «6», de médio-centro com funções defensivas mas também capaz de participar na construção de jogo da equipa (o que no futebol brasileiro se designa de «volante»), Casemiro surgiu como uma das alternativas mais interessantes que o mercado tinha para oferecer, depois da saída de Fernando para o Manchester City.

Não terá a capacidade física do «polvo», mas em comparação com Fernando, seu antecessor na «posição 6» do Dragão, será até mais técnico. Tem boa leitura de jogo, não será muito rápido, mas compensa com uma interpretação do que a equipa precisa naquele momento. É, claramente, um jogador com «dimensão coletiva», algo que, geralmente, um jovem brasileiro de 22 anos não costuma mostrar nos primeiros tempos na Europa.

Forte no jogo aéreo, mais ofensivo que defensivo (daí não ser um «trinco» no estilo tradicional do futebol europeu), remata forte, tem poder de fogo. Numa frase, defende bem e ataca bem.

Aposta de Ricardo Gomes

Formado no São Paulo (cumpriu os anos de «categoria de base» no Morumbi, depois dos primeiros toques na bola serem dados na escola de futebol Moreira em São José dos Campos e no CFA de Cotia) , Casemiro destacou-se desde os anos de formação como um dos jogadores brasileiros da sua idade com melhorres condições para vingar no futebol europeu.

Foi Ricardo Gomes, antigo central do Benfica e então técnico do São Paulo, que o promovou à equipa profissional, depois de Casemiro ter mostrado qualidade em jogos-treino na equipa principal, no verão de 2010.

Na altura, Ricardo Gomes explicava assim a aposta: «O Casemiro foi testado de todas as formas, correspondeu sempre e vai ficar aqui com a gente». Cenário que, de algum modo, faz lembrar a opção aparentemente ousada de Lopetegui em Ruben Neves, no início desta época…

A estreia no tricolor paulista surgiu a 25 de julho de 2010 e logo num clássico com o Santos. O São Paulo perdeu, mas desde aí Casemiro passou a ser uma peça a ter em conta para o meio-campo são-paulino. A primeira partida oficial chegaria logo no mês seguinte, em agosto. Quando se deu o salto para Madrid, Casemiro já somava 111 jogos, 79 deles como profissional.

Casemiro no São Paulo e no Real Madrid




O título mundial de sub-20

Quando, no verão de 2011, o Brasil partiu para a Colômbia para uma campanha vencedora no Mundial de sub-20, concluída com triunfo na final frente a Portugal, já Casemiro era titular indiscutível do São Paulo, então orientado por Paulo César Carpegiani. Tinha apenas 19 anos e ainda um contrato de primeira época como profissional e, portanto, um dos salários mais baixos do plantel tricolor.

O êxito na Colômbia, com Casemiro a erguer o troféu para o Brasil após vitória na final com Portugal, enquanto capitão de uma seleção que derrotu Portugal por 3-2 na final, projetou o valor de mercado do jovem «volante». 

Casemiro foi capitão do Brasil campeão do Mundo de sub-20




A transferência para Madrid

Casemiro já estava no radar dos grandes clubes europeus e a transferência acabou por se fazer para o maior de todos.

No fecho do mercado de janeiro de 2013, o São Paulo viria a ceder por seis meses o jovem craque ao Real Madrid, então treinado por José Mourinho.

Depois de uns primeiros meses de integração no Castilla, o primeiro jogo de Casemiro pelo Real na Liga espanhola foi frente ao Bétis, a 19 de abril de 2013. Foi titular, jogou os 90 minutos e ajudou os merengues a vencer por 3-1, deixando boas indicações.

Em peça que a «Marca» fez no dia seguinte sobre a estreia de Casemiro, um adepto do Real escrevia nos comentários dos leitores: «Esse jovem joga muito».

No mesmo dia, peça no Globo Esporte tinha este comentário de um adepto do São Paulo, que havia seguido com atenção os tempos de Casemiro no Morumbi: «Muito bom jogador, melhor que todos os volantes que estão aí no São Paulo, talvez falte um pouco de maturidade e aconselhamento de pessoas que possam mostrar a ele o caminho correto, mas como jogador de bola é ótimo, não foi aproveitado pelo São Paulo devido talvez a falta de disciplina fora do campo, mas tem tudo para dar certo e jogar muito no Real Madrid e a diretoria do São Paulo mais uma vez entrega um bom jogador de graça».

Nessa partida de estreia na Liga espanhola, Casemiro fez sete recuperações e tentou dois remates (apesar de médio-defensivo, ele soma já 12 golos em 154 jogos na carreira).

O empréstimo de meio ano terminava em julho e havia uma decisão a tomar: o Real tinha opção de compra junto do São Paulo.

Casemiro estava longe de conquistar lugar no meio-campo do Real, mas José Mourinho somava chamadas do jovem «volante», dando sinais de que queria contar com ele para o futuro.

Só que quem não ficou em Madrid foi mesmo... Mourinho. Em maio, o carismático treinador português sai com estrondo de Chamartin. Mas Casemiro fica: o clube optou pela compra, assinando contrato de quatro anos com o promissor brasileiro.

Com Ancelotti, a história foi relativamente parecida: Casemiro precisava de percorrer ainda um longo caminho para poder sonhar com a titularidade no Bernabéu, mas o italiano, tal como o fizera o seu antecessor português, colocava-o em campo de forma pontual (não só na Liga espanhola, mas também na conquista da Champions 2014, sendo o segundo suplente que mais vezes entrou nessa campanha, só atrás de Illarramendi).

Casemiro no Real Madrid



A lesão de Khedira deu-lhe algum espaço para ir aparecendo. Quando o brasileiro saiu de Madrid, somava 25 presenças com a camisola do Real. Bem bom para um jovem de 22 anos.

Mas tinha, no entanto, chegado a altura de dar um ligeiro passo atrás, para que pudesse continuar a dar passos em frente.

A chegada ao Dragão

Chegava, então, a hora do Dragão para Casemiro.

«Estou muito motivado. O meu desejo é ajudar o FC Porto a fazer uma grande temporada e conquistar títulos. Vou trabalhar muito e batalhar para retribuir o carinho que estou a receber de todos no clube e dos adeptos», comentava o brasileiro no momento de começar a aventura azul e branca. «O clube reforçou-se e já possuía uma base muito boa. Eu gostei do projeto por sentir que a equipa tem qualidade e ambição de lutar por títulos. Vamos trabalhar e batalhar para isso», prometia.

Casemiro falhou a titularidade no arranque da Liga, com o Marítimo, mas entrou no decorrer da partida, rendendo Herrera. Lopetegui mostrava, logo no primeiro jogo, que encarava como normal a inclusão de Rúben Neves e do brasileiro na mesma equipa: Casemiro mais recuado, o jovem produto das escolas portistas mais à frente.

A solução foi testada de início dias depois, em Lille, e com bons resultados: triunfo forasteiro do FC Porto, a abrir caminho ao acesso à fase de grupos.

Miguel Lourenço Pereira, especialista em futebol internacional, radicado em Madrid, analisa deste modo as qualidades do brasileiro do Real, cedido ao FC Porto, em declarações ao «Mundo Brasil» da Maisfutebol Total: «Casemiro é um dos jogadores com mais talento da sua geração e uma das aquisições mais importantes da temporada do FC Porto. Foi um jogador que convenceu Ancelloti desde a primeira sessão de treinos mas acabou por pagar o autêntico plantel de luxo que tem o Real. No Porto tem vindo a demonstrar que é um jogador de muito talento, um médio-defensivo distinto de Fernando, mais de criação do que de destruição, e que se enquadra bem na filosofia de Lopetegui. A aparição de Ruben Neves não estava nos planos e são, de facto, dois jogadores parecidos, «6» que também funcionam muito bem a «8» (aliás na posição de 6 o FC Porto conta também com Podstwaski, um jogador de imenso potencial) e sendo lógico que Lopetegui procure, pouco a pouco, introduzir ou Oliver ou Brahimi no centro, e que Herrera é um jogador muito particular, o mais provável é que um dos dois acabe por cair do onze.»

Será Casemiro o melhor jogador brasileiro da sua idade, naquela posição? Miguel Lourenço Pereira aprova a ideia: «Sem dúvida, Casemiro tem uma capacidade de construção e leitura de jogo superlativas e demonstrou-o já no São Paulo. Pertence à geração de Neymar e seguramente que a pouco e pouco encontrará o seu espaço dentro da elite do futebol brasileiro. Condições não lhe faltam».

O enquadramento com Rúben Neves

E será que cabem os dois no onze, Casemiro e Rúben Neves? Miguel Lourenço Pereira nota: «Tendo em conta as opções, Lopetegui terá de manter a confiança em Rúuben, apesar de se começar a notar nos últimos jogos o peso da idade e dos minutos acumulados. Seria curioso ver o treinador espanhol a dar uma oportunidade no jogo contra o Braga a Campaña, também ele um futebolista que veio a petição expressa depois de que Classie e Darder ficassem pelo caminho.»

Álvaro Costa, comunicador e portista assumido, comenta ao «Mundo Brasil» da Maisfutebol Total: «Sem Casemiro na Champions, e face aos nomes falados, não há grandes dúvidas: o menino Rúben volta à posição do verão. Evandro também poderá ser opção, mas é de facto, para mim, a zona do terreno que vai precisar de ajustamento em janeiro».

E enquanto isso não acontecer? «A nível interno, há Reyes como solução de recurso. Ou Campaña», aponta o radialista. «Seria fácil dizer que não é Fernando, ou que é «6» que é «8», ou um «8» que é «6». Não o colocava na Liga Fantasia do meu time, muito menos a “tomar conta” de Ruben Neves. Não enquanto vir jogos em que os dois pisaram os calos um os ao outro. E como ele diza quando chegou a Espanha, pode fazer duas ou três posições ao mesmo tempo. Para já vai fazendo, mas não tenho dúvidas de que é preciso mais alguém por aquelas bandas», conclui Álvaro Costa.


B.I.
Carlos Henrique CASEMIRO
Idade: 22 anos
Data de nascimento: 23 de fevereiro de 1992

Naturalidade: São José dos Campos, São Paulo
Altura: 1, 84m
Peso: 80 quilos
PERCURSO COMO JOGADOR: São Paulo (2009-2013), Real Madrid (2013-14), FC Porto (2014); Brasil (três jogos pelos sub-17; 15 pelos sub-20; 5 pela seleção principal)
Principais títulos: Mundial sub-20 (2011), Liga dos Campeões 2014, Sul-Americano sub-17 (2009), Sul-Americano sub-20 (2011), Copa Sul-Americana 2012, «Copinha» São Paulo 2010