Há três anos, de forma inesperada, Rui Esteves deixou o Belenenses e foi jogar para o Daewoo Royal, da Coreia do Sul. A curiosidade e o espírito aventureiro, a juntar aos (muitos) dólares com que lhe acenaram, motivaram a mudança. 

Na Coreia foi campeão e ganhou a taça e a supertaça, além de outros torneios. E foi idolatrado. 

«Tudo começou nuns jogos-treino que o Belenenses fez com duas equipas coreanas, aos quais assistiram empresários de lá». É assim que Rui Esteves recorda o início da «aventura». 

«Passado algum tempo começaram a chegar propostas de lá, vindas sempre pela mesma pessoa, que me abordava com fotografias minhas a entrar e a sair do carro, de casa, etc. Achei caricato e perguntei-lhe o que é que ele queria, tendo-me respondido que sabia que eu acabava contrato e queria que eu fosse jogar para a Coreia. A principio achava engraçado o interesse deles e não levei tão a peito a oportunidade. Só que de dia para dia os números iam aumentando, acabei por aceitar e assinei por dois anos pelo Daewoo Royal.» 

A adaptação não foi fácil. Na «vida civil» os gestos ultrapassavam a barreira da linguagem. No relvado, onde se fala a língua universal do futebol, o jogador preocupou-se apenas em aprender «o essencial que se diz durante um jogo: cuidado, passa a bola, estou só, etc.». 

Caricatas eram as suas imitações para se fazer entender. Rui Esteves recorda com gosto uma situação em que de madrugada teve de apanhar um táxi para ir para o aeroporto: «O taxista não me entendia e então tive que sair para a estrada e, com os braços, por-me a imitar um avião a aterrar, a levantar voo. Só que ele não conseguia perceber e foi-se embora a rir pensando que eu era maluco. A minha sorte foi que estava outro taxista a assistir, entendeu o que eu estava a explicar e levou-me.» 

No relvado Rui Esteves também teve que se adaptar a outro estilo de jogo: «Lá joga-se muito duro e é preciso uma grande capacidade física, que era precisamente aquilo que eu não tinha». Valeram-lhe então os seus dotes técnicos, «que davam para disfarçar». 

O ambiente que envolve o futebol coreano deixou impressionado o português, que actuava sempre em estádios esgotados por um público muito ordeiro, que «fazia do jogo uma grande festa independentemente de quem ganhasse». 

Entretanto, a meio do seu contrato com o Daewoo Royal, surgiu uma proposta do Beijing Guan, da China. Aceitou porque só tinha mais um ano de contrato com os coreanos e a proposta dos chineses era de dois anos, prolongando assim o tempo que Rui Esteves planeava ficar naquela zona. «Além disso era bastante vantajosa para mim», diz. 

Uma rotura de ligamentos do joelho direito, contudo, reduziu-lhe a permanência a seis meses. Rui deixou a China extremamente chocado com a «terapia» que lhe queriam impingir: «Disseram-me que tinha que ficar dois meses a olhar para o ar sem fazer nenhum tratamento. Vim logo embora.» 

E assim terminou, mais cedo que o previsto, «uma aventura engraçada».