Luiz Felipe Scolari admite que existam pessoas que não concordam com as naturalizações, mas lamenta que o assunto seja empolado no futebol. E por isso lembrou um feito recente de outro desporto.
«Todos nós ficamos muito felizes por o Nélson Évora ter sido campeão mundial no triplo salto em comprimento. Que é português, sim. Mas nasceu onde? Vamos deixar de ser hipócritas, se é para o atletismo pode ser naturalizado, se é para o râguebi pode, se é para futsal pode, se é para o basquetebol pode, se é para o futebol não pode porquê?», disse o técnico.
Scolari não quis dar muita importância ao assunto e foi repetindo que não pretende falar mais do mesmo, justificando a chamada do brasileiro naturalizado português com uma análise técnica. «É um bom jogador, que tem boa qualidade, que pode fazer parte da equipa e que pode ser um dos componentes da selecção portuguesa», explicou o seleccionador que depois foi mais específico: «Tem boa impulsão, boa qualidade técnica, é um jogador que tem, para quem é um defesa, algumas características que no futebol moderno são essenciais, principalmente nas bolas aéreas e na velocidade». Por tudo isto o seleccionador acredita que Pepe «pode ser útil». «Pela sua qualidade e por tudo aquilo que fez, sobretudo no tempo que jogou aqui em Portugal», acrescentou.
Confrontado com eventuais resistências à naturalização dentro do próprio grupo de trabalho, Scolari mostrou-se tranquilo: «Antes de mais é bom que esclareçamos que não é verdade que o Figo e o Rui Costa fossem contra a chamada do Deco. Eles eram, sim, contra a ideia das naturalizações. Mas receberam muito bem o Deco em todas as ocasiões», disse.
Scolari considera que esta é uma tendência natural do mundo do desporto e deu vários exemplos: «Para encerrar este assunto de uma forma normal repito aquilo que já disse várias vezes ao povo português: as grandes selecções de agora e do passado têm e tinham atletas naturalizados. A selecção italiana joga o Mundial de futsal com doze naturalizados, a selecção alemã jogou o último Mundial com três naturalizados, a Espanha tem dois naturalizados e por aí fora».
Por isso Scolari entende que não está a fazer nada de estranho. «É uma tendência normal. Para o futuro sabemos que Portugal terá muitos mais atletas naturalizados à medida que emigrantes do leste europeu receberão passaporte português», referiu, lembrando depois alguns jogadores já integrados na equipa das quinas: «Temos o Nani que nasceu em Cabo Verde, o Bosingwa que nasceu no Congo, o Daniel Fernandes que nasceu no Canadá, o Manuel da Costa que nasceu na França, portanto é normal».