Portugal bateu os Camarões, em Leiria, com uma vitória clara por 5-1 naquele que foi o primeiro «ensaio» para o Campeonato do Mundo, o último antes de Paulo Bento divulgar a lista dos 23 eleitos que vão ao Brasil. Uma primeira parte, menos consistente, para testar um losango com muitas pedras novas, e uma segunda, com o tradicional 4x3x3, com os jogadores a deixarem claro que é assim que se sentem mais à vontade. Boas exibições de William Carvalho, Fábio Coentrão, Raúl Meireles e do incontornável Cristiano Ronaldo que matou o jogo e com uma assistência e dois golos que valem mais um recorde no seu impressionante currículo.

Confira a FICHA DO JOGO

Paulo Bento montou um onze assente numa estrutura base com cinco habituais titulares - os laterais, duas peças no meio-campo e Cristiano Ronaldo - aos quais juntou três jogadores que têm jogado com regularidade nos respetivos clubes – Beto (Sevilha), Rolando (Inter Milão) e Neto (Zenit) – e três promovidos dos sub-21 – William Carvalho, Rafa e Ivan Cavaleiro. Sem Hugo Almeida, o selecionador abdicou, numa primeira fase, do tradicional 4x3x3, para distribuir os jogadores num 4x4x2 em losango, com William Carvalho à frente da defesa, Moutinho e Meireles mais abertos na zona central e Rafa nas costas do CR7 e Ivan Cavaleiro.

No papel parecia uma boa receita, mas a verdade é que a estrutura demorou uma eternidade a ganhar forma. A seleção até podia ter entrado a ganhar, numa combinação entre Meireles e Rafa, mas depois perdeu uma eternidade de tempo a tentar perceber como é que ia travar um adversário que, em 4x3x3, explorava bem os flancos, com Moting e Etoo bem abertos nas alas e um inspirado Aboubakar, avançado do Lorient, a provocar muitas dores de cabeça na zona central. Quatro cantos consecutivos para os Camarões não eram um bom sinal.

Os destaques do jogo: Ronaldo faz história

Na primeira vez que o onze experimental fez sentido em campo, deu golo, aos 20 minutos. Um lance que começa a ser desenhado por Ivan Cavaleiro e Rafa, a progredir depois para uma combinação entre Cristiano Ronaldo e Moutinho, com o médio do Mónaco a esticar o jogo para a direita, com uma solicitação para a entrada de João Pereira. O lateral colocou a bola numa zona fatal, onde CR7 não falha. Bastou tirar Nkoulou do caminho, remate cruzado e golo. Um golo especial, diga-se, já que permite a Ronaldo descolar de Pauleta e, com 48 golos, passar a ser o melhor marcador de todos os tempos da seleção. Um golo que podia servir de incentivo para o início de uma boa exibição. Uma arrancada de Coentrão e um desvio de calcanhar de Rafa reforçavam a ideia: agora é que vai começar o jogo...mas não.

Logo a seguir, novo mergulho na apatia, com muitos passes precipitados a dificultar a ligação entre o meio-campo e a frente de ataque. Rafa e Ivan Cavaleiro recuavam em demasia para ir buscar jogo, Meireles e Moutinho não o conseguiam levar lá para a frente. Os Camarões voltaram a crescer e a chegar com facilidade à área de Beto. Num alívio de cabeça de Neto, Itandge voltou a colocar a bola na área e destacou Aboubakar. A defesa portuguesa ficou a pedir fora de jogo, enquanto o avançado batia Beto com facilidade, num lance em que Coentrão colocou o carimbo de validade. As coisas não estavam a correr bem, como ficou ainda mais evidente numa picardia, que já vinha a crescer desde os primeiros minutos, entre Fábio Coentrão e Alex Song.

Quatro golos no regresso ao 4x3x3

Paulo Bento não precisou de ver mais para mudar e voltou do intervalo com o tradicional 4x3x3 artilhado, abdicando de Rafa [saiu com nota positiva], para colocar Edinho entre Ivan Cavaleiro e Ronaldo. É assim que a seleção tem jogado nos últimos anos e é assim que os jogadores se sentem mais à vontade em campo, como ficou demonstrado no bom arranque da segunda parte, com o jogo a fluir com maior naturalidade, com jogadas ao primeiro toque, até à grande área dos Camarões. Moutinho e Meireles, bem sustentados por William Carvalho [o Veloso que se cuide...], cresceram no jogo. Cristiano Ronaldo conquistou o flanco esquerdo. As oportunidades sucederam-se ao ritmo dos pontapés de Meireles, Coentrão e Ronaldo que colocaram Assembe à prova.

Os Camarões, não esquecer que também são finalistas no Mundial, tentavam responder, mas pela frente encontravam um adversário que, agora, defendia cada vez mais à frente. Portugal começava a pressionar os Camarões logo na fase de construção, colocando em evidência o ponto mais fraco desta seleção africana que, no setor mais recuado, tem um óbvio défice de técnica. Essa pressão resultou em dois golos num espaço de dois minutos. Primeiro um mau passe de Chedjou a oferecer o golo a Meireles, depois um grande passe de Ivan Cavaleiro [que classe!], quando a defesa dos Camarões vinha a sair, a destacar Coentrão, que fez o terceiro com facilidade.

Rafa e Ivan Cavaleiro entram no clube, mas já não devem ir a tempo

Estava encontrado o ponto de equilíbrio e, a partir daqui, pareceu tudo mais fácil. Paulo Bento foi trocando as peças, mas a máquina continuou a funcionar ao mesmo ritmo. Cristiano Ronaldo, agora sobre a ala, arrancou em velocidade para o quarto golo, assinado por Edinho, depois de uma primeira defesa de Assembe. Já com Coentrão a jogar como extremo, com Antunes nas costas, e Varela a ponta de lança, Ronaldo fez o quinto, com um remate à meia-volta, ficando à beira da meia centena [a jogar assim e ainda com três jogos pela frente, a marca redonda deverá chegar antes do Brasil].

Um bom ensaio para o Campeonato do Mundo, com dois sistemas de jogo testados, boas indicações de quase todos os jogadores, grande ambiente em Leiria e uma boa dor de cabeça para Paulo Bento que vai ter de tomar decisões finais até 19 de maio.