Era uma seleção com um capitão cinco vezes Bola de Ouro, foi uma seleção com uma estrela que chegou aqui pelo esforço e trabalho duro daqueles que são feitos no «futebol real». Aquele futebol que há fora das elites dos grandes, mesmo que ninguém perceba a importância de que ele exista.

Portugal ganhou à Suécia porque Diogo Jota ganhou uma oportunidade. Não esta, mas aquela em que alguém acreditou que um rapaz vindo das escolas de Gondomar e Paços de Ferreira podia um dia ter nome no futebol internacional. Aqueles que viram para lá do mediatismo e encontraram talento e trabalho conjugados num só. Claro, Jota não ganhou sozinho aos suecos, mas fez toda a diferença.

Com Cristiano Ronaldo colado a um plasma em Turim e a França a jogar na Croácia, a seleção veio para o relvado com um onze que até era esperado. Portugal metia talento, os suecos metiam pragmatismo máximo.

Foi assim, basicamente, que se jogou o primeiro tempo. Diogo Jota desequilibrou pela esquerda, William equilibrou ao meio e, sempre que teve bola, a seleção meteu habilidades que os suecos não têm. Por isso, os primeiros minutos foram dos campeões europeus.

Portugal combinou e combinou, teve posse de bola trabalhada e mesmo que Guerreiro não surgisse pela ala como surgia Cancelo, havia sempre a sensação de que a defesa sueca se ia desequilibrar a dada altura.

E essa altura foi o minuto 21. Rúben Dias ganhou um duelo, Bruno Fernandes teve receção preciosa e passe curto para Diogo Jota que serviu Bernardo Silva de bandeja. O 1-0 era lógico, pelo que Portugal fazia e porque Lustig, num canto, tinha atirado para fora a melhor ocasião dos visitantes.

O que nos leva ao segundo tema: a Suécia não é vistosa, mas sabe o que faz. Os últimos 15 minutos do primeiro tempo foram em direção à área de Rui Patrício. Bastante verticais e a aproveitar o facto de Portugal estar pouco compacto sem bola, os escandinavos ora jogavam para Berg segurar, ora abriam para Kulusevski criar.

A Suécia rondou a área constantemente, e o perigo bateu mesmo no poste. Por isso mesmo, o 2-0 foi o evento mais importante da partida. Pela beleza do passe de Cancelo, mas sobretudo porque Jota teve a eficácia que nenhum adversário conseguiu. Ao intervalo, não havia dúvidas de quem era melhor sobre o relvado: Diogo Jota, o menino de Gondomar.

O bis, só para ficarmos esclarecidos

Costuma-se dizer, quando se fala do interior, que esse é o «país real». Ora, o interior do futebol português é todo aquele que fica fora da esfera de Benfica, FC Porto, Sporting, Sp. Braga e Vitória Guimarães. É o «futebol real», o futebol onde o dinheiro não abunda, mas onde a paixão e a dedicação se equivalem. Diogo Jota formou-se nesse mundo, com passagem de uma época pelo outro, o da elite antes de se tornar emigrante, como faz, lá está, muita gente desse interior português.

Hoje, também ele joga num grande, dos maiores clubes do mundo e se alguém duvidar porquê, mostrem-lhe este jogo.

Porque a Suécia veio insistente para o segundo tempo, a seleção teve de baixar linhas e com Félix lá mais longe e cada vez mais exausto, era difícil esticar jogo. Patrício, Rúben Dias e Pepe seguraram atrás, para depois, numa arrancada incrível, Diogo Jota dizer que também ele está aqui, com aquele 3-0.

Foi uma vitória da seleção, que lidera o grupo na Liga das Nações com os mesmos pontos de França. Mas foi, sobretudo, uma vitória de todos aqueles que jogam em clubes secundários e que ainda sonham um dia vestir a camisola da seleção, nem que seja para ser o substituto do maior jogador de todos que a vestiram.