Nani foi uma das grandes figuras da seleção portuguesa no Euro 2016, que culminou com a consagração da equipa nacional como campeã europeia. Em entrevista à FIFA, o extremo português voltou a algumas das memórias de julho último e ainda mais atrás. «O futebol salvou-me de me meter em problemas», lembrou Nani.

O camisola 17 da seleção começou por dizer que «o título europeu é o mais importante e aquele que significa mais, porque foi ganho pela seleção», quando comparado com outros que já venceu – 5 ligas inglesas, duas taças de Portugal, uma Liga dos Campeões entre os principais.

«É algo que nós jogadores sempre sonhámos, estou muito orgulhoso de poder representar o meu país e alcançar algo tão importante para nós», continuou.

Nani recordou que a rota até à glória europeia foi bastante complicada, sobretudo para alguém que cresceu nos arredores de Lisboa e facilmente se podia ter desviado para maus caminhos.

«Sempre tive de lutar muito», contou. «Passei por muito desde criança e continuo a lutar para manter aquilo que quero na minha vida», sublinhou Nani.

«Também tive uma luta intensa no futebol para atingir os objetivos que propus a mim próprio. Sempre pensei que isso fosse possível. Hoje, estou muito satisfeito com o que alcancei porque sou o único que sei aquilo que passei e o quanto tive de lutar para chegar aqui», prosseguiu o internacional português.

Nani fez questão de exemplificar com o filho: «Quero mostrar-lhe onde estava, onde comecei, onde joguei. Quero que ele saiba que nem tudo na vida é tão fácil quanto parece agora. Estou a tentar fazer com que ele seja uma boa pessoa, que possa alcançar as suas metas no futuro.»

É por isso que o agora extremo do Valência crê que o seu passado «pode ensinar muito [às crianças]». E particularizou: «Pode mostrar-lhes que um dia podem ser como eu, porque apesar de passarmos por tempos bastante difíceis na vida, temos de lutar e procurar a felicidade. Não devíamos deixar os nossos sonhos. Se lutarmos, coisas boas acontecem no final. Não há dúvidas de que o futebol salvou-me de meter-me em problemas quando era miúdo. Não vou dizer que nunca fiz nada de errado. Onde eu vivia, isso era normal. Fiz algumas coisas erradas com os meus amigos, coisas de miúdos, que me desviavam do caminho certo. Mas quando chegava a hora de jogar futebol, deixava tudo de lado. Mantinha-me ocupado e para mim tudo girava em torno do jogo. Foi assim que me livrei das coisas más.»

«Mais respeito por Portugal? Se calhar deviam, não era?»

Nas declarações ao site do organismo que tutela o futebol mundial, Nani repassou um dos acontecimentos fulcrais da final do Euro 2016, com a França. A lesão de Ronaldo.

«Lembro-me que foi um momento triste. Ele é o nosso capitão, uma pessoa pela qual temos um grande respeito e alguém que lutou muito por nós. Portanto, nesse momento, quando vi que estava lesionado senti-me triste quando ele disse que não podia continuar», afirmou.

«Jogar aquela final era um momento especial para todos, em particular para ele, por isso foi extremamente triste. Disse-lhe que não o ia desiludir, que ia dar tudo e que íamos tentar vencer o jogo, porque merecíamos. Foi um momento chave. A nossa mentalidade mudou e jogámos o futebol que tínhamos dentro de nós. Lutámos e no final venceu a equipa que sofreu mais», considerou Nani.

Um dos episódios de bastidores da seleção foi o facto de Cristiano Ronaldo ter entregue a bota de prata ao colega. O capitão português reconheceu o mérito a Nani, que agora narrou o episódio: «Marcámos os mesmos golos no torneio e fiquei realmente agradecido pelo presente. Foi um gesto simpático e tocou-me. Ele disse: Estou a dar-te isto pela tua atitude, por todo o teu esforço e por tudo o que fizeste nesta equipa porque ajudaste muito.»

Ainda no âmbito da seleção, o internacional português foi questionado sobre se o facto de Portugal ser campeão europeu fazia com as que outras equipas tivessem mais respeito pela equipa. «Fazia sentido que o fizessem, não fazia?», interrogou e riu Nani, de acordo com o entrevistador.

«Mas não importa se não o fazem, o mais importante é o que nós fazemos. Vamos continuar com a mesma ambição e ter prazer no nosso futebol, como sempre. Depois de vencermos o Euro, estamos muito fortes e cheios de confiança», atirou.

Portugal defronta a Suíça, em Basileia, nesta terça-feira, no primeiro jogo de qualificação para o Mundial 2018. «Temos de começar bem e tentar impor as nossas qualidades desde o começo, de modo a que não nos preocupemos no final», referiu Nani, sobre o apuramento.

«Sabemos que a Suíça é uma equipa muito forte e vão jogar em casa, portanto, não será fácil. Para além disso, agora que somos campeões europeus, as outras equipas vão estar ainda mais determinadas em vencer-nos. Mas o nosso objetivo é ganhar qualquer jogo», garantiu

Nani declarou que «vencer o Mundial é um dos objetivos» e explicou o porquê: «Quando se começa a vencer, não se pode mudar de atitude. Obviamente, não há uma garantia de que se vai ganhar sempre, mas a ambição e atitude têm de estar lá sempre. O futebol é um jogo de sonhos e temos de continuar a sonhar para alcançar grandes coisas, como o Euro. Temos de ver o que acontece na qualificação do Mundial, mas vamos tentar levar Portugal o mais alto possível.»

Valência no melhor momento da vida

Nani comentou ainda o facto de ir jogar contra Ronaldo na liga espanhola, uma vez que se mudou para Valência neste verão. «Já vi quando é que nos defrontamos e é cedo (risos). Ainda não falei com o Cristiano sobre isso, mas vai ser difícil para nós, porque o Real Madrid é uma equipa forte com os melhores jogadores do mundo. Mas é um jogo, o mundo inteiro vai estar a ver e nós queremos ganhar», assumiu o extremo.

De resto, Nani justificou a mudança de clube, porque «queria muito jogar em Espanha» e concluiu: «Esta oportunidade surgiu no melhor período da minha vida. Acho que posso contribuir com trabalho árduo e uma mentalidade forte. Quero ajudar o Valencia e dar tudo o que tenho. Começámos a liga com duas derrotas e não é assim que se deve começar. Precisamos de melhorar algumas coisas, mas temos condições para jogar bem e vencer.»