Portugal dá o pontapé de saída no Europeu de sub-21 nesta quarta-feira, frente à Geórgia (17h00), com o estatuto de vice-campeão em curso e à procura de conseguir um título que nunca venceu, depois de ter sido três vezes finalista. E com outro objetivo em jogo pelo caminho, a qualificação olímpica.

O Maisfutebol olha para o Europeu que se joga na Geórgia e na Roménia e se prolonga até 8 de julho, a competição que junta craques já em plena afirmação mas também muitas promessas. A este nível já não há hoje muitos segredos, mas esta é sempre uma montra especial – tanto que a UEFA até reserva bilhetes especiais para scouts, os olheiros que têm como missão detetar e indicar talentos aos clubes.

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Como está Portugal?

Portugal chega ao Europeu depois de uma campanha de qualificação autoritária, mas com baixas de peso para a fase final e um golpe duro de última hora, a perda de Fábio Vieira. O médio do Arsenal que há dois anos foi eleito melhor jogador do Europeu falha a segunda presença na competição por lesão. Antes dele já tinha caído da lista Tomás Tavares, a juntar-se a outras baixas por motivos físicos que condicionam as opções na defesa, como João Mário, Tiago Djaló ou Tomás Esteves. David Costa, avançado do Lens que era um dos jogadores de reserva, também se lesionou.

Além disso, Rui Jorge não conta com vários jogadores que já ganharam estatuto de internacionais AA mas fizeram parte da qualificação, desde logo Gonçalo Ramos, o melhor marcador da fase de apuramento, com 12 golos, mas também o médio Vitinha ou o central Gonçalo Inácio. Além de António Silva, que somou apenas uma presença nos sub-21, em setembro do ano passado, antes de saltar diretamente para a seleção principal.

Nos 23 convocados estão maioritariamente jogadores que passaram pela qualificação, ainda que alguns tenham perdido o barco para a lista final, como o defesa Eduardo Quaresma, o jogador que somou mais minutos no apuramento mas teve uma época muito apagada no Hoffenheim, ou o avançado Tiago Tomás, um dos jogadores que já tinha feito parte da campanha até à final do Euro 2021.

Na lista atual, Francisco Conceição é o único repetente do Europeu de há dois anos. Nessa altura, o agora jogador do Ajax tinha apenas 18 anos e tornou-se aliás o mais novo de sempre a marcar por Portugal num Europeu da categoria, com o golo à Suíça na fase de grupos.

Desta vez a grande novidade entre os convocados é João Neves. O jovem de 18 anos ainda não tem qualquer internacionalização sub-21, mas foi aposta de Rui Jorge depois de ter terminado a época a afirmar-se no meio-campo do campeão nacional Benfica. Em cima da hora também ganhou lugar o benfiquista Diego Moreira, chamado face à ausência de Fábio Vieira quando já tinha integrado o grupo da seleção sub-19 que prepara o Europeu. O guarda-redes Francisco Meixedo, do FC Porto B, é o outro dos jogadores convocados para a fase final que ainda não soma qualquer internacionalização na categoria.

Na qualificação, Portugal somou nove vitórias e cedeu apenas um empate, frente à Islândia. Marcou 41 golos, mais do que qualquer outra equipa, e sofreu apenas três, num grupo que integrava ainda Grécia, Bielorrússia, Chipre e Liechtenstein – que Portugal venceu por 11-0 em Vizela, a vitória mais folgada de sempre dos sub-21.

Os convocados de Portugal

Guarda-redes: Celton Biai (V. Guimarães), Francisco Meixedo (FC Porto) e Samuel Soares (Benfica);

Defesas: Alexandre Penetra (Famalicão), André Amaro (V. Guimarães), Leonardo Lelo (Casa Pia), Nuno Tavares (Marselha), Bernardo Vital (Estoril) Tomás Araújo (Gil Vicente);

Médios: Afonso Sousa (Lech Poznan), André Almeida (Valencia), Diego Moreira (Benfica), João Neves (Benfica), José Carlos (V. Guimarães), Paulo Bernardo (Paços Ferreira), Samuel Costa (UD Almería), Tiago Dantas (PAOK) e Vasco Sousa (FC Porto);

Avançados: Fábio Silva (PSV Eindhoven), Francisco Conceição (Ajax), Henrique Araújo (Watford ), Pedro Neto (Wolverhampton) e Vitinha (Marselha);

O que espera Portugal no Europeu?

A seleção portuguesa integra o Grupo A, com a anfitriã Geórgia mais dois rivais de peso, Países Baixos e Bélgica. Na estreia, terá pela frente uma seleção que perdeu a sua grande estrela. Khvicha Kvaratskhelia, figura maior do scudetto do Nápoles, estava pré-convocado mas abdicou do Europeu, ele que integra a seleção principal da Geórgia nesta janela de junho de qualificação para o Euro 2024. Na preparação para o Euro, Portugal venceu em setembro passado a Geórgia (4-1), que tem na baliza Giorgi Mamardashvili, o guarda-redes do Valência, e conta com vários jogadores a atuar em campeonatos estrangeiros. 

Esse é aliás um ponto que distingue o grupo de Portugal, o qual integra algumas das equipas mais «internacionais» deste Europeu. Começando pela seleção nacional, que tem entre os 23 convocados 10 a jogar no estrangeiro.

Os Países Baixos são o segundo adversário de Portugal, com encontro marcado para o próximo sábado. Duas vezes campeã, em 2006 e 2007, a seleção neerlandesa tem muitos nomes que já dispensam apresentações, desde logo Ryan Gravenberch, o médio do Bayern. Além de referências como Kenneth Taylor e Brian Brobbey, companheiros de Francisco Conceição no Ajax, ou Quili Hartman e Quinten Timber, campeões pelo Feyenoord, a «Laranja» tem 12 jogadores que atuaram na última época em campeonatos estrangeiros, da Premier League à Bundesliga.

A Bélgica será o último adversário de Portugal, com encontro marcado para a próxima terça-feira. Também fez uma fase de grupos muito convincente, foi aliás a primeira seleção a qualificar-se. Venceu seis jogos, cedeu apenas dois empates e teve a melhor defesa do apuramento, com apenas dois golos sofridos. Logo a seguir, com três golos sofridos, ficaram precisamente Portugal e os Países Baixos. O central Zeno Debast, que foi lançado por Roberto Martínez na seleção AA, é uma das referências, tal como o avançado Lois Openda, goleador do Lens na campanha até ao segundo lugar da Ligue 1.

Na análise ao grupo, Rui Jorge destacou a Bélgica como «uma equipa bastante perigosa em contra-ataque». «Os Países Baixos assemelha-se ao nosso estilo de jogo, mas é igualmente muito difícil de bater», disse.

O selecionador evitou definir objetivos, insistindo no discurso que defende desde que assumiu o cargo, a ideia de que a seleção sub-21 é um espaço de crescimento que procura potenciar a qualidade. «Procuramos conseguir nestas fases finais demonstrar a qualidade do nosso jogador, da nossa equipa», afirmou: «Temos o objetivo e, se o fizermos da maneira que por vezes conseguimos, estaremos próximos de conquistar alguma coisa.»

Qual é a história de Portugal no Europeu sub-21?

As expectativas em torno de Portugal são alimentadas pela demonstração de força na qualificação, mas também pelo estatuto de uma seleção que foi duas vezes finalista nas últimas quatro edições da competição. Mas que continua à procura do primeiro título. Portugal já foi campeão europeu de seniores, de sub-19 e sub-17, foi duas vezes campeão do mundo de sub-20, mas nunca venceu um troféu maior com as Esperanças.

Portugal tem oito presenças em fases finais nas anteriores 23 edições da prova e a primeira foi em 1994, precisamente no ano em que a prova passou a ter decisão num único país, então a partir das meias-finais. Antes disso, com uma equipa de luxo assente essencialmente naquela a que chamaram Geração de Ouro, Portugal afastou a Polónia nos quartos de final. Depois, em França, superou a Espanha na meia-final, 2-0 com golos de Rui Costa e João Vieira Pinto. E chegou à final frente à Itália, decidida num golo de Orlandini no prolongamento, no tempo em que valia o golo de ouro. Recorde aqui. Figo foi considerado o melhor jogador do torneio, uma distinção que só passou a ser oficializada pela UEFA em 2013. Quanto a Orlandini, numa Itália que tinha nomes como Toldo, Panucci, Cannavaro ou Pippo Inzaghi, nunca chegou a ser internacional AA.

Depois de presenças em 2002, 2004, 2006 e 2007, desde a chegada de Rui Jorge em 2011 os sub-21 estiveram em três fases finais. Falharam 2013 e 2019, ficaram pela fase de grupos em 2017, mas conseguiram duas presenças em finais.

Em 2015, outra seleção com enorme potencial protagonizou uma caminhada épica, marcada pela goleada de 5-0 à Alemanha na meia-final, mas que voltou a terminar em desilusão. A final com a Suécia em Praga arrastou-se até aos penáltis e ficou perdida quando Carlgren defendeu o penálti decisivo de William Carvalho, que aliás foi eleito o melhor jogador do torneio. Além do médio, essa seleção tinha outros jogadores que seriam campeões europeus por Portugal em 2016, como Raphael Guerreiro, Rafa e João Mário, mas tinha também Bernardo Silva, João Cancelo, Ricardo Pereira, Sérgio Oliveira ou Gonçalo Paciência. Recorde-a aqui

Passaram quatro anos e Portugal chegou a 2021, o Europeu que teve pela primeira vez 16 equipas e se jogou em duas fases por causa da pandemia, de novo com talento para dar e vender. Com sete dos jogadores que se sagraram campeões da Europa de sub-19 em 2018 e alguns também de sub-17, dois anos antes, e várias apostas de futuro a aparecer, a seleção nacional fez um campeonato perfeito até à final. Venceu os três jogos da fase de grupos frente a Croácia, Inglaterra e Suíça. Depois, superou os épicos quartos de final com a Itália (5-3 após prolongamento) e venceu a Espanha nas meias-finais. Na final frente à Alemanha, um golo de Lukas Nmecha no início da segunda parte acabou com o sonho. Um desfecho de pesadelo para uma grande seleção, que apenas dois anos depois já tem uma mão cheia de jogadores de pedra e cal na seleção AA. Recorde-a aqui.

Como estamos de favoritos?

São os suspeitos do costume e estão lá todos. Desde logo a Espanha, cinco vezes campeã, a última delas em 2019, e com mais três presenças em finais. Vinda de uma campanha de apuramento perfeita, com oito vitórias em outros tantos jogos, a Rojita tem dois jogadores a atuar em Portugal, os bracarenses Victor Gómez e Abel Ruiz, este a jogar já o segundo Europeu da categoria. Integrada no Grupo B, defronta a Croácia, a anfitriã Roménia e a Ucrânia, uma seleção que se debate com a disrupção motivada pela guerra mas integra ainda alguns dos campeões do mundo sub-20 de 2019, entre eles o avançado do Shakhtar Danylo Sikan.

O Grupo C tem duas fortes candidatas. A campeã em título Alemanha, que venceu dois dos últimos três títulos e esteve aliás nas três últimas finais, com o fenómeno Youssofa Moukoko como cabeça de cartaz. Mas também a Inglaterra, que continua a desenvolver muita qualidade desde cedo e integra, por curiosidade, Angel Gomes, o jogador do Lille que é filho de Gil Gomes, campeão do mundo sub-20 por Portugal em 1991. Completam o grupo a Chéquia, uma das dez seleções que já venceram a prova – foi campeã em 2002 – e Israel.

Também no Grupo D há dois óbvios favoritos. A Itália, que divide com a Espanha o estatuto de seleção com melhor palmarés da prova, e a França, que apesar de todo o potencial da sua formação, que se renova a cada ano, tem estado aquém no Euro sub-21, que só venceu por uma vez, em 1988. No grupo estão ainda a Suíça e a Noruega, outra seleção que tem crescido na formação e tem a maioria dos convocados a jogar em campeonato estrangeiros.

Então e como é afinal a qualificação olímpica?

Nos anos anteriores aos Jogos Olímpicos, o Europeu sub-21 serve de apuramento para a competição. Estarão em Paris 2024 as três melhores equipas do Europeu, uma vez que o quarto lugar da Europa para o torneio já está preenchido pela anfitriã França. Como além disso a Inglaterra não é elegível, por não competir individualmente a nível olímpico, está em aberto a possibilidade de se jogar um play-off para atribuir a última vaga.

Portugal, que já jogou esse play-off em 2007, perdido para a Itália, tem como objetivo também a qualificação olímpica, para aquela que seria apenas a sua quinta presença na competição, depois de 1928, 1996, 2004 e 2016. Rui Jorge já esteve na competição como jogador – em 1996, quando Portugal foi quarto, a melhor participação de sempre – e como treinador. Em 2016, levou uma seleção muito depauperada, depois de uma série de dificuldades para completar a convocatória, até aos quartos de final, onde perdeu frente à Alemanha.

A qualificação seria especial, assume Rui Jorge. «Adoro os Jogos Olímpicos. Adorei ter participado enquanto jogador e nesta última vez, já como treinador dos sub-21», disse o treinador em entrevista à Lusa: «Não é o mais importante na carreira de um futebolista, mas é um marco importante enquanto desportista, enquanto alguém que pratica uma atividade e que se habituou a ver grandes nomes do desporto mundial nessa prova.»