Será que Mourinho mudou? Estará esta época a ser o princípio do fim do treinador do Chelsea? As perguntas são colocadas, e também respondidas, nas páginas do diário El País. Num trabalho caracterizado pelo habitual brilhantismo do jornal de referência espanhol. Antes de mais, convém referir que a resposta é sim, Mourinho está a mudar e muito provavelmente está a viver o início do fim como treinador de topo.
Não terá mudado na sua forma de ser, continua a ser tão arrogante e pretensioso como sempre foi, mas alterou a forma de olhar o futebol.
O que no restrito mundo dos treinadores vencedores, faz toda a diferença. O jornal coloca como exemplo a resposta dada pelo português na conferência de imprensa que se seguiu ao empate caseiro com o Valencia, em jogo da Liga dos Campeões. «Se ganharmos no Mestalla, passamos às meias-finais. Se perdemos, há luta livre em Earls Court no dia das meias-finais e irei vê-la ao vivo com os meus filhos».
Uma resposta que faz soar o alarme
Ora olhando para o passado, não há memória de um treinador vencedor que pense que há mais coisas na vida para além do futebol. Que pense que ir ver luta livre com os filhos é mais importante do que estar presente nas meias-finais da Liga dos Campeões. Que passe uma mensagem para o exterior, como José Mourinho passou há umas semanas atrás, antes do jogo com o F.C. Porto, que «não se pode ganhar sempre, todos os anos, todas as semanas». Para explicar como é incompatível pensar que há vida para além do futebol e ao mesmo tempo ter sucesso foi referido o exemplo de Bill Shankly, histórico treinador do Liverpool, que dizia que o futebol era mais importante do que a própria vida ou a morte.
E que no dia do casamento levou a mulher a ver um jogo da segunda divisão. Mas, como Bill Shankly, poder-se-ia falar de Alex Ferguson. Homens que em comum têm o facto de ser fanáticos, obcecados e viciados em futebol. Do outro lado está Terry Venables. Escreve novelas, séries de televisão e diz que às vezes é preciso resignar-se com a derrota. Já foi seleccionador inglês e treinador do Barça. Nunca teve sucesso. Perante isto, e mesmo que continue a admirar-se, a dizer que sem ele o Chelsea nunca teria saído da cepa torta, Mourinho arrisca-se a deixar de vencer se perder a intensidade ganhadora. Se olhar para a derrota como uma forma de ir ver luta livre com os filhos. Diz o El País.