Sabe o que é «Superleague Fórmula»? Se não sabe ou tem apenas uma ideia, fica o link para o site oficial. Se conhece este campeonato provavelmente reparou que este domingo estiveram mais de 20 mil pessoas no Autódromo do Estoril a assistir à etapa portuguesa.
A assistência está longe de ser histórica para o Autódromo do Estoril, mas é significativa para uma competição desportiva, em Portugal. Basta dizer que na Luz, para o Benfica-Penafiel, também estiveram 20 mil pessoas (e no resto das partidas da Taça, tudo somado, não terão estado muito mais).
A passagem da «Superleague Fórmula» é um evento único, por isso não está sempre presente na comunicação social, que até tem olhado com desconfiança uma prova que tem um conceito novo, misturando clubes de futebol e carros. Para que a competição funcione é fundamental que passe na televisão, de preferência em canal aberto.
É isso que sucede em Portugal e em outros países. A prova do Estoril foi vista, em média, por cerca de 500 mil pessoas na televisão. Números bem diferentes do Benfica-Penafiel (1,8 milhões de espectadores, em média), no mesmo dia, no mesmo canal. Ou seja, a quantidade de interessados no evento era bem distinta, mas no local isso não se notou. Por quê?
Existem alguns factores que podem explicá-lo.
Promoção
Três dias antes da prova, o carro do «Liverpool» andou pela Marginal, entre o Estoril e Cascais, para espanto e divertimento das pessoas que por ali passavam.
Na sexta-feira, à noite, o Casino do Estoril recebeu o sorteio da prova, com a presença de todos os pilotos e dirigentes. Ambas as acções mereceram cobertura televisiva, contribuindo para a divulgação da «Superleague Fórmula».
No sábado, dia de treinos, foi possível mostrar tudo sobre os carros, os pilotos e a prova. E tudo é mesmo tudo. Acesso livre às «boxes», possibilidade de recolher comentários, fazer perguntas e ajudar a explicar o que se passa.
Experiência
No domingo, dia das duas corridas, o Autódromo recebeu então as tais 20 mil pessoas. Quem quis teve acesso às «boxes», pôde tirar fotografias com os carros e os pilotos. Muitas famílias, muitas camisolas do F.C. Porto e até piqueniques, coisa nunca vista naquele espaço. Para muitos era a primeira vez num espaço que faz parte da história do desporto português, mas onde nunca tinham ido. No futebol o adepto é mantido à distância e às vezes dá a ideia que pagar o bilhete é toda a participação que lhe é permitida.
Preço
No Autódromo a entrada era livre. Nos estádios de futebol paga-se e quase sempre de mais. Por isso o Estoril conseguiu construir um evento para a família, enquanto o futebol permanece um espaço essencialmente masculino.
Visibilidade
Hoje em dia, os eventos desportivos devem ser montados para a televisão. Na «Superleague Fórmula» os comentadores podem conversar com os pilotos, durante a volta de aquecimento e a partir das «boxes», diálogo que os espectadores seguem em casa. As câmaras, como na Fórmula um, mostram detalhes da condução e toda a acção da equipa. Tudo é aberto, o que transmite a sensação de que estamos lá.
Os «grandes» clubes, muito cheios de si próprios, dirão que não precisam de mais adeptos. Discordo, acho que precisam sobretudo de adeptos diferentes. Mas não vale a pena discutir o tema, na maior parte dos dias. Já me espanta a incapacidade de clubes médios e pequenos para abrir as portas e arriscar. No fundo, o futebol português continua sem perceber o óbvio. A começar pela Federação Portuguesa de Futebol.
P.S.: No Torreense-Académica, os melhores (?) lugares do estádio custavam 20 euros. É um preço incrível, alheio à realidade do país e que em nada contribui para fazer da ida ao futebol uma experiência significante.