A nossa casa é onde a felicidade nos bate à porta. Tantas vezes longe das nossas raízes, da rua onde esfolámos os joelhos, do muro que saltámos uma e outra tarde atrás de uma bola perdida. No caso de Sérgio Pinto, nado e criado em Vila Nova de Gaia, a felicidade é a Alemanha. O futebolista do Hannover 96, portuguesíssimo, é um caso paradigmático: poucos o conhecem no país-natal, muitos o admiram e respeitam em solo germânico.

Sete temporadas bem preenchidas na Bundesliga ajudam a elucidar: três clubes, 116 jogos e 11 golos. Em Hannover, onde vive actualmente, não pode dar um passo sem ser abordado. Seja para um autógrafo, seja para uma fotografia. No nosso país sucede precisamente o oposto. «Ando à vontade, como qualquer pessoa. Só fui abordado uma vez por um casal na Estação de São Bento. Eram alemães e reconheceram-me», diz, em entrevista ao Maisfutebol.

Sérgio Pinto e o colega Enke (vídeo)

«De facto, é essa a imagem que a minha própria família me transmite. Não entendo porquê. Jogo há muitos anos ao mais alto nível na Alemanha e poucas pessoas em Portugal o sabem. Insisto: sou português, orgulhosamente nortenho», brade Sérgio Pinto.

O médio-ofensivo é um case study. Formado nas categorizadas escolas do Schalke 04, passou nove épocas consecutivas em Gelsenkirchen. Jogou depois no Alemania Aachen e está há três anos no Hannover 96. Apesar do sucesso, nunca foi chamado a qualquer escalão da Selecção Nacional. «Jamais recebi um telefonema ou um pedido de informações. Fiz grandes épocas, marquei golos fantásticos e não se lembraram de mim», lamenta.

Do Douro a Gelsenkirchen, sempre de azul e branco

A história de Sérgio Pinto começa na margem sul do rio Douro. Cresce no âmago de uma família de portistas, apaixona-se pelo F.C. Porto e dá os primeiros pontapés a sério na Constituição. Durante quatro anos joga de dragão ao peito nas escolinhas e nos infantis. Depois, foi obrigado a partir.

«Os meus pais emigraram quando eu tinha 12 anos. Ainda fiquei em Portugal com os meus avós porque não me podia ir embora antes de ser campeão pelo F.C. Porto. Consegui sê-lo nos infantis e abalei logo para a Alemanha.»

«F.C. Porto? Ia a correr da Alemanha a Portugal»

Enquanto aprendia alemão e se adaptava a uma realidade necessariamente diferente, Sérgio jogou duas épocas no modestíssimo Tus Haltern. «É um clube da sétima divisão. Ficava perto de casa dos meus pais. Só depois fui para o Schalke 04. Grande clube! As pessoas vivem para ver os jogos da equipa. Gelsenkirchen é uma cidade triste, excepção feita aos 90 minutos dos jogos do Schalke. É azul e branco e basta!», graceja.

29 anos e só um objectivo: «Continuar a ser feliz»

Aos 29 anos, Sérgio Pinto olha para o futebol de outra maneira. O mais importante é «continuar a ser feliz». «A minha ligação ao Hannover acaba em Junho de 2010. Temos de conversar e ver o que é melhor para mim. Não me importo de jogar na II divisão. Acima de tudo, procuro continuar a ser feliz.»

Sérgio Pinto nunca teve a oportunidade de jogar na primeira divisão portuguesa. A ideia agrada-lhe. «Claro que gostava de voltar ao meu país. No entanto, não adianta falar muito sobre isso porque não tenho qualquer convite.»

A nossa casa é onde a felicidade nos bate à porta. Sérgio Pinto encontrou-a bem longe do sítio onde nasceu.

Sérgio Pinto na Bundesliga:

Schalke 04

1999/00: 2 jogos

2002/03: 8 jogos

2003/04: 13 jogos

Alemania Aachen

2006/07: 29 jogos, 2 golos

Hannover 96

2007/08: 20 jogos, 3 golos

2008/09: 23 jogos, 4 golos

2009/10: 21 jogos, 2 golos (incompleta)

Total: 116 jogos, 11 golos