Maria Sharapova é muito mais que a imagem. Para lá da bela loira russa das capas de revista e das passereles, da desportista mais rica e mais famosa do mundo há uma campeã, definitivamente na galeria dos grandes nomes do ténis. Essa é a certeza que Roland Garros confirmou. Talvez seja hora de deixar de olhar só para a cara bonita.

Em França, Maria chegou a nº 1 do mundo e completou um Grand Slam de carreira: vitórias nos quatro maiores torneios do planeta (Wimbledon, US Open, Open da Austrália e Roland Garros). Só 10 mulheres e o conseguiram em toda a história do ténis. E ela ainda tem apenas 25 anos.

Esta é a terceira vez que Sharapova está no topo do ranking mundial, a última foi há quatro anos, por meia dúzia de semanas. Mas é a primeira desde 2008, quando uma operação ao ombro a manteve afastada dos courts durante 10 meses. Nessa altura, ela podia não ter forçado muito mais. Afinal, já tinha tudo.

Já era a atleta mais rica do mundo. Há sete anos que lidera a lista da revista Forbes. No «ranking» de 2011 surge com 25 milhões de dólares ganhos, na grande maioria graças a uma longa lista de contratos de patrocínios. Ganha mais do dobro do que a segunda atleta na lista, a também tenista Caroline Wozniacki.

O sucesso no court de Sharapova é uma boa notícia para os que criticam a exposição a que são submetidas as mulheres no desporto, onde o critério de beleza física se sobrepõe muitas vezes a outros, no que diz respeito a notoriedade. Durante muito tempo, muitos olharam para ela com desconfiança. Seria apenas mais uma Kournikova?

As comparações eram inevitáveis. Russas, loiras, bonitas. Anos antes, Anna Kournikova tinha feito da beleza uma marca. Nunca ganhou um torneio WTA, mas era mais famosa do que qualquer outra tenista.

Sharapova, seis anos mais nova, parecia ser a próxima. E ela aproveitou o embalo, claro. Apareceu, muito, e ganhou muito dinheiro à conta disso. Mas não ficou por aí.

Maria percorreu um longo caminho desde que deixou Nyagan, na Sibéria, onde nasceu em 1987, estava a União Soviética já perto do fim. Aos sete anos participou numa «clinic» de ténis em Moscovo onde estava Martina Navratilova. Aos nove anos foi viver para os Estados Unidos, acompanhada do pai e sem a mãe, de quem esteve afastada durante dois anos, para estudar na academia de Nick Bolletieri, o guru do ténis mundial.

E evoluiu depressa. Tornou-se profissional em 2001 e em 2004, com 17 anos, venceu o torneio de Wimbledon. Estava lançada para a fama. Dois anos mais tarde ganhou o Open dos Estados Unidos e em 2008 ainda ganhou o Open da Austrália.

Seguiu-se a paragem inevitável por causa de um problema no ombro que a limitava há muito tempo. Foi um período frustrante, recorda. «Determinei tantas metas para mim, queria voltar mais cedo, mas demorava sempre mais do que estava previsto. Quando voltei ao court não sabia se podia competir ao mais alto nível e voltar a número 1. É por isso que chegar a número 1 e ganhar Roland Garros é tão especial», disse depois da vitória de domingo à CNN.

Enquanto esteve afastada chegou a cair até ao 126º lugar do ranking. E desde o início de 2010, quando regressou, recuperou tudo. Até conseguiu a vitória mais difícil de todas. Afinal, foi ela própria quem disse um dia que em terra batida, a superfície de Roland Garros, parecia uma «vaca no gelo». Pois bem, também já não parece.