Apontado como um jogador de temperamento difícil, Shikabala terá sido no final de contas vítima de uma guerra política. Essa é pelo menos a garantia de Manuel Cajuda.

O treinador português orientou o Zamalek entre 2005 e 2006, tendo trabalhado em alguns treinos com o provável futuro reforço leonino: pouco depois Shikabala saiu para o PAOK Salónica e quando voltou ao clube já não era Manuel Cajuda que estava no comando técnico da equipa.

Desses treinos que orientou com a presença de Shikabala, o treinador recorda um miúdo «com um talento que lhe provocava muitos sorrisos» mas que foi «uma vítima da guerra entre Zamalek e o Al Ahly, os dois maiores clubes do mundo árabe, que é também uma guerra política».

Shikabala a caminho do Sporting, anuncia empresário

Tudo começa numa questão: Shikabala não cumpriu o serviço militar obrigatório no Egito.

Com dezoito anos saiu para o PAOK, da Grécia, sem cumprir o período de tropa obrigatório. Por isso, explica Manuel Cajuda, o jogador esteve com a justiça à perna e falhou várias convocatórias das seleções nacionais com receio de regressar ao país.

«Teve algumas chatices. Dava para ver que era um miúdo humilde, que sorria muito, mas infelizmente teve esse problema do serviço militar e tornou-se vítima disso. Também por causa da disputa política entre Zamalek e o Al Ahly.»

Shikabala, de resto, esteve dois anos na Grécia e acabou por abandonar o clube, contra a vontade dos responsáveis gregos, com o argumento que tinha de voltar para o Egito para resolver estes problemas: não poderia ter abandonado o país sem cumprir o serviço militar obrigatório.

Quando voltou ao Egito gerou-se nova guerra entre Zamalek e Al Ahly pelo passe do jogador, que numa fase inicial parecia ter tudo encaminhado para assinar pelo Al Ahly mas depois acabou no Zamalek. Para tornar tudo mais difícil, o PAOK não aceitou a saída do jogador, apresentou uma queixa e a FIFA castigou o jovem jogador com seis meses de suspensão de toda a atividade e uma multa de 990 mil euros (quase um milhão, portanto).

A punição foi tão rígida, aliás, que o Zamalek enviou um pedido à FIFA para poder utilizar o jogador frente ao Olympic, no último dia dos seis meses de suspensão, e a resposta foi negativa.

No meio de todos estes problemas, portanto, a carreira de Shikabala acabou por não ter o desenvolvimento que toda gente imaginava que iria ter. Manuel Cajuda incluído.

«Tinha um valor impressionante. O conteúdo futebolístico que ele mostrava na altura ter permitia pensar que se iria tornar um grande talento. Foi pena depois não ter tido sequência», garante.

«Destacava-se pela maravilhosa técnica e pela magia do futebol. Tinha uma qualidade técnica de muito requinte. O talento que ele era na altura parece-me que se encaixaria muito bem dentro deste atual Sporting, que é das poucas equipas em Portugal que joga bom futebol.»

De acordo com o empresário, Shikabala chega nas próximas horas a Portugal para finalizar o acordo com o Sporting, numa altura em que se apresenta como jogador livre por ter rescindido com o Zamalek por salários em atraso. Aos 27 anos o talento egípcio não tem mais tempo a perder.