O Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) apresentou esta sexta-feira o estágio para futebolistas que não têm clube, que já decorre há dois meses e que vai durar até ao final do ano.
O projecto decorre no Estádio Nacional com treinos às terças e quintas-feiras (das 09h30 às 11h30) e a apresentá-lo estiveram o presidente do SJPF, Joaquim Evangelista, o responsável técnico, Mário Wilson, e os respectivos responsáveis quando aconteceu o primeiro estágio (em 2001/02), António Carraça e Mariano Barreto.
O pano de fundo da sala de conferências do sindicato, onde se promoveu esta iniciativa que «encerra razões sociais» e cujo «objectivo é arranjar emprego», nas palavras de Evangelista, foi composto alguns dos cerca de 60 jogadores que frequentam o presente estágio, como Canaco, Zé Ruca, Rodolfo, Flávio, Rodrigues, Bruno Velez, Xavier, Petit, Nelson Rodrigues e Agnaldo.
Com o problema dos jogadores sem emprego identificado e as tentativas de solução em marcha, o presidente do SJPF aproveitou para frisar algumas novidades em relação à iniciativa, como a formação profissional adstrita ao estágio, os jogos de exibição como oportunidades de captação e o torneio organizado pela associação internacional sindical dos futebolistas (FIFPro), que vai decorrer em Paris entre 14 e 18 Julho e que vai ter também o apoio da UEFA e FIFA solicitando os empresários para que estejam presentes [ver mais informação nos artigos relacionados].
António Carraça, o então presidente do SJPF na altura do primeiro estágio, destacou o carácter «inédito» desta acção no futebol português, que «continua numa recessão» havendo necessidade de «encontrar os meios» para a resolver, com esta acção como exemplo.
Mariano Barreto, o seu técnico de então considerou que a opinião comum é a de que «está tudo bem», mas lembrou os «muitos jovens que têm problemas na sua carreira» e os «muitos que participam em disputas de empresários e ficam depois abandonados». «É uma classe a que se não dá importância senão quando se está em altura de sucesso», sintetizou.
O actual responsável técnico do estágio para jogadores sem emprego, Mário Wilson, apontou assim a «coisa brilhante que está a ser feita», pois, como garantiu, «há gente com um valor enorme» mostrando-se «convencido de que [os jogadores] vão ser chamados [pelos clubes]».
O incumprimento salarial e a inércia
Joaquim Evangelista tem marcado este início de mandato como presidente do SJPF também com um alerta para o incumprimento salarial e reconheceu a «noção de que a realidade é preocupante», mas criticou a «inércia das entidades desportivas», nomeadamente, a Liga e a FPF, mas sem deixar as responsabilidades governamentais de fora.
Neste sentido, Evangelista explicou por que não é o sindicato a apontar quais são os clubes que têm salários em atraso para com os jogadores (80 por cento nas divisões profissionais e 90 por cento nas outras). «O Sindicato é parte da solução e não do problema», disse apontando que «a responsabilidade por não se saber quem são os clubes é da Liga e da FPF», até porque o SJPF «tem o dever de lealdade e sigilo para com os jogadores».
O presidente do sindicato voltou a salientar o «desequilíbrio» que há na relação entre o clube empregador e os jogadores para explicar por que muitos destes não denunciam as situações. Evangelista apontou os « blackouts [impostos], as colocações nas equipas B, ou os dirigentes a entrarem pelas casas dos jogadores», no que chamou como autênticos «casos de polícia».
«Os jogadores ficam a jogar na esperança de irem receber mais tarde», reconheceu o dirigente sindical, mas acabando por revelar que o problema está longe de ser resolvido: «Ainda hoje, antes de vir para esta reunião, tive o conhecimento de mais uma dezena de casos». E queixou-se da demora em encontrar uma solução: «A própria secretaria de Estado [do Desporto] adiou a resolução dos problemas para um congresso.»