André Gomes somou este sábado o sétimo jogo pelo Valência, na Liga espanhola.

Sete foi também o número jogos que fez pelo Benfica, na Liga portuguesa, em 2013/14.

Se olharmos para os minutos, André Gomes tem agora 516 na Liga espanhola (sempre titular, foi substituído quatro vezes), na época passada somou apenas 272, na Liga.

Aos 21 anos, André Gomes tem quase tantos minutos na Liga espanhola, onde está há dois meses, como na Liga portuguesa, onde começou a jogar com relativa frequência em 2012/13.

Isto significa que André Gomes ficou adulto de repente ou que adquiriu fantásticas competências durante o verão? Nada disso. Quer dizer apenas que o médio português encontrou um treinador que olha para ele e vê um jogador de grande dimensão. Como, aliás, Paulo Bento também via.

O caso de André Gomes é só um pouco mais evidente do que o de Bernardo Silva, também ex-jogador do Benfica, que leva 269 minutos no campeonato francês. Aos 20 anos, saiu de Portugal depois de ter competido apenas dez minutos no campeonato nacional.

A recente convocatória de Fernando Santos trouxe à luz outros dois jogadores, de idades diferentes, que representam o que tem sido o futebol português na última década.

José Fonte, 30 anos, e Ivo Pinto, 24, são pouco conhecidos no país onde começaram a jogar. 

O defesa central passou por Sporting e Benfica, mas sem oportunidades. Acabou por sair, depois de alguns empréstimos. Fixou-se em Inglaterra, onde finalmente encontrou estabilidade no Southampton.

O lateral direito tem 24 anos, vestiu a camisola de Boavista e FC Porto. Mas as verdadeiras hipóteses nos seniores não apareceram. Emigrou. Primeiro a Roménia, agora a Croácia.

José Fonte é pior do que alguns dos centrais que Sporting e Benfica têm nos plantéis? Claro que não.

Ivo Pinto não podia pelo menos aspirar a ser a sombra de Danilo no FC Porto? Claro que sim.

Ao contrário do que muita gente escreve, a qualidade dos mais novos não é escassa. O que escasseia são as verdadeiras oportunidades, na passagem de júnior para sénior. 

Com exceção do Sporting e do Vitória de Guimarães dos tempos recentes, as portas têm estado quase sempre fechadas para quem tem 19 ou 20 anos e nasceu em Portugal. O problema não é dos jogadores, nem de quem os forma. O problema tem sido dos dirigentes e dos treinadores.

É por isso que acho que isto só se resolverá por via regulamentar, obrigando os clubes a competir com mais jogadores portugueses. Está tudo nas mãos da Federação Portuguesa de Futebol.