No meio da confusão que marcou o conturbado dezembro em Alvalade sobressai um nome: Marco Silva.

Não podemos afirmar que sai reforçado porque, todos sabemos, a posição de treinador é a mais frágil numa equipa de futebol. E aquela que menos depende de votos de confiança, que geralmente até funcionam ao contrário do que supostamente pretendem significar.

Na verdade, Marco Silva terá, no máximo, conquistado tempo, um pouco de fôlego para continuar o seu trabalho num ambiente mais tranquilo. E digo tempo porque Bruno de Carvalho será dos presidentes mais complicados com quem se trabalhar, se o que o técnico em funções pretenda for um ambiente calmo. Algo que, aposto, todos querem.

No entanto, é Marco Silva o único que sai com a imagem imaculada de todo o processo. Não só conseguiu continuar a vencer – é preciso não esquecer o que já tinha conseguido com a eliminação do FC Porto na Taça e a boa Liga dos Campeões, mesmo com os dez pontos de atraso para o Benfica na Liga –, como manteve a sua postura digna, com declarações que, no meio do blackout imposto, procuraram retirar peso ao que se passava fora dos terrenos de jogo. Por fim, este sábado, no final do encontro com o Estoril, foi ele que deu o passo para as pazes públicas com o seu presidente, apertando-lhe a mão.

O treinador reforçou a imagem de profissionalismo e seriedade que nenhuma declaração de Bruno de Carvalho, de outro dirigente ou de um ou outro comentador de circunstância conseguiu diluir.

Resistiu a tudo.

O presidente falou de reforços – Marco soube dos mesmos pelos jornais.

Depois de 14,7 milhões gastos no início da época (números oficiais do clube), com Paulo Oliveira a ser o único reforço com lugar no onze (e Nani, mas este chegou a custo zero, por empréstimo), percebem-se as reticências em novo investimento forte. No entanto, a verdade é que essa verba, melhor utilizada, poderia ter ajudado a reforçar o setor mais fragilizado, a defesa, com mais qualidade e experiência. O Sporting sempre pareceu ter menos opções que os grandes rivais, e a candidatura ao título tantas vezes repetida tornou-se uma pressão desnecessária depois de uma época em que tudo correu demasiado bem e a Liga contou com menos FC Porto e Sp. Braga do que o costume.

Houve o pedido do voto de confiança por parte de Bruno de Carvalho em Assembleia Geral.

A «poeira» de Inácio.

O contrato de Marco Silva acabou nos jornais, com cláusulas de rescisão expostas, fragilizando-o.

E surgiu em cena um novo ator, com declarações que se viraram contra o feiticeiro, e que até estimulou o movimento popular em torno do treinador.

Marco Silva continuou a ganhar, e a falar sempre de forma correta. Defendeu a sua equipa, mais do que qualquer um dos outros.

P.S. Bruno de Carvalho, que tem estado bem na reestruturação financeira do clube, conseguirá estender uma boa influência à equipa de futebol no dia em que perceber que os murros na mesa só fazem ruído, sobretudo quando não há razões para dá-los. Perder não é sempre causa de falta de atitude dos jogadores. E a culpa muitas vezes nem é do treinador. De Marco Silva parece ter sido muito poucas vezes.

Luís Mateus é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no Twitter.