Tem de haver um pioneiro.

Em 2019 Jorge Jesus fez o caminho inverso ao que nos habituámos a ver no mercado internacional de treinadores de futebol: foi de Portugal para o Brasil.

O sucesso que teve, com mais títulos do que derrotas num ano de trabalho, abriu as portas do Brasileirão a outros técnicos portugueses. Já se sabe, não têm todos a mesma qualidade.

A aposta do Palmeiras em Abel Ferreira, há pouco mais de três anos, não deixou de ser arriscada. O clube paulista, todavia, parecia saber ao que ia, pagando a cláusula de rescisão para tirar o treinador do PAOK da Grécia – onde nada tinha ganho.

Abel chegou ao Brasil como um desconhecido, com zero títulos como treinador, mas uma tremenda vontade de vingar e uma fé inabalável no seu trabalho.

Hoje é o segundo treinador mais titulado da história do clube, em termos absolutos; o primeiro que conseguiu ganhar títulos regionais, nacionais e continentais no ‘Verdão’.

Não é fácil ser treinador no Brasil – será até dos locais mais difíceis para exercer a profissão - dada a instabilidade constante, a ‘cobrança’ excessiva, a facilidade com que se despede, a volatilidade dos ‘projetos’.

Além, claro, da falta de tempo para treinar, da frequência caleidoscópica com que se joga, da adaptação que é necessário fazer a esse ritmo frenético.

Abel chegou e disse que tinha de ganhar; pois bem, ganhou.

E quem disser que este campeonato foi mais perdido pelo Botafogo do que ganho pelo Palmeiras, deve recordar que outras equipas pareciam surgir mais embaladas e apetrechadas na reta final (Flamengo e Atlético Mineiro; até o Grémio) mas não tiveram a consistência do Palmeiras. Perdão, deste Palmeiras.

A consistência resulta do trabalho de qualidade – que se reflete também na confiança dos jogadores, da equipa, do clube, dos adeptos. Ganhar parece ser uma consequência natural. Parece fácil…

Abel tem mais um ano de contrato, mas diz-se que pode sair. Para o Qatar, por um ‘camião de dinheiro’. Até porque, diz a teoria, ninguém o conhece na Europa. Do Brasil, só mesmo para as arábias. Ou para Portugal. Se vencer em Portugal, então sim, poderá chegar a outros mercados europeus.

Será mesmo assim? Em tempos de globalização e com acesso tão fácil à informação?

 Mas essa nem é a parte mais intrigante. O facto de, em Portugal, ainda se duvidar do valor de Abel é que custa mais a perceber.

O lateral batalhador de Penafiel que subiu na carreira à custa de muito trabalho, esfarrapando-se até rebentar um joelho, será muito melhor treinador do que foi jogador. E merece crédito. Não será o melhor treinador do mundo, mesmo que venha ser, como dizem os boatos, o mais bem pago do planeta. Mas é bom. Muito bom.

E era bom acreditar nisso.