Bruno Fernandes já o disse publicamente: o seu ídolo de adolescente era Ronaldinho. Boa escolha!

Imagino que tenha crescido a sonhar com a inexplicável magia dos pés do ‘bruxo’, nos seus melhores anos de Paris, Barcelona e Milão. E na seleção do Brasil, claro.

Como jovem portuense e português, candidato a futebolista nos campos secundários do Bessa ou da Pasteleira, terá também vibrado com os remates bombásticos de Erwin Sanchez - de um Boavista campeão - com a frenética capacidade desequilibradora das arrancadas de Deco, com a classe pura do ‘maestro’ Rui Costa, mestre na arte de reger uma equipa.

Vi Bruno Fernandes em ação pela primeira vez em 2014, primeira época de Série A, na Udinese, 19 anos irreverentes, uma confiança e um atrevimento quase maiores do que a qualidade que transpirava.

Os movimentos, os passes, a visão de jogo, a vontade de jogar sempre para a frente, de galgar metros, de carregar a equipa até à área adversária, impressionavam.

Se Itália lhe abriu as portas do profissionalismo (e o terá obrigado a crescer depressa) com o Sporting chegou a um patamar mais elevado de rendimento desportivo e em Manchester atingiu a ribalta mundial.

É pena, quase ‘sacrilégio’, não estar num Manchester United em tempos de glória. Old Trafford é um teatro que, por agora, permite sonhar pouco.

São tão conturbados os tempos que há quem veja no número 8 um problema e não uma solução; quem ponha em causa a sua capacidade para ser capitão de equipa.

O agora comentador Roy Keane preferiria um líder capaz de correr toda a gente à bofetada quando as coisas correm mal. Bruno responde com golos e assistências. É mais o seu estilo. Ainda que não deixe de ser um ‘chato’, como ele diz, com os colegas, quando a camisola vermelha dos ‘red devils’ cora de vergonha com alguns pobres desempenhos.

A caminho dos 30 anos, faltam títulos no currículo de Bruno Fernandes. Com este Man United, será difícil alcançá-los.

Sim, já venceu uma Taça de Portugal, três taças da liga (uma em Inglaterra) e a Liga das Nações da UEFA.

Aqueles pés, aquela cabeça, merecem mais. Talvez pela porta da Seleção Nacional.

Na conquista do Euro 2016, Bruno Fernandes ainda andava nos sub-21.

Oito anos depois, chegará à fase final como um dos líderes incontestados da equipa.

Foi imprescindível na fase de apuramento, titular em todos os jogos, 843 minutos jogados, seis golos marcados e uma assistência.

Para lá dos números, uma tremenda capacidade de influenciar o jogo, os jogos.

Portugal precisa dele, assim.

Um 8 com nota 10.