Metade dos alunos portugueses estão envolvidos de alguma forma na violência escolar chamada Bullying. Isto é, a intimidação, humilhação, ou mesmo agressões, que alguns alunos com mais poder exercem sobre outros, de uma forma repetida. Uma análise a vários estudos realizados, em Portugal, permitiu concluir que esta realidade atinge 50 por cento dos alunos, entre agressores, vítimas e ambos.

As conclusões foram apresentadas, esta tarde, na Assembleia da República, por Sónia Seixas, doutorada em psicologia e autora de uma dissertação sobre este tema. A apresentação decorreu no âmbito de uma audição parlamentar, promovida pela Comissão de Educação, Ciência e Cultura, (CECC) que está a estudar a problemática da «Segurança nas Escolas», com o intuito de elaborar um relatório final.

Sónia Seixas fez uma exposição sobre a problemática do Bullying com base em vários estudos. «É possível concluir que metade dos alunos está envolvido em alguma forma de Bullying, seja como vítima, agressor ou ambos». A autora explica que em geral «o número de vítimas é superior ao de agressores», já que normalmente um aluno com poder hostiliza várias vítimas.

Há ainda os casos de jovens que exercem o seu «domínio» sobre outros «mais pequenos, ou mais novos», mas que depois acabam por ser também vítimas de outros alunos com mais «poder». «Se contarmos os observadores passivos, aqueles alunos que assistem às intimidações, então a dimensão do fenómeno é muito maior».

«Uma violência secreta»

Os vários estudos internacionais já efectuados permitem estabelecer padrões de comportamento que não variam em Portugal. Assim, o 8º ano é considerado o mais problemático, ou seja, por volta dos 13 anos. Já os locais perigosos para as vítimas estão normalmente relacionados com zonas longe da supervisão de adultos, como: recreios, balneários, ou corredores.

Esta conduta agressiva na escola tem também como característica o facto de ser uma «violência secreta». «Na realidade, as vítimas não se queixam. O que nos leva a pensar, se os valores que temos como referência são verdadeiramente indicadores da realidade», questionou Sónia Seixas.

A falta de queixas por parte das vítimas está, para a autora, relacionada com a «desvalorização» que é dada a este fenómeno. «É comum ouvir de pais, professores ou funcionários, que este tipo de situações fazem parte do crescimento, do desenvolvimento e como tal não têm assim tanta importância, no entanto, já sabemos que não é bem assim», afirmou.

A deputada Fernanda Asseiceira, coordenadora do grupo de trabalho da CECC, considerou, em declarações ao PortugalDiário, que «não se trata tanto de uma desvalorização» mas sim de um «hábito, uma rotina em lidar com as situações, resolvendo como se pode e muitas vezes não participando. A comissão vem apoiar as escolas, apreender as boas práticas e fazer com que passem para todos os estabelecimentos de ensino».

Já João Gancho, presidente da Associação Nacional de Professores, lembra que há cerca de um ano a tutela ignorou a denúncia de casos violentos, considerando que eram residuais. O responsável acrescenta ainda, que a dificuldade em lidar com a indisciplina escolar passa também pelo facto de «as escolas não terem recursos humanos suficientes para agilizar os processos».