Um corpo cravejado de balas mergulhado numa poça de sangue. Foi este o cenário que os vizinhos de Alberto Ferreira, o segurança de 36 anos morto este domingo, viram quando ganharam coragem para vir à janela. Antes, tinham ouvido os tiros: «Três rajadas de metralhadora: primeiro duas rajadas e um minuto depois, a terceira. Foi assustador», diz ao PortugalDiário uma das vizinhas de «Berto», como é conhecido na noite do Porto.

«Só cheguei à janela quando terminaram os tiros», revela a vizinha, que não quer identificar-se com medo de represálias. «Ele estava caído no chão, de barriga para baixo, todo ensanguentado. Tinha sido atingido na cabeça, mas ainda se mexia e respirava. Entretanto chegou a mulher dele e começou a gritar: não morras, não morras».

Quando a polícia chegou, vários vizinhos ouviram a viúva de «Berto» responsabilizar o gang da Ribeira pelo homicídio. «Foram da Ribeira. O grupo do Pidá. Prendam-nos porque eles matam toda a gente», contaram ao PortugalDiário.

Segundo apurou o PortugalDiário, Alberto foi atingido com pelo menos dez tiros cerca das 23.45 horas, quando saia com o irmão do prédio onde vivia. À sua espera estavam vários indivíduos encapuzados, dentro de um carro, que dispararam e puseram-se em fuga. «Berto» ainda foi transportado para o Hospital de São João por uma ambulância do INEM, mas acabou por morrer ainda antes de lá chegar.

O irmão escapou ileso, mas ficou em choque. «Estava numa cadeira de rodas e tinha uma máscara de oxigénio, mas não sei quem era», refere uma vizinha.

No pequeno portão e no patamar que separam a rua da porta de entrada as marcas de balas são visíveis. Contam-se pelos menos 15, algumas são claramente orifícios de entrada, outras terão sido ricochete. Segundo a polícia, pelo menos 10 balas terão atingido o segurança.

O alarme da loja ao lado disparou às 23.30 horas, disse o responsável ao PortugalDiário. A empresa de segurança não foi ao local por perceber que terá sido accionado por algo que se passou fora do estabelecimento. Dizem que terá sido o barulho das balas que fez disparar o alarme.

Terá sido nesse local que os atiradores esperaram por Alberto. Como estavam de lado, não seriam facilmente vistos pelo segurança. O facto de haver marcas de bala do lado de fora e do lado de dentro do portão suporta esta teoria.

A mulher de «Berto» entrou e saiu várias vezes do prédio durante a manhã, com sacos. Cruzou-se com os jornalistas e com um ar nervoso e abatido disse que não prestava declarações porque a filha, menor, estava ali perto.

«Nem sabia que ele era segurança»

«Berto» tinha escapado ileso do tiroteio que vitimou o empresário da noite, Aurélio Palha, morto a tiro no final de Agosto, e prestou depoimento com testemunha do crime.

O segurança tinha sido detido em Abril de 2002 pela Polícia Judiciária do Porto acusado de um crime de homicídio ocorrido, a 04 de Fevereiro de 2001, na discoteca «Number One», no Porto, e estava em liberdade condicional.

Além disso, estava a referenciado pelas autoridades como suspeito de envolvimento na morte do segurança da discoteca El Sonero em Julho de 2007. Actualmente era responsável pela segurança da discoteca Number One.

Os vizinhos não conheciam esta ligação ao mundo da noite. «Era entroncado, musculado, com o cabelo rapado. Tinha ar de andar num ginásio ou de ser segurança», disse uma vizinha que adianta que não sabia qual era a profissão de «Berto».

Outros vizinhos disseram a mesma coisa ao PortugalDiário. Dizem que o conheciam «de vista», mas que nunca tiveram grandes conversas com o segurança nem com a mulher e com a filha menor com quem vivia. «Era simpático, bom vizinho. Vive aqui há dez anos e nunca tivemos nenhum problema com ele», adiantou outra vizinha.