Dez anos depois do último título conquistado pelo Sporting, parece ser fácil explicar a receita do sucesso. Pelo menos para quem fazia parte do grupo de trabalho. Boloni, Rolão Preto, Pedro Barbosa, João Pinto, André Cruz, Rui Bento, Niculae e Jardel, os oito campeões ouvidos pelo Maisfutebol, são unânimes na referência à maturidade do plantel, que acabou também por criar condições para o aparecimento de novos talentos, algo que o técnico romeno sempre promoveu.

«Era um grupo experiente, mas também com alguns jovens, como Quaresma, Viana e Custódio. Havia boa qualidade. Foi um bom equilíbrio entre ambição e maturidade», diz Boloni ao nosso jornal.

«Esses elementos mais jovens tiveram a sorte de encontrar um grupo que, para além de experiente, tinha a mente aberta. Tinham a humildade necessária para serem bem aceites, mas com o atrevimento que lhes permitia ser desinibidos em campo», refere João Pinto. «Mesmo nos treinos Boloni trabalhava muito com os jovens, colocava-os ao lado dos mais experientes, inclusive em situações de um para um. Isso acabou por ser benéfico, pois nós dávamos bom enquadramento, e ao mesmo tempo fazíamos com que o treino fosse bastante exigente», acrescenta Pedro Barbosa.

«Era uma mistura muito boa entre jovens e jogadores muito experientes, com muitos títulos. Aprendi muito e cresci muito com eles», diz também Niculae, então com 20 anos.

Rui Bento acredita que foi a maturidade do grupo que permitiu ultrapassar o mau início de época. «O grupo nunca desistiu do objetivo. Os jogadores mais experientes assumiram as responsabilidades, tiveram uma voz mais ativa, e prepararam o espaço para a evolução dos mais jovens», acrescenta o técnico que iniciou a época no comando do Beira Mar, mas que entretanto saiu.

André Cruz também destaca a maturidade do plantel, mas não fica por aí. «O segredo de uma equipa, em primeiro lugar, é ter qualidade em todos os setores. E isso tínhamos. Depois estar bem preparada fisicamente. Nós jogávamos sempre a ritmo elevado. E depois era um grupo unido, que se divertia muito, mas também muito sério quando era preciso. A experiência também contribuiu, claro, mas o sucesso depende um conjunto de fatores», defende.

O antigo internacional brasileiro lembra que Boloni teve dificuldades no início, «não só para se expressar, mas também para explicar o que queria da equipa». «Eu, como também falava francês, percebia mais facilmente a mentalidade dele. Em Portugal os treinos eram mais tranquilos, sem contacto, e ele queria o contrário», explica.

Risos. Com Paulinho, claro.

O outro segredo do sucesso, já referido, foi o bom ambiente, sem o qual não se fazem grupos vencedores. «Ri-me muito nesse ano. Cada refeição, cada viagem de autocarro podia ser muito divertida. Era um grupo com um sentido de humor muito acentuado, embora trabalhasse sempre com seriedade», recorda João Pinto.

Quando se pede para recordar episódios engraçados dessa época, a referência é quase sempre a mesma. «As brincadeiras resumiam-se quase sempre ao Paulinho, uma pessoa tão carismática, sempre de semblante tranquilo. Tudo se resumia a dar-lhe «porrada», a atirá-lo para a piscina», recorda André Cruz. «O Paulinho é a pessoa que mais vive o Sporting, que mais sente o clube, que dá tudo o que pode. É o elemento aglutinador. Costumo dizer que o Sporting tem dois símbolos: o leão e o Paulinho. Na sua simplicidade mostra aquilo que deve ser um clube», acrescenta Rui Bento.

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