Ironia suprema nas mãos de Quim, guarda-redes ostracizado por tudo e todos ao longo dos últimos meses. E de repente, numa história só sua, tornou-se herói para ser carregado em ombros, antes de ver o Benfica levantar o troféu da Taça da Liga. O Sporting voltou a perder a final nos castigos máximos, queixando-se da arbitragem.
Quique Flores conquistou o seu primeiro título como treinador e pode agradecer a um guarda-redes com destreza para travar três grandes penalidades. Os adeptos rejubilaram com a conquista e ganham nova alma para a recta final da época. O Sporting foi melhor em alguns períodos e esta festa não merecia ficar manchada por erros de arbitragem.
Ficaram cadeiras vazias
O Estádio Algarve engalanou-se para receber um derby que prestigia uma competição nem sempre bem aceite e os adeptos corresponderam à chamada. O sol serviu de aperitivo para um fim-de-semana bem a sul.
Merece aplausos, a organização, mas não só. Há também espaço para algumas críticas. Não se compreendem, por exemplo, as cadeiras vazias num duelo que gerou tanta expectativa. Tanta gente à espera de bilhete e, contas feitas, havia mais oferta para a procura. Por falar em cadeiras, adivinha-se despesa avultada para recolocar os assentos arremessados pelos adeptos do Benfica após carga policial, no intervalo.
Antes e depois, assistiu-se a um espectáculo interessante. Os desenhos de Sporting e Benfica vieram da capital sem borrões mas apresentavam contornos diferenciados. Quique Flores alterou o seu quadro à procura de uma obra-prima.
A imprevisibilidade do previsível
No lançamento do encontro, perguntaram a Paulo Bento se o Benfica era previsível. O treinador leonino não disse que não. Aliás, colocou apenas no Sporting no mesmo patamar. As fórmulas são conhecidas, não sobrava grande espaço para novidades. Puro engano. Quique recuperou Quim, Ruben Amorim, Nuno Gomes e Suazo, desviando Aimar para a esquerda.
No Sporting, Tiago e Pereirinha ganharam posição. Duas mexidas providenciais. O guarda-redes brilhou logo ao quarto minuto de jogo, segurando o nulo quando Nuno Gomes seguia isolado, e o extremo direito inaugurou a contagem no início da etapa complementar. Vantagem, no mapa de apostas, para Paulo Bento.
O Benfica assistia a uma entrada pujante do leão e denotava alguns tremores lá atrás. No regresso à baliza, Quim não conseguiu disfarçar o nervosismo e falhou as primeiras três saídas. Numa delas, valeu David Luiz a salvar em cima da linha.
Asas à espera de voar
A atacar, a inovação de Quique Flores prometia, em teoria. Com dois avançados móveis, mais Aimar e Reyes nos flancos e Ruben Amorim a assumir responsabilidades na condução de jogo, a águia podia voar. Podia, mas não voou.
Na segunda metade, após o golo sofrido, os encarnados soltaram-se definitivamente e subiram linhas, concentrando atenções em lances de bola parada. Minutos depois de Suazo reclamar, com razão, uma carga do amarelado Polga, Miguel Vítor atirou à trave!
Em crescendo, a equipa da Luz acabou por beneficiar de um castigo máximo mal assinalado. Dí Maria tentou passar por Pedro Silva e o lateral cortou o lance. Com a mão, pensou a equipa de arbitragem. Com o peito, garante o brasileiro. Os protestos, fora de tom, de nada valeram. Segundo amarelo, Reyes empata, Sporting com dez. Num minuto, tudo mudou. O Benfica e Quique não souberam aproveitar, adiando a questão para os castigos máximos.