Virtuosa arte da ineficácia. Desmazelo na hora do remate. Como é que um jogo tão bom e com tantas oportunidades podia acabar sem golos? Não podia. O improvável Tanaka não deixou, no último remate do jogo: de livre, ganho por si, conquistou três pontos deliciosos para o Sporting. Um final hitchcokiano a adornar um jogo de loucos.

Alquimia do desacerto, precipitação nas decisões finais, dois guarda-redes com muito para contar e o bom do Tanaka a sair do anonimato e a entrar na história da Liga.

Castigo duro para o Sp. Braga e o Sporting no terceiro lugar.

O campeonato precisa de espetáculos assim. Grande ambiente nas bancadas, duas equipas dispostas a tudo, inclusivamente a levar o sofrimento ao limite, competitividade máxima e alternância quase cirúrgica nas fases de predomínio.

OS DESTAQUES: Tanaka, assim nasce um herói

Melhor o Sp. Braga na fase inicial, quase até ao 20/25 minutos. Boa reação do Sporting a meio do primeiro tempo, para voltar a cair pouco depois e reentrar no segundo tempo de forma esmagadora.

Resistiu o Sp. Braga a essa fase superlativa dos leões, antes de mais 20 minutos de bate boca, bola cá e bola lá, sempre com as balizas em perigo e a sobreviverem. Até ao derradeiro remate.

O Sp. Braga sempre fortíssimo no aproveitamento de espaços e na imediata transição após recuperar a bola. Pedro Tiba ótimo na ligação e Felipe Pardo uma dor constante para Jefferson, com arrancadas incontroláveis.

Tudo diferente do lado leonino. Superadas as estranhas hesitações do arranque – nem Rui Patrício escapou – o Sporting domou o meio-campo e apostou as fichas todas num endiabrado Nani. Futebol mais apoiado, de toque curto, a explodir no pé direito do internacional português e, tantas vezes, nas luvas de Matheus.

O jogo foi excelente, insistimos. Tantas vezes o golo prometeu surgir, para logo de seguida se travestir em tons de comédia (como é que João Mário falha o encosto aos 55 minutos??), de drama (fantástico Pardo aos 47 minutos, até desesperar com a bola na luva direita de Patrício) ou simplesmente de show business: o erro, por escandaloso que possa ser, faz mesmo parte do jogo.

Para perceber a enormidade de jogadas perigosas, o melhor é mesmo ler o Filme do Jogo com atenção.

Qualquer uma das equipas merecia vencer, qualquer um dos lados esteve perto de consegui-lo, mas só Tanaka, o improvável Tanaka, foi capaz de desfazer o aberrante nulo. Lançado para os últimos 12 minutos, ganhou a falta a Matheus e trabnsformou de forma absolutamente perfeita o respetivo livre, sobre a direita.

Uma vitória fantástica para os níveis de confiança e amor próprio do Sporting.

Notas finais: Islam Slimani vai fazer muita falta nos próximos jogos; Matheus, guarda-redes do Sp. Braga, será um dos melhores a atuar na Europa em poucos anos. E Tanaka, afinal, é um jogador a sério e não um mero produto de marketing.