William Carvalho vai ficar afastado da competição entre dez e 12 semanas. Na origem do problema está uma polémica fratura de stress. O Sporting disse, em comunicado, que a lesão foi contraída durante o Europeu sub-21 e acusa o corpo clínico da Federação Portuguesa de Futebol de não ter informado o clube acerca da situação.

A FPF respondeu: tanto Rui Jorge como o médico Carlos Martinho garantiram que o médio defensivo não apresentou «queixas incapacitantes» ou alterações no rendimento desportivo.

Mas o que é realmente uma fratura de stress? O que a provoca? Como se deteta e como se cura?

O Maisfutebol ouviu dois especialistas sobre o assunto e vai mais à frente perceber que nem tudo o que está à volta de um fratura de stress reúne consenso ou sequer é pacífico. As opiniões são divergentes em vários pontos.

Um dos médicos especialistas contactados preferiu manter o anonimato por questões profissionais.

Comecemos então pela explicação do termo. O que é mesmo uma fratura de stress? «É uma desorganização do osso provocada por cargas excessivas que provocam microtraumatismos repetidos. É comum nos atletas de alta competição», começa por explicar Leandro Massada, médico especializado em ortopedia.

E será possível jogar com uma fratura de stress? Seria improvável, de acordo com uma outra opinião, se não mesmo impossível, William Carvalho manter-se em alta competição com uma fratura de stress. «Não me parece possível, e ainda por cima estamos a falar do melhor jogador do Europeu», aponta. Outra visão tem Leandro Massada. «Há jogadores que suportam as dores dois meses a treinar e a jogar. Estamos a falar de uma dor surda que, numa primeira fase, só aparece ao fim da atividade desportiva. Depois, vai piorando. Numa segunda fase manifesta-se durante a atividade desportiva e depois até no dia-a-dia do atleta», explica.

Mas, afinal, por que não é detetada? O Sporting acusa o corpo médico dos sub-21 de não ter comunicado a lesão. Trata-se de uma lesão de difícil diagnóstico, silenciosa. E que pode largas semanas sem poder ser detetada através de raio x. Antes, sublinham ambos os especialistas, só por ressonância magnética ou cintigrafia óssea, uma técnica de imagiologia muito usada para o diagnóstico de cancros, infeções e traumatismos.

Chegamos à parte da cura. Uma cura que, de acordo com o Sporting, pode demorar entre dez e 12 semanas. As opiniões dos especialistas são divergentes. Há quem defenda o recurso a um tratamento conservador como primeira medida. O tempo de paragem varia consoante a extensão da lesão óssea e a reação do organismo, que muda de pessoa para pessoa, mas que nunca é inferior a dois meses. O tratamento conservador, com gesso de modo a evitar qualquer desvio do osso, pode não ser suficiente para evitar recaídas. «É possível que o William Carvalho regresse sem dores, mas pode ter uma recaída, como aconteceu, por exemplo, com o Nelson Évora. O procedimento que habitualmente aconselhamos a atletas de alta competição é operá-lo no imediato. O tempo de recuperação é mais reduzido», conclui Leandro Massada.