O sonho transmontano de ter uma equipa na final do Jamor ainda vive. Ou antes, sobrevive. Sobreviveu no limite do sofrimento, num minuto louco, que começou numa baliza e terminou na outra: começou no golo mal anulado a Diego Ângelo e terminou no cabeceamento triunfante de Ricardo Rocha no último segundo.
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Num minuto portanto se construiu uma enorme ilusão, de uma equipa que esbraceja que nem louca para se manter na Liga de Honra. O Desp. Chaves ultrapassou todas as dificuldades e com menos um jogador fez o resultado que deixou o Jamor a hora e meia de distância. Bem menos do que de Bragança a Lisboa.
O tempo é por isso de festa. Na equipa, nos responsáveis, nos adeptos. Sobretudo nos adeptos. Eles que saíram do estádio eufóricos, em caravana, com buzinas, gritos e cânticos. Em Chaves mora uma equipa de passado com história, sedenta de um futuro também histórico. Há maior feito do que o Jamor?
Castanheira: «Esta gente é fantástica e merece resultados»
A vitória, é bom que se diga, teve boa dose de felicidade. O D. Chaves entrou mal e provavelmente acusou o peso de uma noite invulgar: nunca tinha chegado tão perto da final da Taça de Portugal. Trata-se de uma noite distinta para toda uma região, aliás. Trás-os-Montes nunca esteve presente no Jamor.
Ora por isso a primeira parte foi quase toda da Naval. Camora por duas vezes ficou a milímetros de marcar, Bolívia e Fábio Júnior também ameaçaram, o Chaves foi aguentando como podia. A equipa de Tulipa apostava nas saídas rápidas para o ataque, quase sempre infrutíferas. Só num remate de Clemente ameaçou.
Augusto Inácio: «Foi um resultado injusto»
Na segunda parte as coisas mudaram ligeiramente. O D. Chaves surgiu mais afoito, mais descomplexado, mais personalizado. Trocou a bola no meio-campo adversário e ficou perto do golo num remate de Bruno Magalhães que o colega Clemente impediu de chegar à baliza. Estava dado o tom de toque.
A partir daí sentiu-se que a ambição flaviense ganhou asas. A equipa cresceu, o público animou-se, a Naval não deixou de procurar também ela o golo e o jogo ficou mais interessante. Até que um erro de Paulo Costa deitou quase tudo a perder: dois amarelos exagerados expulsaram Samson.
Ricardo Rocha o herói: «O Lameirão disse-me que ia marcar...»
A partir daí só deu Naval. Augusto Inácio manteve a ambição, alargou a frente de ataque e chegou ao golo num remate de Diego Ângelo mal anulado: o central não estava em fora-de-jogo. Foi um balde de água fria nos 2500 adeptos flavienses que durou um fósforo: logo a seguir, no último fôlego, Ricardo Rocha fez de cabeça o golo da vitória. Chaves tem legitimidade para sonhar.