'A lógica é um muro vedando coisa nenhuma'. A frase de Pessoa retrata na perfeição os três momentos fundamentais do jogo na Póvoa: os golos. Varzim e Belenenses marcaram nos respetivos piores períodos, fazendo da lógica uma expressão sem sentido neste jogo de futebol.


2-1 no final, uma diferença de escalão competitivo a não vedar coisa nenhuma, se o poeta nos permite a apropriação das suas palavras. 

Tudo resolvido por Estrela, um dos melhores em campo, já em cima do minuto 90. Cruzamento perfeito de Júlio Alves e desvio do médio, nas costas de Lucca. O Varzim é o líder surpresa do Grupo C. Que se dane a lógica.  

Entrada forte do histórico Varzim, há demasiado tempo fora da I Liga, principalmente a reboque do bom trabalho do já referido Estrela e do veteraníssimo Nelsinho (39 anos). Raça poveira, superioridade nas bolas divididas e na reação às segundas bolas. 

FICHA DE JOGO E O VARZIM-BELENENSES AO MINUTO

Consequência real: golo do Belenenses. E que golão! Jonatan Lucca arrancou um extraordinário remate num livre direto e arruinou a primeira boa meia hora dos homens de Nuno Capucho. 

Entrar na Póvoa e ver este Varzim é um exercício de memória também. Nas bancadas, bem compostas, há uma compreensível ânsia em recuperar o nível dos anos de Lufemba, Miranda e Vata, por exemplo. 

A atmosfera continua boa, o Varzim grita pelo escalão maior. 

E foi envolvida nesse espírito, aliás, que a equipa resistiu à quebra qualitativa na segunda parte. E acabou por vencer. Vamos às explicações. 

O Belenenses reentrou confiante e maduro, mesmo depois do susto com Sagna. Teve mais bola, o controlo quase absoluto e durante largos minutos pareceu ter a vitória no bolso. 

Os Lobos do Mar, porém, foram acreditando aqui e ali, quase sempre nos esticões de Bakaramoko, que era possível mais qualquer coisa. E aí, a entrada do excelente Júlio Alves foi fundamental. 

Um erro de Licá permitiu ao Varzim uma transição rápida, 4 para dois, e Bakaramoko acabou a cruzar para a cabeça do pequenino Jonatan Toro. Como se já não bastasse o lapso de Licá, Silas ainda teve o azar de ver Diogo Viana a contrair uma lesão muscular aos 80 minutos. 

As substituições estavam esgotadas e o Belenenses passou a jogar reduzido a dez unidades. 

Curiosamente, mesmo com essa limitação do adversário, o Varzim teve dificuldades em mandar no jogo e em assustar Mika. Mas a lógica, ajude-nos caro Pessoa, não ecoou no resultado final porque o futebol é um oceano de incoerência. 

Em cima do apito final, Estrela mandou o Belenenses ao tapete. Sem lógica, com um piscar de olho aos anos 80 e a um grande Varzim de outros tempos.