* Por: RUI PEDRO SILVA

O desporto é marcado por eras. Houve a dos Celtics na NBA, a de Michael Schumacher na Fórmula 1 e a de Lance Armstrong (para o bem e para o mal) no ciclismo. O ténis não é exceção e o novo milénio já trouxe três períodos muito acentuados: o suíço Roger Federer deu cartas até começar a ser ameaçado por um adolescente maiorquino chamado Rafael Nadal. Agora é a vez de Novak Djokovic se assumir como crónico favorito e principal alvo a abater em todos os torneios em que participa.

O caminho de Djokovic não foi fácil – crescer num desporto claramente bicéfalo – e assentou em etapas: a primeira passou por encontrar uma fortaleza em grand slams. Se Federer foi o rei da relva em Wimbledon e Nadal é o grande dominador na terra batida de Roland Garros, Djokovic apostou em Melbourne e fez do Open da Austrália a sua fortaleza: foi lá que, em 2008, aos 20 anos, se estreou a ganhar num grand slam. Aquele passou a ser o seu espaço e os quatro títulos conquistados nas últimas cinco temporadas eliminam todas as dúvidas: a Austrália começou a ser sinónimo de Djokovic mesmo antes de atingir a liderança do ranking ATP.

A diferença é que agora não acontece apenas na Austrália, com 2015 a servir de prova indesmentível da superioridade do sérvio de 28 anos. Com três títulos em quatro finais de grand slam – só vacilou em Roland Garros frente a Wawrinka – o vencedor do Estoril Open de 2007 alargou o domínio a todas as competições e quatro das seis derrotas da temporada foram em finais.

Todos contra o Djoker. Mas quem sobressai?

Stan Wawrinka foi o último a furar o domínio de Djokovic na Austrália (2014), Andy Murray perdeu as duas últimas finais ganhas pelo sérvio, Roger Federer vai participar no 65.º grand slam consecutivo (um recorde) - já ergueu o troféu em quatro edições – e Rafael Nadal aparece mais determinado do que nunca depois de uma temporada em que ficou a zeros nos grand slams, algo que não se passava desde 2004. Juntos, os quatro são as ameaças mais óbvias ao estatuto do líder mas só Federer lhe pode surgir no caminho antes da final.

Para já, o primeiro obstáculo é um sul-coreano de nome Hyeon Chung, que ocupa o 51.º lugar do ranking. Depois, se a lógica imperar, a rota até à meia-final deverá passar por Ivan Dodig, Andreas Seppi, Gilles Simon e Kei Nishikori.

João Sousa como cabeça-de-série… outra vez


João Sousa é o 32º cabeça de série

Portugal volta a ter um tenista entre os 32 favoritos. Em 2014, nos Estados Unidos, João Sousa aproveitou o estatuto para vencer a primeira ronda – a cinco sets com o canadiano Dancevic – mas pagou caro o esforço logo a seguir, com um 4-6, 2-6 e 0-6 imposto por David Goffin. Agora, o vimaranense é novamente o 32.º cabeça-de-série.

O adversário da primeira ronda é o cazaque Mikhail Kukushkin (63.º) mas o português já fez questão de frisar que «o estatuto não vence encontros». O registo de confrontos não é favorável – uma derrota no Masters de Roma em 2014 no único duelo no circuito ATP – mas os tempos são outros. E Melbourne até traz boas recordações ao tenista, uma vez que a terceira ronda alcançada em 2015 igualou o melhor resultado alcançado em grand slams – ao nível do US Open em 2013. Se há um ano, a campanha terminou frente a Andy Murray, os caprichos do sorteio ditaram um possível reencontro precisamente na mesma fase.

Lleyton Hewitt e um adeus anunciado


Hewitt com Marat Safin

Promete ser a história paralela mais importante do evento. Aos 34 anos, o australiano que venceu o US Open em 2001 e Wimbledon em 2002 vai despedir-se dos grandes palcos perante um público que o conhece melhor do que ninguém: foi em Melbourne que se estreou num grand slam, à beira de fazer 16 anos (1997).

Esta será a sua 20.ª presença, numa campanha com objetivos modestos, especialmente porque nunca foi a prova em que se mostrou mais eficaz: excetuando em 2005 quando perdeu a final para Marat Safin em 2005, nunca passou da quarta ronda.

O compatriota James Duckworth (134.ª) será o adversário na primeira ronda e, caso vença, a fasquia sobe prontamente de dificuldade, com o espanhol David Ferrer à espera na segunda ronda.

Serena como Djokovic?

O quadro feminino tem os olhos postos em Serena Williams. A norte-americana falhou o pleno em 2015 com a meta à vista – só não venceu o quarto grand slam da época – e arranca para 2016 como o sérvio: o nome que todos querem bater.

Vencedora em 2015, quebrando um jejum de cinco anos, a líder do ranking WTA será uma das primeiras a entrar em ação esta madrugada. A tenista de 34 anos vai defrontar a italiana Camila Giorgi no segundo embate da Rod Laver Arena.