Em setembro de 2014, Marin Cilic deixou o público de Flushing Meadows de olhos esbugalhados. O tenista croata era 16.º do ranking, mas foi ultrapassando obstáculos até erguer o título no US Open. Depois de ter despachado Roger Federer na meia-final, repetiu a receita frente ao japonês Kei Nishikori  (11.º), que dois dias antes até tinha eliminado Novak Djokovic.
 
Por isso mesmo, uma análise ao último dos quatro Grand Slams do ano aconselharia, já diz o velho ditado, cautela e caldos de galinha...
 
Mas o Maisfutebol vai mesmo atravessar-se e, mesmo correndo o risco de se espalhar ao comprido, reduz a luta pelo caneco a três grandes favoritos: Novak Djokovic, Roger Federer e Andy Murray.
 
O tenista sérvio é o principal candidato ao título. Para nós e para casas de apostas, que lhe dobram o valor por cada euro que depositar numa vitória dele. Uma aposta segura?
 
Djokovic é líder do ranking ATP há 60 semanas consecutivas e vencedor de dois dos três Grand Slams já disputados esta temporada, mas a sua forma pós-Wimbledon tem deixado algo a desejar.
 
O número 1 mundial foi derrotado por Andy Murray (Toronto) e por Roger Federer (Cincinnati) nas finais dos dois principais torneios que servem de antecâmara para o US Open, e, nos entretantos, revelou dificuldades para ultrapassar adversários com rankings modestos. «Fiz um par de jogos bons e outros não tão bons. Não estou satisfeito com a minha forma e o meu jogo, mas tenho uma semana para trabalhar nisso», disse o tenista sérvio após a derrota com Federer em Cincinnati.

Roger Federer soma cinco triunfos em Flushing Meadows, mas não ganha desde 2008
 
Fe-de-rer. É o homem do momento. O suíço só fez um torneio desde Wimbledon, mas mostrou que, não só não baixou a guarda, como acrescentou alguns argumentos ao seu jogo. Em Cincinnati, surpreendeu com um ténis hiper-ofensivo, com respostas aos serviços alguns metros dentro do court. «Comecei a fazê-lo nos treinos mais como divertimento. Tentei outra, outra e outra vez e parece que não é assim tão difícil para mim fazê-lo. (...) Se a percentagem de sucesso for superior a 50 por cento...», referiu.
 
E, pelo menos em Cincinnati, foi. Resultado: Federerer venceu o torneio sem ceder qualquer set, sem sofrer quebras de serviço e derrotou Andy Murray e Novak Djokovic no mesmo torneio pela primeira vez desde Wimbledon, em 2012, onde o tenista helvético venceu o último dos 17 Grand Slams do palmarés.
 
Se o nível tenístico recente joga a favor de Federer, o histórico dos últimos anos em Flushing Meadows é um handicap. É verdade que o suíço tem de longe o melhor currículo em Nova Iorque, mas não triunfa lá desde 2008. Caso conquiste o sexto triunfo no US Open, o número 2 mundial torna-se no tenista mais velho (34 anos) a vencer o torneio desde o australiano Roy Emerson, em 1970, então com 35 anos.
 
Mas, para chegar à final, Roger Federer poderá ter de eliminar Andy Murray nas meias-finais. O escocês, número 3 mundial, tem um título em Flushing Meadows (2012) e soma cinco derrotas seguidas com o suíço mas, depois de um ano de 2014 à procura do melhor, parece ter regressado este ano à forma que evidenciou entre 2012 e 2013. Este ano, soma uma final no Open da Austrália, duas meias-finais em Roland Garros e Wimbledon e quatro títulos ATP. Na primeira ronda vai defrontar o australiano Nick Kyrgios, um dos maiores talentos da mais recente geração do ténis mundial e considerado o novo «enfant terrible» da modalidade. Um digno sucessor de John McEnroe.


 
E Nadal?
 
Soa a heresia colocá-lo fora de fora do lote dos candidatos. Um desrespeito para com o segundo tenista com mais torneios do Grand Slam, a par de Pete Sampras e apenas atrás de Federer. Com 14 «majors» no palmarés, Rafael Nadal foi por duas vezes rei nos Estados Unidos (2010 e 2013), mas um terceiro triunfo afigura-se altamente improvável. O maiorquino falhou os últimos meses de 2014 devido a lesão e este ano ainda não conseguiu reencontrar o melhor ténis. Falhou em toda a linha, incluindo em Roland Garros, onde chegou a ser intocável, e, pela primeira vez desde 2004, pode ficar uma época inteira sem vencer um único torneio do Grand Slam.
 
Nadal tem um quadro difícil em Nova Iorque. O oitavo lugar que ocupa no ranking coloca-o em rota de colisão com Djokovic nos quartos-de-final. Mas, se quiser lá chegar, o maiorquino terá de começar por eliminar a «sensação» croata Borna Coric, com quem até perdeu no único confronto entre ambos, em 2014.


João Sousa é o único português em ação. Defronta esta segunda-feira o lituano Ricardas Berankis, 78.º do ranking
 
Outros à espreita
 
Começámos este artigo a falar de Marin Cilic. O tenista croata ainda não venceu qualquer torneio ATP em 2015 e repetir o título do ano passado parece improvável. Mas quem apostava nele em 2014?
 
Outros potenciais «desmancha-prazeres» dos principais candidatos são Kei Nishikori e Stan Wawrinka. O japonês, atual 4.º classificado da hierarquia, tem um ténis regular e é dos poucos tenistas que podem gabar-se de já terem derrotado o chamado «big four»: Djokovic, Federer, Murray e Nadal.
 
Wawrinka (5.º) é talvez a maior das ameaças para os grandes favoritos. O tenista suíço viveu anos na sombra do compatriota Roger Federer, mas ganhou o respeito da concorrência em 2014, com a vitória no Open da Austrália. Este ano, Stan provou que o triunfo no país do cangurus não foi obra do acaso e somou um segundo «major» ao palmarés, derrotando Djokovic na final do Roland Garros. Aparece a espaços, mas quando aparece... é à séria. Está na metade do quadro de Federer e Murray.


Serena Williams procura fazer o pleno de vitória em torneios do Grand Slam em 2015 

Serena contra o resto do mundo
 
Se na competição masculina o lote de candidatos é reduzido, entre as senhoras o favoritismo é exclusivamente atribuído a Serena Williams. A norte-americana é a campeão em título de todos os torneios do Grand Slam, mas ainda corre em busca de um outro feito só alcançado por duas mulheres (Margaret Court e Steffi Graff) desde o início da Era Open, em 1968: vencer todos os «majors» realizados num ano civil. Depois disto, segue-se nova meta para a tenista de 33 anos: o recorde absoluto de Grand Slams conquistados (24), na posse Margaret Court.
 
Numa segunda linha está a romena Simona Halep, depois da desistência de Maria Sharapova por lesão. Mas quem arrisca apostar contra Serena?
 
QUADRO DE CAMPEÕES EM SINGULARES
 
Torneio masculino
Richard Sears, William Larned e Bill Tilden: 7
Jimmy Connors, Pete Sampras e Roger Federer: 5
Robert Wrenn e John McEnroe: 4
 
Torneio feminino
Molla Bjurstedt Mallory: 8
Hellen Wills Moody: 7
Chris Evert e Serena Williams: 6
 
A 1.ª RONDA DOS DEZ PRIMEIROS CABEÇAS-DE-SÉRIE (torneio masculino)
 
(1) Novak Djokovic (Sérvia) - João Souza (Brasil)
(2) Roger Federer (Suíça) – Leonardo Mayer (Argentina)
(3) Andy Murray (Reino Unido) – Nick Kyrgios (Austrália)
(4) Kei Nishikori (Japão) – Benoit Paire (França)
(5) Stan Wawrinka (Suíça) – Albert Ramos Vinolas (Espanha)
(6) Tomas Berdych (Rep. Checa) – Bjorn Fratangelo (Estados Unidos)
(7) David Ferrer (Espanha) – Radu Albot (Moldávia)
(8) Rafael Nadal (Espanha) – Borna Coric (Croácia)
(9) Marin Cilic (Croácia) – Guido Pella (Argentina)
(10) Milos Raonic (Canadá) – Tim Smyczek (Estados Unidos)
...
João Sousa (Portugal) – Ricardas Berankis (Lituânia)