E se um clube receber dinheiro por utilizar um jogador sub-21 português na Liga? É uma das ideias propostas por Alexandre Silva, adjunto de Rui Jorge na seleção sub-21, na tese «Caminhos para o futuro do futebol português – análise de diferentes modelos competitivos para a transição júnior-sénior», defendida na Universidade Lusófona. O autor analisa com profundidade os números e conclui que os dados de utilização e desenvolvimento dos jogadores selecionáveis em Portugal são preocupantes. No final do documento aproveita para deixar propostas que possam ajudar a aumentar as oportunidades para os jovens portugueses. 

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São quatro medidas, a que o autor chama «propostas de intervenção estratégicas no futebol português» e que visam, diz, «provocar a discussão acerca de que caminhos escolher para o futuro do futebol português», «de forma sustentada e suportada» nos números que apresenta na sua tese.

A
primeira sugere, por via regulamentar, o aumento dos jogadores formados localmente. No espaço de dois anos, as equipas B teriam de passar a usar na ficha de jogo um mínimo de 14 jogadores formados localmente, contra os 10 atualmente em vigor. Na I e II Liga, as equipas teriam de cumprir essa quota de 14 na lista de jogadores inscritos. No Campeonato Nacional de Seniores aplicar-se-ia o princípio das equipas B, o de a obrigatoriedade estar expressa nas fichas de jogo.

A segunda medida é um «incentivo financeiro à utilização de jogadores selecionáveis sub-21 na I Liga». Alexandre Silva propõe que isso aconteça através da criação de um fundo, a definir em que moldes e com que entidades, que premeie os clubes que apostem consistentemente em jogadores sub-21.

Chega, com base no Contrato Coletivo de Trabalho entre a Liga e o Sindicato de jogadores, a um valor de 20370 euros, que seria pago por cada jogador sub-21 nacional que cumpra um mínimo de 1800 minutos, equivalentes a 20 jogos, na Liga. E admite definir um valor mais alto para «determinadas posições específicas, como no caso dos guarda-redes ou dos avançados, em que se detete um défice a nível estrutural e transversal nas Seleções Nacionais».

Haveria lugar a novo prémio se o jogador se tornasse internacional AA. E se o jogador for vendido por mais de 100 mil euros, o fundo teria direito a receber o dinheiro que investiu, mas reservando-o para investir em formação no clube em causa.

O autor vai buscar mais dados para perceber do que se fala. Nas últimas quatro épocas, o máximo de jogadores sub-21 portugueses usados na Liga foi de cinco. Na Alemanha foram 18, em Espanha 13.

A terceira medida pretende fomentar o empréstimo de jogadores, defendendo que os jogadores de equipas B com idade senior que em duas épocas não tenham cumprido 10 por cento dos jogos «tenham o direito de serem cedidos temporariamente». É uma forma de promover uma circulação mais fluida de jogadores, em busca de mais oportunidades competitivas.

O autor recorre aos exemplos da Alemanha e Espanha, as seleções mais bem sucedidas nos últimos anos e que refere como modelos no que à transição dos jogadores diz respeito, para constatar que os jogadores desses países que jogaram em Mundiais ou Europeus não passaram mais de duas épocas em equipas B, até «terem oportunidade de se assumir como jogadores de I Liga».

A quarta medida é o fomento do modelo de equipas B. O autor propõe que a possibilidade de criação de novas equipas B seja aberta a todos os clubes da I Liga.

Faz depender a criação dessas equipas que façam prova financeira de manter a equipa ativa pelo menos três épocas e propõe que sejam integradas no Campeonato Nacional de Seniores.

Salvaguarda, no entanto, que deveria ser definido um limite máximo de oito equipas B a disputar a II Liga, mais duas do que atualmente, pelo que seriam necessárias limitações quanto a subidas e descidas.