Portugal acabou de ganhar à Inglaterra na sua euroestreia no Benelux. Metaforicamente, creio que ganhámos porque jogámos com 12. Não, não me refiro como certamente estão a pensar, ao tradicional 12º jogador, como denominamos o público que por vezes nos empurra para performances impensáveis.

Quando vos falo em 12º jogador estou a pensar no sr. Souness, que numa brilhante entrevista ao News of the World nos injectou a poção mágica da invencibilidade, feito que nunca conseguiu relativamente aos jogadores que treinou no Benfica. Fiquei estupefacto com o conteúdo da entrevista e, por conhecer os resultados dúbios de algumas traduções, entrei no site inglês e, my god!, não havia dúvidas.

Estava lá tudo. «Portugal não tem jogadores de classe mundial»; «joga bem, mas não causa perigo»; «Inglaterra demolirá os portugueses» e, ainda mais grave, ataques individuais: «Rui Costa joga na posição do sem responsabilidade»; «Baía é um guarda-redes traiçoeiro»; «João Pinto tem rendimento quase nulo»; «Adams comerá Nuno Gomes».

Seguramente, o tema foi abordado durante as horas que antecederam o jogo. Nós, profissionais, muitas vezes afirmamos que não lemos, não ouvimos, não nos interessa, mas não é verdade. Quando surge algo assim, rico em conteúdo motivacional, fértil aglutinador de emoções e ambições individuais, lemos, relemos, registamos e obrigamos a registar.

Alguém duvida que no momento do 0-2 alguns dos nossos jogadores se lembraram por breves instantes das informações do empresário, perdão, do treinador Graham Souness? Thanks a lot, my friend, diremos nós. Mas o que dirá em Inglaterra algum cronista mais atento?

Que golos!

0-1, Scholes. Conheço a frustração que Humberto e seus pares sentiram neste momento. Não duvido que mostraram em vídeo, consecutivamente, a conexão Beckham-Scholes; que disseram a Dimas para pressionar e impedir a saída dos cruzamentos; que falaram das chegadas do baixinho aos 16 metros. No entanto, cinco minutos e...golo. Frustração à parte, que golo!

0-2, McManaman. Outra vez um cruzamento de sonho, mas o movimento de Scholes, com a intenção conseguida de arrastar Abel Xavier e libertar McManaman, é para figurar no compêndio das desmarcações.

1-2, Figo. Ai, Jesus, Luís! Este guarda-o bem em vídeo para a Daniela ver daqui por uns anos o que fez o papá. Que paulada, que convencimento! Sem palavras...

2-2, João Pinto. Os jogadores passam o tempo a reivindicar liberdade e mobilidade. Mas raramente o fazem com objectividade. Para mim, a mobilidade é a forma de ocupar os espaços para finalização criados pelo ponta-de-lança. Bravo, João. O golo é espantoso, técnica e esteticamente, mas eu, treinador, aplaudo a chegada ao local exacto no momento justo.

2-3, Nuno Gomes. Desculpa, Nuno, por não falar em ti, mas o passe do Rui Costa levantou-me do sofá e deixou-me feliz. Feliz pelo resultado e feliz pela acção decisiva daquele que em meu entender foi o melhor jogador em campo.

Ah!, mea culpa. Não esperava que pudéssemos marcar três golos, mas com erros de análise destes até se janta melhor...