A imagem de marca é o boné omnipresente e o conjunto pêra-patilha com design de malandro, a meio caminho entre o tatuador e o porteiro de discoteca. Mas quem se deixar levar pelas aparências pode não dar o crédito merecido àquele que, embora sem currículo especialmente impressionante, se tem revelado um dos treinadores mais carismáticos do futebol italiano, protagonista do espectáculo quase ao mesmo nível das suas equipas.
Actualmente com 47 anos, Serse Cosmi começou a carreira nos jovens do Ellera (1987) passando para os amadores do Pontevecchio, onde permaneceu entre até 1995. Depois de cinco épocas no modesto Arezzo, que promoveu à série C1 e deixou às portas da série B, revelou-se para os seguidores do calcio ao comando do Perugia. Aí, comandou o clube durante quatro épocas, mantendo-o na zona tranquila da série A entre 2000/01 e 2002/03.
Em 2003/04, no entanto, não conseguiu evitar a descida de divisão (15º lugar) e a sua carreira deu um passo atrás, para poder dar dois à frente: pegou no Génova, na série B, fê-lo campeão ¿ embora a Federação tenha depois determinado a sua descida administrativa à série C ¿ e ganhou a corrida à sucessão de Luciano Spalletti, o homem que levou a Udinese à melhor classificação de sempre em todo o seu historial.
Cosmi, pai de dois filhos, define-se no seu site como um seguidor de Trapattoni, coleccionador de bonés (gaba-se de possuir dezenas) e recolector de cogumelos nos tempos livres, com fixação estética por óculos de sol e James Taylor.
Apesar dos gestos exuberantes, e do «look» que utiliza para cativar os media, Cosmi define-se como um «professor arrependido que se tornou treinador». Como pontos fortes, atribui-se a si mesmo as características trabalhadas nos seus tempos de escola«a capacidade de relacionamento, de fazer-me entender, de alimentar o diálogo e construir projectos». Cosmi admite que o seu trajecto de outsider suscitou algumas desconfianças, mas garante que a experiência de professor o ajudou a subir na carreira: «Demorei algum tempo a ganhar a confiança dos jogadores, que em muitos aspectos são como crianças. Mas quando era professor queria transmitir o mesmo que transmito às minhas equipas: o sucesso exige dedicação e paixão pelo que fazemos».
A sua tese de licenciatura em futebol de alta competição, no centro de Coverciano, versou a influência do «trequartista» - o mítico número 10 ¿ nas variações dos sistemas tácticos ao longo da história do futebol. Nos últimos anos, as suas equipas têm jogado num modelo próximo do 4x2x3x1, mas é preciso esperar para ver se esta será também a aposta na Udinese, uma vez que representa uma ruptura clara com o tradicional 3x5x2 aplicado por Spalletti. Aliás, Cosmi não é propriamente um fundamentalista da táctica, dando ênfase às questões psicológicas e de motivação no seu relacionamento com os jogadores.
O Sporting fica avisado: é, a partir desta sexta-feira, o último obstáculo entre o Cosmi e a concretização do seu sonho profissional máximo. É o próprio quem assume a importância de uma eventual qualificação para a fase de grupos: «Estou contente por ter escolhido Udine e a Udinese, um clube que provou saber trabalhar bem nos últimos anos. Poder chegar à mais prestigiosa competição europeia é o máximo, um sonho tornado realidade. Espero retribuir com resultados a confiança que adeptos e dirigentes me manifestaram desde a minha chegada». Tem a palavra o leão.