Os treinadores de futebol que tiraram o curso UEFA Pro no último ano foram surpreendidos, nas últimas semanas, com a impossibilidade de obter a cédula de grau 4 do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ).

Ao receberem o cartão UEFA Pro, emitido pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF), os treinadores podem exercer a sua atividade em qualquer competição nacional, prova europeia ou mesmo comandar uma seleção nacional. Mas muitos técnicos estavam também interessados na mais-valia curricular que representa a cédula de grau IV do IPDJ, o último nível, e pelo menos para já não a podem tirar. Algo que surpreendeu a grande maioria, que queria assim «completar o currículo».

«Penso que toda a gente julgava que podia tirar a cédula. Agora que sei o que se passa encontro alguma lógica, mas não estávamos a par disto», explica ao Maisfutebol Emanuel Baleizão, coordenador técnico/selecionador da Associação de Futebol de Portalegre, e aluno da segunda edição do curso UEFA Pro de 2013.

Esta é uma situação nova, com que se estão a deparar as seis dezenas de treinadores dos dois cursos UEFA Pro de 2013. Recorde-se que durante quase três anos a FPF esteve impossibilitada de dar formação, dada a implementação do Programa Nacional de Formação de Treinadores (PNFT).

O IPDJ definiu então, com as federações desportivas, os métodos de formação dos cursos de treinadores. Mas «a generalidade das federações definiu referenciais de formação apenas para os três primeiros níveis», conforme explica o IPDJ ao nosso jornal.

É o caso da FPF. Foi definido um acordo com o IPDJ para os três primeiros níveis, que contemplam uma formação geral (igual para todas os desportos) e uma formação específica própria (que encaixa nos parâmetros da UEFA), para além de um estágio.

«No caso do futebol, a Federação, no âmbito deste novo programa, apenas terminou o processo de conformação com o PNFT a 11 de junho de 2013, tendo optado por apresentar referenciais de formação para os Graus I a III e manter o curso UEFA Pro tal como estipulado pela UEFA para o exercício da atividade profissional em provas organizadas por este organismo, sem qualquer ligação ao sistema nacional de formação de treinadores», sustenta a resposta do IPDJ.

Conforme explica a Federação Portuguesa de Futebol, também consultada pelo Maisfutebol, «o grau 1 corresponde ao UEFA C, o grau 2 ao UEFA B, o grau 3 ao UEFA A, restando o UEFA Pro, da exclusiva responsabilidade da FPF». O organismo fez ainda questão de esclarecer que isto «nada colide com a legislação portuguesa», conforme reiterado também pelo IPDJ.

A questão é que os mais de sessenta treinadores que tiraram o nível UEFA Pro em 2013 não têm acesso ao grau IV do IPDJ, algo que foi concedido a quem tirou antes da implementação do PNFT. «Para as pessoas não perderem direitos», explicou a FPF a alguns dos alunos recentes.

Foi dito também aos mesmos alunos, pela federação, que a IPDJ olhava para o UEFA Pro como um grau 3+. Até porque o grau IV tem um cariz diferente, mais virado para coordenação do que para treino. E se por um lado seria preciso encaixar os métodos naquilo que é a visão do Instituto do Desporto, por outro a FPF está «amarrada» aos requisitos da UEFA.

Por ser um problema novo, apanhou desprevenida a grande maioria dos técnicos. «Se existe um grau IV, as pessoas devem ter a possibilidade de o tirar. Seria uma questão de definir a formação geral e depois assumir o UEFA Pro como a formação específica», defende Emanuel Baleizão.

O coordenador técnico da AF Portalegre diz entender o problema existente, mas outros técnicos do curso de 2013, ouvidos pelo Maisfutebol e que preferiram manter o anonimato, entendem que deviam ser ressarcidos, pois contavam ter a cédula de grau IV.

Resultados da 2ª edição ainda por divulgar, mas cartões a caminho

Recorde-se que ainda que a segunda edição do curso UEFA Pro ficou marcada pela polémica com as equivalências dadas a oito treinadores que não tinham o III nível. Uma situação que chegou a gerar, de resto, algumas trocas de palavras mais «azedas» durante o curso.

A federação nunca adiantou os nomes em causa, e se alguns eram consensuais, como Marco Silva (Estoril) ou Pedro Emanuel (Arouca), outros estavam por confirmar. Ao que o Maisfutebol apurou, a lista completa-se com Pedro Correia (Leixões), Filipe Rocha (mais conhecido por Filó), Filipe Gouveia, Carlos Alves, Bruno Ribeiro e José Dominguez (agora no Real Cartagena, da Colômbia).

Certo é que, até ao momento, as notas desse curso ainda não foram divulgadas, embora a FPF já tenha comunicado o desfecho aos técnicos, em meados de janeiro.

Questionada pelo Maisfutebol, a federação garante que o atraso se deve à demora na entrega de alguns relatórios, mas o nosso jornal sabe também que a questão das equivalências esteve a ser debatida com a UEFA. Isso mesmo foi confirmado pelo organismo europeu, que no entanto remeteu mais esclarecimentos para a FPF.

A esse propósito a federação garante que está tudo em conformidade, e que em breve serão enviados os diplomas e os cartões.